quarta-feira, julho 19, 2006

Do amor recusado

O que é sentido como insuportável, no fim de uma relação, por aquele que ainda ama, é que todo o investimento feito, tudo o que escolheu perder, tudo o que sofreu em prol desse amor, não serve nem serviu para absolutamente nada.
Subitamente, toda essa vida de entrega se esvaziou de finalidade e de sentido.

Mas aceitar esta ordem nova na sua vida é, de uma certa forma, aceitar morrer.
Daqui, de não aceitar morrer, nasce a profunda revolta que dirigimos inevitavelmente contra o ser amado, o ódio contra aquele que rejeita o nosso amor, aquele para quem tudo foi lucro enquanto para nós foi perda.
Contra aquele que, no fundo nos traiu, porque com o abandono a que nos vota nos espoliou do destino de uma vida inteira.

Estamos tão intimamente convictos de que uma vida com sentido é um direito nosso inalienável! E não é.

3 comentários:

Rui Diniz Monteiro disse...

Tudo na nossa vida são areias movediças, tudo são ilusões. Mas o afecto é, para mim, a mais importante de todas. Daí que a perda de um afecto tão totalizante como é o amor apaixonado, só pode ser uma perda das mais importantes.
Obrigado, Bazuca, mas antes de nos voltarmos para o que virá, há que fazer o luto do que se dissipou. É aqui que eu estou. Por enquanto.

Anónimo disse...

Rui,
Já li o teu post umas poucas de vezes.
E consigo entender-te.
A revolta de nada serve. Mas a verdade é que, mesmo evitando-a, somos confrontados com ela. Porque ela surge nos momentos das coisas pequenas. E a vida não se limita ao que passou. Há tanto caminho pela frente. E também não vale nunca a pena o arrependimento pelo que se fez no passado. Porque o que se fez, fez-se porque se quiz fazer, fez-se porque esse era o nosso entendimento...
O bazuca tem razão. E o que está para vir pode ser infinitamente melhor do que aquilo que ficou para trás. É isso que eu espero todos os dias.
Beijo solidário

Rui Diniz Monteiro disse...

Eu sei, O'Sanji. E sei que as coisas fluem, modificam-se, destroem e criam ao mesmo tempo. Viver a dor e a revolta, não fugir delas, torna-me mais humano: isto também eu sei.
(Re)vivo com estes pequenos saberes, no dia a dia, para fazer frente à morte que me ameaça permanentemente com as suas múltiplas faces.
Obrigado. :)