sexta-feira, janeiro 23, 2009

Greve da Fome

Na reflexão do dia 13 propus como acção a desenvolver (para a qual eu e outros colegas se disponibilizaram de imediato) uma Greve da Fome. Começaria por ser faseada, quer geograficamente (por zonas), quer temporalmente (por exemplo, primeiro durante as 7 horas do período diário de trabalho, depois durante um dia, etc).

Esta acção apresenta vantagens extraordinárias:
- Os alunos não são significativamente prejudicados pois não ficam sem aulas, ou sem avaliação, e as escolas não fecham.
- O impacto emocional sobre a sociedade é extremamente forte, nem sequer precisando os níveis de adesão serem muito elevados.
- A repercussão internacional seria imensa, aumentando a visibilidade para o absurdo das propostas do Governo e para o seu autoritarismo.
- Nós, professores, não perderíamos dinheiro (ultrapassando assim uma dificuldade grande para muitos colegas).

Acredito inclusivamente que até o simples anúncio, por parte dos sindicatos, de um Greve da Fome como um modo de luta a ser seriamente considerado já teria, por si só, um efeito devastador para este Governo em ano de eleições.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Objectivos Individuais

Decidi não entregar os objectivos individuais.

Votei PS porque achei que o PSD, e todos os outros, teriam de aprender que aquele tipo de campanha que fizeram contra Sócrates é eticamente abominável. Pela mesma razão tomo agora esta atitude. O PS, e todos os outros, têm de entender que ameaças e chantagens (e subornos disfarçados) são atitudes impróprias de governantes em democracia. Assim, a minha recusa já não é apenas uma simples questão de dignidade profissional, mas passou a ser também uma questão de responsabilidade cívica perante a minha consciência e perante os meus alunos, pais e sociedade portuguesa em geral.

Os nossos governantes afirmam repetidamente que não actuam em obediência à pressão de outros, que não negoceiam, isto é, que não mudam de atitude face a chantagens. Concordo com eles. É seguindo exactamente o seu exemplo que me recuso a, sob ameaças e chantagens de variada espécie, entregar os objectivos individuais.

Não se trata aqui de fazer grandes coisas, de estar com heroísmos, trata-se de fazer simplesmente uma coisa pequena, que está perfeitamente ao meu alcance, e que faço para não corromper a fidelidade à minha consciência. E havendo muitos, as coisas pequenas, individuais, tornam-se colectivas e grandes.

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Envelhecer

"Somewhere Towards the End", de Diana Athill.

Um relato em primeira mão de como não é nada agradável envelhecer. Não li, mas sobre o livro há mais informações aqui (Michael Dirda, no Washington Post).(*)


As minhas marcas de envelhecimento.

As más:
o cansaço (físico e psicológico)
a incapacidade de recuperar ou de recuperar rapidamente
a distância que cresce em relação aos jovens (em particular, um maior retraimento face à sua violência e agressividade perante a vida)
a dificuldade de encantamento face a livros, filmes, etc
o tempo que se esvai cada vez mais rapidamente

As boas:
cada vez se tem menos a perder
capacidade de compreender cada vez mais, para condenar cada vez menos...
... mas a condenação, quando vem, mergulha no ódio e no assassínio (talvez isto não seja bom)

Outras que me lembre irei acrescentando.

Termino, citando o final do interessantíssimo artigo atrás referido:

Certainly no amount of mendacity or whining will change the facts: The end of life is hard. With luck and adequate health, you might be able to enjoy a few simple pleasures for a while longer. But that's about it. And be grateful for even the smallest of such favors. Time is not on your side. (Michael Dirda)

(*) Via GoodShit