Anteontem, quando cheguei ao centro, a dona disse-me que eu iria substituir uma professora doente. Quando ouviu isto, o Diogo (um dos "meus" pequenitos, este de 7 anos e com muitas, muitas dificuldades) levantou-se e veio abraçar-me, encostando a carita às minhas pernas.
Fez-me recordar uma outra dimensão minha como professor: o afecto profundo e duradouro que sempre suscitei nos miúdos com NEE's, sem eu nunca conseguir perceber realmente porquê.
Lembro-me do Rui, um miúdo com NEE´s muito profundas. Foi integrado nas minhas aulas de Matemática durante um ou dois anos. Depois, quando me via, parava-me e fazia sempre a mesma pergunta: "Quando é que és meu professor?". Ao que eu invariavelmente respondia: "Para o ano, Rui, para o ano." Passámos anos nisto. Depois ele saiu.
Um dia, veio visitar a escola. Estava eu no refeitório a conversar com alguém. Ali, embora afastada de mim, estava também a Sandra, a chefe do refeitório (talvez a pessoa mais amada e respeitada em toda a escola; uma excelente pessoa e uma excelente profissional, isso posso eu assegurar). O Rui vinha ao longo do corredor e viu-nos. Pára e hesita. Finalmente, decide-se: no seu andar sincopado vem direito a mim e atira-se-me ao pescoço!
Aqui fica a minha saudade desses miúdos tão especiais com quem partilhei muitos passeios, muitas aulas, muitos dias no clube da Matemática e muitos, muitos almoços em alegre convívio na cantina da escola: o Rui, claro, mas também o Pedro, a Patrícia, a Elsa, o Marco e tantos, tantos outros que eu nunca esquecerei...