sábado, janeiro 30, 2010

A Rapariga Que Roubava Livros, de Markus Zusak

Do Clube de Leitura da Biblioteca Municipal de Loulé.


A Alemanha hitleriana vivida numa pequena cidade sob o ponto de vista de uma criança alemã.

No Clube este livro gerou adesões fortíssimas, principalmente da parte daqueles que tinham cônjuges alemães, porque reconheceram nas descrições do livro muitas das coisas que eles contam que viveram.

Fala-se muito dos alemães que suportaram o regime, que foram a maioria certamente, senão Hitler não conseguiria o que conseguiu. Eu gostaria de saber de todos aqueles que resistiram, de todos aqueles que não só procuraram manter a decência em tempos selvagens mas que foram mesmo contra a corrente. Gostaria de saber as histórias destes alemães, dos que morreram a fazê-lo e dos que conseguiram sobreviver. É um pouco o que se lê neste livro.

Lembro-me de, há algumas dezenas de anos, ter lido os livros de Erich Maria Remarque (Arco do Triunfo, o que mais gostei, mas também A Oeste Nada de Novo, Tempo Para Amar Tempo Para Morrer, Uma noite em Lisboa, O Obelisco Negro, Desenraizados, O Céu Não Tem Favoritos e outros), mas ele tornou-se num refugiado, num exilado. Não, o que eu gostava de conhecer era quem lá tivesse ficado.

sábado, janeiro 16, 2010

Helder Macedo

(...) Em compensação, numa das últimas reuniões magnas em que participei no King´s College, o grave debate incidiu sobre o que fazer com as alunas muçulmanas de viseira coberta.
Expliquei que não havia problema, quando comecei a ensinar, no fim dos anos 60, as alunas usavam mini-saias que terminavam na virilha, uma coisa acaba por compensar a outra, a gente concentra-se e vai fazendo o que pode. Não acharam graça. (...)

JL, 16/12/2009

terça-feira, janeiro 12, 2010

O Grande Labirinto, de Fernando Savater

Do Clube de Leitura da Biblioteca Municipal de Loulé.


Os livros eram a paixão dos dois rapazes, porque lendo multiplicavam a sua vida e descobriam com a imaginação novos sentimentos, aventuras e calafrios. Para eles, abrir um volume era como beber um elixir mágico que os transformava em seres desconhecidos. (…) (p.16)

Esta foi a primeira frase deste livro que realmente me tocou. Pensei em todos aqueles que não gostam de ler livros e em como as suas vidas ficam mais pobres por isso.
Claro que ler não é só isto. Lembrei-me de Eduardo Prado Coelho

(que tanta falta faz: quem hoje me fala de autores pouco lidos?, quem hoje me dá notícia de tudo o que é novo, diferente e melhor no mundo da arte?, quem hoje me conta do prazer de usufruir de todas as formas e expressões de cultura?)

quando ele escrevia no Fio do Horizonte:

Digo “cultura” no sentido amplo do termo: tudo aquilo que nos torna mais inteligentes, que nos traz a alegria de sentir e compreender, que relança sentido para as nossa vidas. (Crónicas do Fio do Horizonte, p. 43)

Ler também é isto, é principalmente isto.

Mas o livro de Savater é dirigido aos jovens. Porque os adultos encontram-se esgotados:

(…) Qualquer coisa que, mais cedo ou mais tarde, seria necessário enfrentar. Com força, com coragem… mas ele sentia-se velho, cansado. Do seu passado vinham cadeias de susto que tolhiam o seu presente até à impotência. Deviam ser aqueles jovens… (p. 24)

Sim, é assim que me sinto: sem crença em ninguém, sem força para actuar com decisão, mesmo que inutilmente. Mal me resta a força necessária para dizer não à barbárie… E, no entanto, …

E, no entanto, era preciso que alguém… que alguém se atrevesse. É sempre preciso que alguém se atreva ou estamos todos perdidos. (p. 26)

Depois de eu ter esgotado toda a fé possível nos adultos e velhos, depois de ter visto até que profundidades do mal os jovens podem chegar, ler este livro foi uma lufada de ar fresco. Porque conviver com alguém que, já não acreditando que os velhos resolvam os problemas da sociedade actual, acredita que os jovens são bem capazes disso, fez-me reacender a chama da esperança neles que há muito eu tinha perdido.

Lembro-me também de Vera Mantero, no JL de 12 a 25 de Agosto de 2009:

P.: Como é que se renova o “voltar a acreditar” com a energia da juventude? Que processo é esse?
V.M.: Acho que é fazer o tal trabalho de estar perto dos outros, que também estão a pensar e a fazer uma série de outras coisas. Porque a impotência também tem a ver com a impressão de se estar sozinho. Sozinho é impossível.

[E há sempre a necessidade da mão de outra pessoa para nos salvarmos, (…) (Savater, p. 25)]

Sozinho é impossível. A impotência tem a ver com o não saber a quantidade de gente que está a trabalhar, reflectir e a tomar medidas para se pôr em acção. A partir do momento em que vês 10, 20, 30 individualidades, entidades, organizações, que fazem coisas extraordinárias, percebes que pode haver mudança. Basta pormo-nos todos em ligação, em contacto… Claro que isso dá alento e vontade de continuar. É por aí que sinto uma nova possibilidade…

E, por isso, termino com Savater que “testemunha” Jan Patočka a dizer:

(…) continuem a luta. Não deixem de informar, de explicar e de argumentar, não se cansem de combater a mentira. Há crimes que talvez não possamos evitar, mas tentemos impedir pelo menos o crime do silêncio… (p. 287)