segunda-feira, abril 25, 2011

25 de Abril

(...) Estive numa cela com Noémia Delgado e 17 camponesas, quase todas analfabetas, que lutavam por um horário de trabalho, inconformadas com a jornada de sol a sol.
Assisti ao sofrimento de mulheres sujeitas a espancamentos brutais, que mal podiam erguer-se, mas o caso que mais me impressionou foi o de uma idosa, vestida com uma saia preta furada por balas.
Era a única roupa que possuía para além da mortalha, que os filhos tinham comprado, a custo, julgando que não sobrevivesse a várias perfurações abdominais.
Tinha-a guardada debaixo da cama para quando morresse...
(Luísa Ducla Soares, JL, nº 1027, 10-23 de Fevereiro de 2010)

Recordo a tristeza cinzenta e pesada que permeava todos os nossos dias, a nossa respiração.

Recordo todos os que sofreram a perseguição, a tortura, a morte. Recordo principalmente aqueles que já nem do nome perdura a memória.

Mas sobre tudo e para além de todos, recordo os mais valorosos de entre os puros:

José Afonso



Salgueiro Maia



 O que hoje temos, a todos eles o devemos.
O que não temos, fomos nós que o estragámos, destruímos e deitámos fora...

sábado, abril 23, 2011

Jejum

Apropriadamente à época que atravessamos, surgiu um novo estudo (apresentado a 3 de Abril na sessão científica anual da American College of Cardiology, em New Orleans) que partilho aqui.

Diz ele que um jejum periódico e rotineiro é bom para a saúde e para o coração. Diminui os riscos de doença arterial coronária e de diabetes, e altera os níveis de colesterol no sangue. Também contribui para reduzir outros factores de risco cardíaco, como os triglicéridos, o peso e os níveis de açúcar no sangue.

Bom, não ponho em dúvida estes resultados.

Assim, fui experimentar fazer um jejum de umas simples 24 horas, apenas bebendo água.

Confesso com vergonha: não consegui aguentar a fome para além das 15:30 da tarde! A sensação era excruciante!

Pode parecer ingenuidade da minha parte, mas, na verdade, fiquei surpreendido. Apesar de estar a levar a minha vida normal de um dia de fim de semana (ginástica - programa 5BX -, jogging no exterior e estudo), nunca imaginei que fosse tão difícil fazer um jejum. Pode ser talvez por eu não ter uma motivação forte para o fazer, mas isso não justifica a dificuldade.

Habituamo-nos a ouvir falar da fome todos os dias e assumimos que é algo com que se lida de forma corriqueira. Pois não é nada assim. E compreendo que se cometam crimes por causa dela.

sexta-feira, abril 22, 2011

Submissão... ao dinheiro!

«Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes e disse-lhes: 'Quanto me dareis, se eu vo-lo entregar?' Eles garantiram-lhe trinta moedas de prata.» - Mt 26, 14-15

(Bíblia Sagrada, Difusora Bíblica, 2002)


Abril de 2011

Pergunta-se às pessoas: «Para receber dinheiro, é capaz de aplicar choques eléctricos dolorosos a seres humanos?»

64% responde que jamais (o que significa que, apesar de tudo, mais de um terço admite ser capaz de o fazer por dinheiro).

Oferece-se a oportunidade real de aplicar 20 electrochoques a outros seres humanos, para receber até um máximo de 1£ por cada um (dependendo do grau de intensidade com que os aplica).

96% fizeram-no. Por dinheiro.

Eu que sempre ouvi dizer que todos os homens têm um preço.
Eu que li milhares de páginas de História e de Filosofia para entender como o nazismo obteve a adesão maciça de um dos povos mais civilizados e cultos do mundo.
Eu, que fui professor e sou testemunha das mentiras causadoras de sofrimento moral que jornalistas, políticos e opinion-makers são capazes de dizer só para receberem mais um punhado de notas.
Eu que já assisti pessoalmente à mentira e ao roubo perpetrados sobre pessoas mais fracas.
Eu, confesso, fiquei chocado com estes resultados.

Exactamente 50 anos depois das experiências de Stanley Milgram (de que já aqui falei) e tudo continua na mesma?

Ou pior?... É que, na experiência de Milgram, os participantes estavam a obedecer a uma autoridade vista como responsável e legítima (alguém, que se mostrava com um cientista, dava indicações do que deveriam fazer).

Aqui, e em 2011, é por dinheiro, só por dinheiro. Humilhante...


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