sábado, abril 29, 2017

Eis uma palestra para quem se interessa por emoções, neurociências e… animais! Proferida por Jaak Panksepp, talvez o mais famoso neurocientista estudioso das emoções, infelizmente falecido apenas há uns dias.



Uma nota curiosa. Logo no início, ao minuto 0:29, Panksepp diz que «science doesn’t answer why questions, science answers how questions”.

Vergílio Ferreira, em 1969, no seu Conta-Corrente 1 (p. 27 na edição de 1981), comenta antecipadamente esta afirmação da seguinte maneira:

«A “psicologia”. Não me desagrada ler um livro (romance) em que a análise revela o “como” se é. E todavia, para meu uso, não me interessa. Estes psicólogos esquecem o que está antes (ou depois) da psicologia e é infinitamente mais importante. Que significa o estarmos no mundo? Em que assentar um comportamento? Qual a significação das nossas “ideias” (políticas, etc.)? (…) Antes de saber “como” sou, é-me muito mais perturbador querer saber “o que” sou. E “para quê”. (…)».

Esta é uma sua opinião pessoal, adstrita à literatura (embora haja indicações noutros lados de que ela também abrange a Psicologia como ciência) sem pretensões de generalização. Mas interroguemo-nos: poderá Vergílio Ferreira ter razão? Será que a Psicologia está a esquecer o que é «infinitamente mais importante»?

As dificuldades que as diferentes psicoterapias têm encontrado (e que levam ao surgimento ininterrupto e contínuo de novas propostas terapêuticas) poderiam apontar para uma resposta positiva: algo de fundamental pode andar ausente da psicoterapia e da psiquiatria. No entanto, a psicoterapia existencialista (cujo representante mais conhecido do grande público, por via da literatura, é Irvin D. Yalom) há muito que procura ir ao encontro desta necessidade, referida por Vergílio Ferreira, de algo mais importante. Porém, o seu sucesso terapêutico não tem sido nem absoluto nem definitivo.

Curiosamente, algumas das denominadas psicoterapias de 3ª geração integram no desenvolvimento do seu processo terapêutico elementos que sempre andaram mais ou menos ausentes anteriormente. Por exemplo, a terapia da aceitação e do compromisso (“ACT”, cujo livro fundador é de 1999) ajuda os pacientes a trabalhar a busca e a definição dos seus próprios valores (“o que” a pessoa é e o “para quê”). Ou seja, aqueles princípios essenciais que orientam esses pacientes no sentido de uma vida realmente bem vivida.