domingo, janeiro 30, 2005

O pior inimigo

Quando somos inimigos de nós mesmos ninguém no mundo nos pode salvar, nem sequer defender.

Amor correspondido

Queremos que o nosso amor seja correspondido da mesma forma como amamos.
Quereremos mesmo?
1º Porque uma das coisas que mantém o amor vivo é a descoberta do outro diferente, bem como a surpresa face aos modos que ele encontra de nos amar.
2º Quando amo, desejo, e não me desejo a mim mas o outro; logo, poderei amar alguém que ame como eu?
3º Eu sei lá realmente como é que amo! Sei (mais ou menos) como desejaria ser amado. A verdade é que às vezes nem sei se amo muito ou pouco, isto é, em simples quantidade, quanto mais em qualidade!

Gripe

Gripe = plenitude de estar vulnerável (comigo mesmo) sem sentimentos de culpa ou de medo.

O amor nunca é simples

Quando me apaixono nunca sei se me estou a apaixonar pela mulher ou pelo que nela ilumina o melhor de mim.
A dúvida: o meu amor por ela será mais do que um sentimento agradecido pela sua dádiva de um eu mais alto?

("Talvez não se ame uma mulher ou um homem, mas o amor neles.", João Bonifácio, Mil Folhas, Público, 29/1/05)

sábado, janeiro 29, 2005

Estou contente

Estou contente de estar sozinho. Não telefono, não marco encontros, não aprofundo contactos humanos e sinto-me leve e satisfeito.
A verdade é que aproveito o impulso natural das pessoas nas relações pouco profundas para mostrarem apenas o melhor de si próprias.
Evito assim que a fealdade do mundo se sobreponha à beleza da vida (ninguém adquire o poder de estragar o meu olhar).

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Humor na sala de aula

Quando os alunos me perguntam coisas da matéria ou dos exercícios eu procuro não lhes dar a resposta directa a fim de que eles pensem e possam lá chegar por eles próprios. Assim aconteceu com a Carolina (nomes fictícios). E diz ela:"Oh meu Deus, então como vou fazer isto?" Intervém o Estevão: "Caramba Carolina, não é preciso exagerar, afinal ele é só um professor!"

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Non Ti Muovere

Porquê a crueldade dos homens a fazer sofrer as mulheres?
Porque são eles incapazes de amarem?
Ou ainda porque é que acabam a amarem-se a si próprios através delas?
Para estas e outras interrogações (comovidas), mas sem respostas, "Não Te Movas" de Sergio Castellito.

domingo, janeiro 23, 2005

As mulheres

As mulheres
que não nos telefonam, que não nos olham, que não nos respondem, que não nos escrevem,
que não se voltam, que não se sorriem, que não se despem, que não se entregam,
que não nos reclamam,
que não nos consideram

O que é a beleza?

Em toda a minha vida (47 anos) apenas uma mulher olhou e disse:"Como és belo!"
Passado este tempo todo, continuo a não conseguir fazer a mais pequena ideia do que ela viu.
Como posso dizer o que é a beleza?
Só esquecendo e esquecendo muito...

Na Costa, no silêncio

No silêncio quebrado pela dança, com o mar a adormecer encostado ao céu, nuvens em todos os horizontes, sei do carinho líquido das mulheres. São como vozes na noite a acariciarem sons perdidos na memória longínqua da extrema infância. O seu olhar adormece sem sonhos na superfície fria da pele. Magoado.

sábado, janeiro 22, 2005

Recomeço

O gato olha para a água e parece-lhe estar a escaldar.
Eu olho e continuo a ver a muralha.
Tenho de aprender a ser homem outra vez.

Deixo-me levar pela Costa

o mar desce até mim, os surfistas desenham a alegria na espuma. mulheres ao sol e a esperança sorri com um olhar líquido. os meus passos sem ruído. homens derrotados esvaem-se na direcção do horizonte. o vento, memória sem calor. eu estou do lado de lá. e venho-me embora.

domingo, janeiro 16, 2005

Procura de um par

Desejamos tanto alguém que seja o nosso par na vida!
É o filho quem está mais próximo de representar a concretização dessa companhia envolvente.
Sonhamos sozinhos.
E o nosso coração é bruma líquida nas horas mais silenciosas da noite.

quinta-feira, janeiro 13, 2005

A luz no amor

Penso que o desejo de me apaixonar vem de uma íntima e invencível vontade de me refazer, de me iniciar de novo; e a mulher por quem me apaixono representa a esperança visível e concreta, não de voltar ao, mas de poder partir do princípio de todas as coisas.
É um sonho, uma impossibilidade e, assim, todas as minhas paixões falham miseravelmente.
Sabendo isso eu então apaixono-me, não para ir atrás dessa vã promessa, mas para me aproximar de um objectivo mais humilde: encontrar-me e tornar-me inteiro naquilo que sou (eu, que estou sempre tao vaziamente fora de mim mesmo) por via do afecto da mulher que amo, bem como proporcionar-lhe a possibilidade do mesmo processo.

domingo, janeiro 09, 2005

Lost in Translation

Numa tarde mergulhada no frio, naveguei pelos rostos de Bill Murray e de Scarlett Johansson, e pela história de um amor sussurrado entre duas solidões, entre dois corpos que se tocam numa paz mutuamente procurada.

A TV como um não-lugar para quase-pessoas

É estranho: a TV não só embrutece os que estão do lado de fora como os que estão lá "dentro".
É curioso como pessoas pouco convencionais na arte, ao falarem na TV, estão sempre a resvalar para o lugar-comum. Como se elas se sentissem obrigadas, por estarem num meio de comunicação para o grande público, a serem porta-vozes dos indivíduos de inteligência e saber não mais que comuns.

Que paisagens interiores atravessa a solidão?

Hoje venho inquirir a solidão.

Começo por um facto simples: porque é que uns dias a solidão pesa angústias nos meus ombros, na minhas vísceras, nos meus pensamentos? E noutros é de uma leveza tal que só dou por existir o tempo do mesmo modo que sei que existe a água quando bóio preguiçosamente no mar?

Estou só, mas há rostos que povoam a minha imaginação, rostos de mulheres sobretudo, estes invocados em parte pelo afecto, tecidos em parte pelo desejo. Porque é que às vezes a solidão é acentuada por essas imagens e outras vezes a alma se expande com elas?

Tenho a TV e a aparelhagem desligadas, estou mergulhado num silêncio forrado pelos carros que passam na rua. Porqe é que o silêncio me faz deslizar por entre as palavras sem me magoar, mas também acontece esvaziar-me de palavras e de sentido?

Suspeito que há duas respostas simples: o acaso e o funcionamento interno do corpo.

Que consequências tiro destas duas respostas? A 1ª é: cuidar do corpo, mas sem obsessão. A 2ª é: garantir um espaço interior capaz de aceitar com humor os desmandos do destino.

quarta-feira, janeiro 05, 2005