terça-feira, novembro 18, 2008

Liam Clancy



It's not the leaving that's grieving me, but my true love who's bound to stay behind. (Bob Dylan)

domingo, novembro 16, 2008

Nós

A Amada é bela e profundamente única. Com o seu sorriso apenas põe-me a brilhar todo por dentro. E bebo nela a realização plena de todos os meus afectos.

Esta tem de ser a relação perfeita. Por isso não coloco a Amada num pedestal. Não há-de ser para mim a desilusão de descobrir na Amada o barro: eu já amo esse barro.

Aliás, como de certa forma exprimi atrás, não preciso da sua grandeza, quer a real quer a imaginada, para eu poder brilhar. Preciso de alguém que me acompanhe e a quem eu possa acompanhar. Alguém a quem olhar de igual para igual numa outra grandeza, esta agora compartilhada: a do nosso Amor.

É assim que quero continuar a viver a história deste encontro pleno e improvável.

terça-feira, novembro 04, 2008

Haiku


Uma gota de orvalho
A vida Uma gota de orvalho
E contudo...

(Primeira Neve, Issa Kobayashi, versões de Jorge Sousa Braga, Assírio & Alvim)

segunda-feira, outubro 20, 2008

A violência dos homens

"Crimes contra mulheres cada vez mais violentos.
(...)
Este ano houve 32 homicídios e 35 tentativas falhadas (...) mais onze casos do que os verificados ao longo de todo o ano de 2007.
"


Também sabemos que "Um em cada quatro jovens é vítima de violência no namoro".


E sobre as crianças então o número atinge valores inimagináveis. E não nos esqueçamos dos idosos.


Eis um retrato verdadeiramente assustador do Portugal de hoje, um retrato do qual me envergonho em absoluto. No qual a minha pena pelas vítimas sobreleva tudo. E a impotência.


Só me pergunto: se não for por mais nada (compaixão, por exemplo), onde estão a honra e a dignidade pessoal que levam a que um homem não se aproveite da sua força para violentar os mais fracos? Eu não percebo isto.

domingo, outubro 12, 2008

Anedota?

He said to her... Why are married women heavier than single women?
She said to him... Single women come home, see what's in the fridge and go to bed. Married women come home, see what's in bed and go to the fridge.

Isto é suposto ser uma piada. Ainda por cima tirei-a de um daqueles sites de pensamento positivo.

Mas acho-a tão fria e tão triste que aflige.

Admirável Mundo Novo

Imaginemos uma pessoa, QUALQUER PESSOA, que às 8 e pouco da manhã tem de estar sentada numa desconfortável cadeira de pau durante hora e meia, ao frio ou ao calor excessivos, sem poder falar nem se mexer à vontade.
Depois levanta-se durante 20 minutos, para voltar a estar sentada mais hora e meia nas mesmas condições anteriores.
Interrupção de 10 minutos, e volta ao mesmo.
Entretanto é uma e tal da tarde e tem hora e meia para, cheia de fome, estar numa fila a fim de comer o seu almoço (às vezes a correr... e sempre na mesma cadeira de pau).
Às 3 e pouco volta a ter de sentar por mais hora e meia nas mesmas condições da manhã.
Os alunos do turno da tarde têm isto ao contrário, mas até às 6 e meia ou 7 da tarde.

Pergunto: quem aguenta?
Posso responder por mim: eu não aguento.
No entanto, é isto a que obrigamos diariamente miúdos e miúdas de pouco mais de 10 anos, exigindo ao mesmo tempo que estejam sempre calmos, atentos e que trabalhem empenhadamente!
Mas ninguém vê que isto é um monstruoso absurdo!?

Alguém consegue manter-se calmo horas seguidas numa cadeira de pau, dia após dia, durante uma semana inteira? Obviamente que a resposta a esta pergunta é não.

Então qual é a solução que a nossa sociedade está a encontrar para este absurdo?
Não, não é diminuir estas horas intermináveis em condições desumanas.
É drogá-los.
Sim, DROGÁ-LOS!

De ano para ano são cada vez mais alunos (a maioria são rapazes) a serem medicados com Ritalina (alguns efeitos secundários: perda de apetite, irritabilidade, depressão, dificuldade em dormir, dores de cabeça, ou mesmo morte), a fim de poderem estar parados e calmos nas salas de aula!
Porque "sofrem de hiperactividade", expressão aberrante da nossa modernidade! Como se naquelas condições fosse possível ser-se outra coisa saudável que não hiperactivo!

Já se chama a esta geração a Geração Ritalina.
É esta a parte mais vergonhosa da herança que deixamos para o futuro: drogar crianças...

quarta-feira, outubro 08, 2008

Um sorriso gelado

Hoje, nas minhas aulas, alunos gritaram, disseram palavrões, intimidaram e bateram noutros alunos com um sorriso nos lábios ou não, roubaram (canetas, lápis e cadeados dos armários da sala) e desobedeceram-me (verbalizando essa desobediência, olhos nos olhos).

Quando duas pessoas se encontram, mesmo quando não se conhecem, surgem pontes através das expressões faciais e corporais. Não consigo encontrar essas pontes em muitos destes adolescentes. Uns poucos inspiram-me mesmo um profundo terror.

Ontem estava no refeitório sentado a comer com o I., um rapaz maior que eu mas deficiente, que veio da Geórgia, e sinto-o a encostar-se a mim a tremer. À frente, um pouco descaído para a direita tinha-se sentado o D. (aluno famoso na escola pelos piores motivos) que o olhava friamente. "Tu não me vais fazer mal, pois não? Não me vais fazer mal?", dizia o I. com o pânico na voz. Olhei para o D. que se limitava a fixar o I. com um sorriso gelado. E eu, professor, sim, senti um medo pavoroso.

Para não perder a esperança e todo o sentido do que faço, procuro encarar estes jovens não pelo que eles são mas, nos casos mais favoráveis, pelo que eles poderão vir a ser (no que, de ano para ano, tenho apesar de tudo cada vez mais dificuldade, por já pouco conseguir ver). Nos outros casos procuro vê-los como eles quereriam ter sido se lhes tivesse sido dada uma oportunidade para isso: com professores a poderem ser honestos para com eles, isto é, a fazerem-lhes ver que eles podiam conseguir muito mais e muito melhor... em vez disso mostra-se sempre o quão baixas são as expectativas em relação a eles ao não lhes ser permitido aguentar com as consequências do que fazem.
Não consigo imaginar como se sentirá alguém sabendo que aquilo que faz vale tão pouco que, faça o que fizer, nunca terá consequências significativas, apenas receberá uma inútil compreensão que disfarça o mais profundo dos desprezos pela sua pessoa.

segunda-feira, outubro 06, 2008

Amnistia Internacional


Porque é que contribuo para esta organização?
Porque, ao contrário da maioria das outras organizações, ela apoia e combate, não por vítimas inocentes (que também precisam de defesa, não o nego), mas por lutadores que assumiram o seu destino com um máximo de responsabilidade e que tiveram a ousadia de dizer não à injustiça e à prepotência assassinas.

domingo, outubro 05, 2008

Avaliação de professores

Nunca me canso de o dizer: sou contra a avaliação de professores.
Sou há muito tempo por uma avaliação das escolas (a funcionar com uma verdadeira autonomia) a partir de contratos feitos entre escola e hierarquia, mas não dos professores tomados individualmente (a menos que haja um desempenho claramente negativo e prejudicial para a escola, caso em que esta solicita uma avaliação externa para esse professor).

Conheci um gestor que dizia: "Se eu sou avaliado, os professores também têm de o ser." Dizia também que a pressão que o seu superior exercia sobre ele levava a que, cada vez menos, ele e os outros trabalhadores levassem em conta o bem estar dos clientes. Superior esse que o ameaçava sempre com uma avaliação negativa se ele não se deixasse de escrúpulos de consciência.
Perguntei-lhe se era isso que ele desejava para os seus filhos ao defender a mesma avaliação para os professores.
Aproveitei e ocorreu-me também perguntar-lhe se ele achava que era melhor para a criança que os pais colaborassem um com o outro, ou se era melhor para ela que os pais estivessem em competição entre si. Tratando-se de educação, tem lógica que com os professores seja diferente?

Ainda não começou em força este processo de avaliação e já noto duas perdas para uma boa educação dos nossos alunos.
Por um lado acabou a partilha. Não, não falo de partilhar materiais e saberes (sim, essa também vai desaparecer), mas de partilhar dúvidas, erros e ignorâncias. Todos sabem que isso se tornou num terreno minado.

Mas o pior de tudo é que, pelas conversas entre professores já deu para perceber que a antiga preocupação com as crianças e com os jovens foi totalmente substituída pela preocupação com a carreira e com a imensidade de coisas que a podem pôr em risco. Por outras palavras, os professores estão a ficar-se nas tintas para os alunos.

Continuarei a observar o alastramento do desastre.

sábado, outubro 04, 2008

Uma semana difícil

A minha direcção de turma tem 10 alunos que vieram do 6º ano com 4's e 5's; 10 com 3’s; e 7 alunos desobedientes, malcriados e agressivos que não deixam os professores dar as suas aulas nem deixam os outros aprender.

Os professores estão desvairados, os 20 bem comportados estão desvairados e os pais de todos eles estão desvairados.

Eu penso assim:

Os meus colegas dos anos anteriores e da outra escola (um dos 7 foi expulso e veio cá calhar) tentaram o habitual: confronto verbal, faltas disciplinares, queixas aos pais (por escrito, por telefone e pessoalmente), suspensões e, num caso, até a expulsão. Sem sucesso.

Eu não sou melhor que eles nem tenho mais sorte seguramente. Portanto, parece-me inútil continuar a insistir nas mesmas estratégias que já revelaram ser um fracasso.

Então experimente-se algo de diferente: conversar, ouvir muito, fazer pequenos contratos, ter paciência e compreensão com as vezes em que eles não vão conseguir cumprir, evitar as queixas aos respectivos pais (a maior parte deles, se não todos, bate-lhes, que eu conheço bem os sinais).

Tentei explicar isto aos meus colegas. Não compreenderam, nem aceitaram. São veteranos com grande peso na escola e peso político fora dela. E foram à direcção queixar-se de mim, acusando-me de negligente. Expliquei-me. Acho que a direcção percebeu. Mas disseram-me: se continuas nessa via, como tens os professores contra ti, os teus esforços vão ser sabotados; ou então fazes simplesmente o que eles querem (subentendo-se: nós também).

Se não fosse este sistema de avaliação de professores, eu ia à luta,como já fui no passado... bom, e a verdade é que fui posto na “prateleira”. Mas agora podem fazer-me muito mais mal. Portanto, não tive alternativa.

Resultado?

Umas tantas tareias em casa, primeiro. Depois, o ambiente nas aulas (incluindo nas de Educação Física), na sala de estudo (para onde vão quando são mandados sair da aula) e no pátio, passou de mau a infernal... e eu perdi o pouco controle e respeito que estava a começar conseguir ganhar sobre aqueles alunos.

domingo, setembro 28, 2008

Sonata de Outono, Ingmar Bergman

Estive a ver Sonata de Outono, para mim o filme de Bergman de que mais gostei até agora, juntamente com Monika e o Desejo.
Em ambos aparece um olhar que nunca mais nos larga até ao fim da vida, o de Liv Ullmann no primeiro:

e o de Harriet Andersson no segundo:

A propósito da personagem Eva, interpretada precisamente por Liv Ullmann, apercebi-me de uma tragédia terrível:

Sempre que alguém não sabe a pessoa, o ser que é realmente, jamais conseguirá descobrir quando e que está a ser realmente amado.

Governo quer...

... 100% de aprovações no 9º ano!

Depois de ter conseguido tudo o que queria até ao momento, perante uma opinião publicada e pública amorfas e cúmplices, a ministra pode dar-se ao luxo de pedir o incrível: porque hão-de agora os portugueses recusar-lho?

quinta-feira, setembro 25, 2008

A Velhice... End Of The Line (Traveling Wilburys)

Este é um assunto que me interessa cada vez mais, quanto o tempo que me resta é cada vez menos.

Seleccionei estas citações das que se encontram no "Brain Candy Quotations". Escolhi-as por me serem verdadeiras e por apontarem para muitas direcções... no fundo, "old age is always an unfinished business" (e esta citação é minha)!

Old age is no place for sissies. (Bette Davis)

Perhaps being old is having lighted rooms inside your head, and people in them, acting. People you know, yet can't quite name. (Philip Larkin)

At age fifty, every man has the face he deserves. (George Orwell)

We do not count a man's years until he has nothing else to count. (Ralph Waldo Emerson)

Nobody grows old merely by living a number of years. We grow old by deserting out ideals. Years may wrinkle the skin, but to give up enthusiasm wrinkles the soul. (Samuel Ullman)

Age is a question of mind over matter. If you don’t mind, it doesn’t matter. (Satchel Paige)

How old would you be if you didn't know how old you was? (Satchel Paige)

Like our shadows,
Our wishes lengthen as our sun declines.
(Edward Young “Night Thoughts”)


E agora, a música com Bob Dylan, George Harrison, Roy Orbison, Tom Petty e Jeff Lynne, ou seja, The Traveling Wilburys!



...
Well it's all right, riding around in the breeze
Well it's all right, if you live the life you please
Well it's all right, even if the sun dont shine
Well it's all right, we're going to the end of the line!

quarta-feira, setembro 24, 2008

Viver...

... mais anos!
É um método que funciona em termos de bem estar, pelo menos, posso confirmá-lo. Aliás, não é por acaso que todas as religiões prescrevem jejuns.

A questão, porém, é outra. Para que me serve a mim adiar a morte uns anos, estando deitado, sem me conseguir mexer, sem já nem sequer reconhecer ninguém, ou seja, estando cerebralmente morto (caso que conheço pessoalmente)? Aqui é que era desejável termos mais respostas.

Entretanto, à falta de melhor, aqui ficam 120 maneiras de desenvolver a capacidade do cérebro, com links muito interessantes!

segunda-feira, setembro 22, 2008

As probabilidades do amor

Alan Brogan e Irene Kinnair, depois de conviverem alguns meses no mesmo orfanato, estiveram separados 45 anos, mas conseguiram encontrar-se de novo e casaram-se. Confesso: histórias assim comovem-me mesmo.
Para todos os que não acreditam que estas coisas lhes possam acontecer, pelo menos...

Don't Be Shy!



Cat Stevens

Don't be shy just let your feelings roll on by
Don't wear fear or nobody will know you're there
Just lift your head, and let your feelings out instead
And don't be shy, just let your feeling roll on by
On by

You know love is better than a song
Love is where all of us belong
So don't be shy just let your feelings roll on by
Don't wear fear or nobody will know you're there
You're there

Don't be shy just let your feelings roll on by
Don't wear fear or nobody will know you're there
Just lift your head, and let your feelings out instead
And don't be shy, just let your feeling roll on by

Racismo (e as eleições americanas)

Seremos todos racistas? Eu acho que sim. Eu pensava que não. No tempo em que trabalhava em Lisboa e andava de metro reparei, um dia, que quando entrava um grupo de jovens negros eu ficava muito mais tenso do que se entrasse um grupo de jovens brancos. Sem razão concreta absolutamente nenhuma. Perdi um bom bocado da minha inocência aí.

Nos Estados Unidos, uma sondagem recente apresenta valores preocupantes de racismo. Que irão aliás condicionar, não tenho dúvidas nenhumas, os resultados eleitorais. Por uma simples razão: mesmo aqueles que dizem que não deixam que assuntos de cor da pele influenciem a sua decisão, na hora de votar, no anonimato da cabine, muitos irão votar em McCain porque Obama é "negro" (que em rigor, aliás, não é).

Tantas vezes que me pergunto de onde surge esta força maléfica que leva à distância, ao desprezo, ao ódio! Se houvesse só racismo dos brancos contra os pretos, eu avançaria com a explicação de que, possivelmente, na base estaria a cor negra que, na nossa cultura, associamos ao Mal e à Morte. Mas o racismo também existe no sentido contrário, embora menos, pelo menos nos EUA, como se concluiu da dita sondagem (por exemplo: "One in five whites [20%] have felt admiration for blacks "very" or "extremely" often. Seventy percent of blacks have felt the same about whites.")

Já sabemos que o conceito de raça não tem qualquer base científica consistente. E, do ponto de vista da realidade, é igualmente absurdo: o que é exactamente um "negro" ou um "branco"? Veja-se isto que me aconteceu:
X para mim é negra. X dizia-me no outro dia: "Não gosto nada do noivo da minha filha, mas o pior de tudo é que ele é negro, é mesmo preto!" E eu fiquei a olhar para ela, de boca aberta, estupefacto!

sábado, setembro 20, 2008

Um outro Paradoxo da Omnipotência

O mais conhecido é o "paradoxo da pedra".
Que, diga-se de passagem, nunca achei muito sério, pois confunde-se com um simples jogo de palavras (do género "O que acontece ao meu punho quando abro a mão?").

Mas este, que passo a expor, da autoria de J. L. Mackie, é irremediavelmente sério:

"Deus é omnipotente."
"Deus é infinitamente bom."
"O mal existe."

Três afirmações que nenhum crente razoável pode considerar falsas, penso eu.
O problema é que as três, simultaneamente, não podem ser verdadeiras.
Se Deus é omnipotente e infinitamente bom, então o mal não pode existir.
Se Deus é omnipotente e o mal existe, então Deus não é infinitamente bom.
Se Deus é infinitamente bom e o mal existe, então Deus não é omnipotente.

Considero este paradoxo dramaticamente sério porque está na base intelectual do meu ateísmo: um deus que permite que crianças sejam abusadas, feridas e mortas das formas mais cruéis, mesmo que exista, é um deus que não me interessa para nada. Na verdade, prefiro fazer a justiça de pensar que tal ser não existe.


(Uma discussão deste paradoxo vem referida na Introdução, de António de Araújo e de Miguel Nogueira de Brito, ao livro Eichmann em Jerusalém, de Hannah Arendt, p.33 e seg.)

sexta-feira, setembro 19, 2008

Eichmann em Jerusalém, ...



... Uma reportagem sobre a banalidade do mal.


Este polémico livro trata do julgamento no qual a acusação tentou mostrar Eichmann como sendo um monstro desumano e sádico. Tese com a qual Hannah Arendt, autora do livro, se mostrou em completo desacordo: para ela, Eichmann foi um pouco inteligente burocrata nazi, apenas preocupado com o cumprimento das regras e das leis, que simplesmente realizou o trabalho que lhe deram para fazer.


Eis o que diz Stanley Milgram, em Obedience to Authority:

Depois de assistir a centenas de pessoas comuns a submeterem-se à autoridade nas nossas próprias experiências, tenho de concluir que a concepção de banalidade do mal de Hannah Arendt está muito mais próxima da verdade do que nos atreveríamos a imaginar. (p. 7)


As palavras de H. Arendt:

Tenho hoje, com efeito, a opinião de que o mal nunca é "radical", que ele é apenas extremo e de que não possui nem profundidade, nem qualquer dimensão demoníaca. Ele pode invadir tudo e assolar o mundo inteiro precisamente porque se espalha como um fungo. Ele "desafia o pensamento", como disse, porque o pensamento tenta alcançar a profundidade, ir à raiz das coisas, e no momento em que se ocupa do mal sai frustrado porque nada encontra. Nisto consiste a sua "banalidade". (p. 25)

quarta-feira, setembro 17, 2008

O dilema dos adolescentes com dificuldades de aprendizagem

Quantas vezes nós, professores, nos irritamos com os alunos que, tendo dificuldades, não se esforçam absolutamente nada para as superar!
Porém, esses alunos vivem um dilema terrível.
Se se esforçam, e como naturalmente não conseguem grandes resultados, sentem que aparecem aos olhos dos colegas e amigos como burros e "mongos".
Se não se esforçam, não falham. E sentem que, aos olhos dos seus pares, até podem aparecer como fixes.

Repare-se que esta última opção tem duas vantagens irresistíveis:
Primeira, não tenho de concluir que sou burro, sou eu que escolho não estudar.
Segunda, não passo vergonhas aos olhos dos outros; pelo contrário, até posso ganhar prestígio aos olhos dos meus colegas, se souber gerir bem a minha oposição ao professor.
É muito, muito tentadora esta última opção.

segunda-feira, setembro 15, 2008

Quando os deuses querem castigar-nos, respondem às nossas orações (*)

Mas eu não acredito em deuses nenhuns, nem em orações nenhumas.
Que castigo me estará reservado?
Sim, eu sei, a solidão - tanto na vida como na morte.
Mas, a estar sozinho (e não estamos todos?), prefiro estar só a estar acompanhado.
Castigo bem singular este.


(*) (...) that when the gods wish to punish us, they answer our prayers é uma frase de Oscar Wilde, da peça Um Marido Ideal (2ºActo), e que Ana Teresa Pereira usa no seu último livro, belísssimo como sempre, O Fim de Lizzie.

domingo, setembro 14, 2008

Caros colegas...

... para a aventura!
Um bom ano, o mais centrado possível nos alunos (que são a verdadeira razão de ser do nosso empenho e realização).
Para isso, proponho o seguinte lema:

People don't care how much you know
until they know how much you care.


(As pessoas não se importam com o que sabes
até saberem o quanto tu te importas com elas)

sexta-feira, setembro 12, 2008

Oh! je voudrais tant que tu te souviennes

La Chanson de Prévert, Serge Gainsbourg



Oh! je voudrais tant que tu te souviennes
Cette chanson était la tienne
C'était ta préférée
Je crois
Qu'elle est de Prévert et Kosma

Et chaque fois les feuilles mortes
Te rappellent à mon souvenir
Jour après jour
Les amours mortes
N'en finissent pas de mourir

Avec d'autres bien sûr je m'abandonne
Mais leur chanson est monotone
Et peu à peu je m' indiffère
A cela il n'est rien
A faire

Car chaque fois les feuilles mortes
Te rappellent à mon souvenir
Jour après jour
Les amours mortes
N'en finissent pas de mourir

Peut-on jamais savoir par où commence
Et quand finit l'indifférence
Passe l'automne vienne
L'hiver
Et que la chanson de Prévert

Cette chanson
Les Feuilles Mortes
S'efface de mon souvenir
Et ce jour là
Mes amours mortes
En auront fini de mourir

Et ce jour là
Mes amours mortes
En auront fini de mourir


Les Feuilles Mortes, Yves Montand




paroles: Jacques Prévert
musique: Joseph Kosma


Oh! je voudrais tant que tu te souviennes
Des jours heureux où nous étions amis
En ce temps-là la vie était plus belle,
Et le soleil plus brûlant qu'aujourd'hui
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle
Tu vois, je n'ai pas oublié...
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle,
Les souvenirs et les regrets aussi
Et le vent du nord les emporte
Dans la nuit froide de l'oubli.
Tu vois, je n'ai pas oublié
La chanson que tu me chantais.

C'est une chanson qui nous ressemble
Toi, tu m'aimais et je t'aimais
Et nous vivions tous les deux ensemble
Toi qui m'aimais, moi qui t'aimais
Mais la vie sépare ceux qui s'aiment
Tout doucement, sans faire de bruit
Et la mer efface sur le sable
Les pas des amants désunis.

Les feuilles mortes se ramassent à la pelle,
Les souvenirs et les regrets aussi
Mais mon amour silencieux et fidèle
Sourit toujours et remercie la vie
Je t'aimais tant, tu étais si jolie,
Comment veux-tu que je t'oublie?
En ce temps-là, la vie était plus belle
Et le soleil plus brûlant qu'aujourd'hui
Tu étais ma plus douce amie
Mais je n'ai que faire des regrets
Et la chanson que tu chantais
Toujours, toujours je l'entendrai!

quinta-feira, setembro 11, 2008

Adenda ao post anterior

Eu acrescentaria a técnica da paráfrase:
"O que estás a dizer é que..." e reformulo por outras palavras o que o outro disse.
E tenho duas hipóteses:
a) Ou vou para a guerra, reformulando de maneira a expor as fraquezas e os erros de raciocínio do outro, o que será talvez adequado apenas nas situações em que ele/ela usou de um nível muito elevado de agressividade e há que travar de imediato o processo;
b) ou sou simpático e reformulo do modo mais favorável ao meu ponto de vista, levando o outro a mudar a sua opinião sem perder a face. Parece-me ser esta a linha a priviligiar.

quarta-feira, setembro 10, 2008

Como desarmar a agressividade verbal

Soube hoje nas reuniões que vou ter alunos de 7º terrivelmente malcriados para com os professores e os empregados. Fiz uma busca na net e encontrei isto que me pareceu interessante e útil:

How Verbal Self-Defense Works, por Suzette Haden Elgin.

terça-feira, setembro 09, 2008

Good Charlotte, Break Apart Her Heart

(...)
The only way you're gonna keep somebody around
Well I'm about to let you know

There's something I don't wanna understand
The only way a woman is gonna want a man
The only way you'll ever keep her in your hands
Is breaking apart her heart
Don't tell her she is the reason that you live
Don't give her everything that you got to give
If you want to keep the girl for as long as you live
Just break it apart her heart

(...)
There's truth about this, you say you want to be noticed
Well if you want to be noticed you gotta learn to break some hearts
Don't try to understand

(...)
I don't understand this cruelty
I don't understand... its just not me
I don't understand this cruelty
But now I see



segunda-feira, setembro 08, 2008

Change before you have to (Jack Welch)

O meu início de ano foi bom.
Tive boas e más novidades, mas a verdade é que a estas últimas não dou muita atenção.
Ao contrário dos meus colegas que, assustados, estão a ter bastantes dificuldades a adaptarem-se a esta nova dinâmica.
É que tenho vindo a fazer modificações no meu trabalho que tornam agora mais fácil eu adaptar-me: não dou faltas (portanto nunca me causou problemas a redução do nº de dias de faltas permitidas); nunca quis dia "livre" (logo trabalho a semana toda, aliás, muito mais descansadamente que os meus colegas com o tal dia); tirava as faltas dos alunos dia sim dia não, e avisava logo os pais; passei a trabalhar sempre na escola e nunca em casa (assim, habituei-me a fazer o meu horário de 7 horas diárias na escola)(esta mudança lembro-me de quando a fiz: desde que esta pobre ministra disse estupidamente que os professores portugueses eram os que passavam menos tempo na escola!); etc.
Quando, no outro dia, encontrei a citação acima foi encontrar em palavras aquilo que faço desde há alguns anos.
É um bom conselho.


Adenda: Também na minha escola se assiste a uma profunda "sangria" de profissionais interessados, competentes, duros trabalhadores e muito experientes: falo de professores, sim, mas também de funcionários de secretaria e de auxiliares de acção educativa. É uma coisa triste de se ver.

Ao mesmo tempo estou com curiosidade.
Porque, a História demonstra-o, a contestação nasce sempre nas camadas mais jovens, nunca entre os velhos.
Ora, são os mais velhos precisamente que estão a sair para dar entrada a malta nova.
Mesmo tendo o ME pensado em guardar os lugares de chefia e de avaliador para os mais velhos (medida que nunca deixou de me espantar que Cavaco Silva, um pretenso economista, assinasse de cruz - imagine-se empresas em que a idade fosse a principal condição para aceder a uma chefia!) a fim de exercer controlo sobre os mais novos, estou com curiosidade em saber do que é que estes serão capazes...

domingo, setembro 07, 2008

Resistir à autoridade injusta

O livro: Milgram, S. Obedience To Authority. London: Pinter & Martin Ltd, 2005.

Excertos, (1), (2), (3), (4) e (5) do 1º capítulo, “The Dilemma of Obedience”.


Fundamental a sua leitura numa época em que é cada vez mais tentador encher o nosso tempo livre com distracções, em que cada vez mais nos vemos obrigados a gastar esse tempo com mais horas de trabalho ou de formação profissional, isto tudo em vez de parar para reflectir. Simplesmente isto, reflectir. Lendo este livro, nem sequer se perde tempo à procura de modos de reflexão – cada capítulo é um desafio duro às nossas crenças e auto-ilusões.

Proponho aqui um exercício que fiz e que vou partilhar. Tendo realizado uma segunda leitura (depois de uma primeira, em que os meus estados de espírito alternaram entre a estupefacção e a perplexidade), fui retirando indicações de como resistir melhor ao poder que as diferentes autoridades do nosso dia-a-dia exercem sobre nós.

Um outro exercício, muito mais difícil (e demorado) de fazer, é questionar a nossa forma de exercer a autoridade no desempenho das nossas funções profissionais e parentais. Desde que li o livro que já não sou o mesmo, devo dizê-lo. Em que medida é que isso se irá reflectir na minha prática diária de professor é algo que estou ansioso por pôr à prova a partir de 15 de Setembro.

Aqui estão então as minhas conclusões-sugestões (que não são obviamente exaustivas, nem dispensam de todo a leitura do livro).

sábado, setembro 06, 2008

Em dia de chuva, eu, bronzeado, passo a palavra a...

... Frederico Lourenço, no JL (artigo "Palavras de Verão"), nº 988, de 13/8/08:

Não há coisa mais fisicamente repugnante do que a vista de pele bronzeada.
No nosso país, o sol é tão forte que infelizmente nem os protectores solares de factor 50 evitam essa cor hedionda.

quinta-feira, setembro 04, 2008

Perfil

Talvez saibam que esta é a fotografia que tenho usado no meu perfil.
Um uso abusivo, claro, porque não sou eu que estou ali. Não se trata do receio de ser identificado, pois sempre assinei os meus posts com o meu nome.

Mas gosto muito dela, pelo que não consigo tirá-la.
Possivelmente, porque se harmoniza com as minhas inclinações; além de que o retratado pertence ao meu círculo de vida: ei-lo longe, sentado a uma mesa, de costas e com uma viola na mão, a imagem a preto e branco, com leves tons de sépia, o silêncio à volta, um mundo de outro mundo.

A foto é da autoria de Dominique Isserman.
O fotografado é Leonard Cohen em Hydra nos inícios de 60.


(Leonard Cohen - The Literary Years)

quarta-feira, setembro 03, 2008

Porque não sorriem as modelos na passerelle?

Vejo a Fashion TV em casa alheia.
Ei-las a passar. São dezenas, centenas, milhares de modelos. Como o tic-tac de infinitos relógios, num fluxo contínuo, sem paragens.
Mas nem a mais leve sombra de um sorriso passa por aqueles rostos fúnebres. Porquê? Não pode ser por acaso; para ser traço comum a todas, tem de ser intencional. Mas porquê? Será o terror dos estilistas de que as pessoas se distraiam e não olhem para os vestidos?
Seja o que for, não consigo estar a assistir mais do que alguns minutos, aquilo incomoda-me e angustia-me: a beleza da mulher (e, sem margem para dúvidas, quase todas as mulheres podem ser belas) associo-a à vida em flor, não às máscaras de ferro da morte.

Já agora vejamos esta foto da Heidi Klum:



Aqui a vida ilumina, o sorriso e a nudez são símbolos claros e limpos de vida e de plenitude.
Gosto desta foto.
O efeito é curioso: a posição deitada, o sorriso feliz, o nosso olhar como que a debruçar-se sobre ela, a ser acolhido... mas, por outro lado, os braços cruzados; o tratar-se de apenas um momento; o sabermos que ela é casada com Seal, que tem 3 filhos; e o sentimento resultante é ambíguo: desejo e anti-desejo, ilusão de uma fotografia, provavelmente antiga, provavelmente retocada, a piscar-nos o olho, para sempre impedindo-nos de mergulhar nessa ilusão...

Vergílio Ferreira - Diário Inédito

Sim, provavelmente choca ou, pelo menos, surpreende. A verdade é que amo Vergílio Ferreira como se ele fosse (tivesse sido) da minha família mais próxima.
Tudo o que ele escreveu, e a forma como o escreveu, suscita em mim o sentimento de uma fraternidade forte e indestrutível. Mesmo quando discordo: é que essa discordância esboça-se e realiza-se sempre no interior, nunca é exterioridade.
Note-se que foi uma frase de Vergílio Ferreira que escolhi para a descrição deste blog desde o seu início. Nem sempre foi a mesma, mas foi sempre dele.




Como com todos os livros de V.F., peguei neste seu Diário meses depois de ter sido publicado, após ter terminado todo o burburinho (desta vez, maioritariamente positivo, diga-se de passagem) que ele suscitou à sua volta. Assim, li-o no silêncio e na solidão, o livro e eu, sem ninguém a meter-se de permeio. Acabei a sua leitura agora. E, mais uma vez, uma emoção forte que nasce de uma comuhão de sentires, de um mesmo gosto pelo que intelectualmente nos desafia, de um modo comum de olhar o mundo-natureza. Mas tudo isto fica aquém daquilo que realmente senti ao lê-lo (e falta-me a arte para o definir com verdade).
Apesar de ser muito mais interessante a 2ª parte, confesso que me comoveu profundamente a juventude, a ingenuidade e a insegurança de V.F. a revelarem-se nas entrelinhas da 1ª parte deste Diário.

Mil vezes obrigado à Professora Fernanda Irene Fonseca que edita superiormente este livro. Mil vezes obrigado à esposa de Vergílio Ferreira, Sra. D.Regina Kasprzykowski, por nos ter permitido o prazer da sua leitura.

terça-feira, setembro 02, 2008

Metabloguismo, e não só... também vencer o mal

Venho, pelo 2º dia, da escola.
Ambiente carregado, tensão, inquietação, tristeza, expectativas mais baixas que já alguma vez me foi dado ver.
Tudo tão profundamente negativo que, chegado aqui, todas as ideias sobre as quais me apetece escrever só me parecem fúteis e frívolas.
E, no entanto, eu recuso embarcar neste estado de espírito: não quero dar àqueles brutos da 5 de Outubro o poder de comandar o meu espírito!

Portanto, reflictamos sobre a maldade (e o seu contrário).
Na vida os maus ganham quase sempre, é da sabedoria das nações.
Os bons não lhes conseguem fazer frente porque, é verdade, são bons, mas são-no de forma medíocre - isto em resultado do medo que têm dos maus.
Só que, às vezes, aparece um bom verdadeiro. E aí ele ganha (a menos que seja assassinado) porque os maus, também eles, são cobardes, medíocres e mesquinhos. Não constituem concorrência para uma autêntica bondade.

Há exemplos ilustres - Gandhi, Luther King, Cristo -, que passaram pela luz da ribalta. Mas outros há, mais discretos, dos quais pouco se vai sabendo. Alguns comovem-me.

Por exemplo, Toni Ruttimann, o construtor de pontes. Aos 19 anos abandona a Suíça e inicia uma vida, desde 1987, a ajudar os povos da América Latina e do Sudoeste Asiático. Como? Construindo pontes (mais de 350). Usando apenas o que os outros deitam fora (especialmente companhias petrolíferas e mineiras) e a força braçal dos aldeões. Não aceita dinheiro de governos e não recebe salário nenhum. A sua casa é a mochila, onde leva alguma roupa, um computador e um telemóvel: nos últimos 20 anos nunca dormiu mais de 3 noites seguidas na mesma cama.
Construindo pontes. É um vencedor.

segunda-feira, setembro 01, 2008

Voltar ao trabalho

Rivka goes to her rabbi for advice.
"Rabbi", she says. "Both Abe and Sol are in love with me. Both want to marry me, and I have to pick... Who will the lucky one be?"
The rabbi looked at her and replied, "Abe will marry you and Sol will be the lucky one."

Kenneth Polin, IL, USA


(Tinha uma data de coisas para escrever. Mas prefiro começar este ano lectivo com humor.)

terça-feira, agosto 26, 2008

O que torna desinteressante tanta opinião

Para Marco Fortes, de Rui Tavares. Brilhante. No 5dias.

E percebo aquilo que me cansa na esmagadora maioria da opinião publicada, na net ou nos jornais: uma certeza sem falhas, a posse absoluta da razão, a ironia que esconde a fraqueza dos raciocínios (muitas vezes recorrendo ao insulto desnecessário e injustificado), a incapacidade de escrever pensando (não de ter ideias, aí, desde o governo até ao mais humilde adepto de futebol, todos estão cheios de ideias).
Em suma, sinto muita falta de uma discussão que se torne encontro e procura de um pensamento e de uma construção, ambos melhores do que aquilo que cada um trouxe para ela.

terça-feira, agosto 19, 2008

Obedience To Authority (5)

"Muitas das pessoas estudadas na experiência estavam em certo sentido contra o que faziam ao aprendiz, e muitas protestaram mesmo enquanto obedeciam. Mas entre pensamentos, palavras, e o passo crítico de desobedecer a uma autoridade malévola, reside um outro ingrediente, a capacidade de transformar crenças e valores em acção. Alguns sujeitos estavam totalmente convencidos do mal que estavam a fazer mas não conseguiram arranjar coragem para provocarem uma ruptura com a autoridade. Alguns tiraram satisfação dos pensamentos que tiveram, e sentiram que - no seu interior, pelo menos - assim ficavam do lado dos anjos. O que eles fracassaram em se aperceber é que os sentimentos subjectivos são largamente irrelevantes para o problema moral ali em jogo enquanto não forem transformados em acção. (...) As tiranias são perpetuadas por homens tímidos, inseguros, hesitantes, que não possuem a coragem necessária para actuarem de acordo com as suas crenças."

Milgram, S. Obedience To Authority. London: Pinter & Martin Ltd, 2005. (pp 11-12)

segunda-feira, agosto 18, 2008

Obedience To Authority (4)

"Pelo menos um aspecto fulcral da situação na Alemanha não foi estudado aqui - nomeadamente, a intensa desvalorização da vítima antes de actuar contra ela. (...)

De considerável interesse, porém, é o facto de muitos sujeitos desvalorizarem asperamente a vítima como uma consequência de actuarem contra ela. Comentários como, 'Ele era tão estúpido e teimoso que merecia receber os choques', foram comuns. Uma vez tendo actuado contra a vítima, estes sujeitos acharam necessário vê-la como uma pessoa desprezível, (...)"

Milgram, S. Obedience To Authority. London: Pinter & Martin Ltd, 2005. (p. 11)


Nota: Professores, perceberam a técnica que este Governo usou convosco? E perceberam as reacções das pessoas em relação a vocês, que se estendem ainda até aos dias de hoje?

domingo, agosto 17, 2008

Obedience To Authority (3)

(2) aqui.

"(...) Depois de testemunhar a submissão à autoridade, nas nossas próprias experiências, de centenas de pessoas vulgares , tenho de concluir que a concepção de Arendt da «banalidade do mal» aproxima-se mais da verdade do que qualquer um se atreveria a imaginar. A pessoa comum que deu choques eléctricos à vítima fê-lo por um sentido de obrigação - uma concepção dos seus deveres como sujeito - e não por causa de quaisquer tendências agressivas.

Esta é, talvez, a lição mais fundamental do nosso estudo: pessoas comuns, a fazerem simplesmente o seu trabalho, e sem qualquer hostilidade particular da sua parte, podem tornar-se agentes de um terrível processo de destruição. Além disso, mesmo quando os efeitos destrutivos do seu trabalho se tornam patentemente claros, e é-lhes pedido que desempenhem acções incompatíveis com normas fundamentais de moralidade, relativamente poucas pessoas têm os recursos necessários para resistir à autoridade(*). Uma gama variada de inibições para desobedecer à autoridade começa a actuar e consegue manter a pessoa no seu lugar."

Milgram, S. Obedience To Authority. London: Pinter & Martin Ltd, 2005. (pp 7 - 8)


(*) Mais: nunca nenhuma das pessoas estudadas mostrou vontade de pôr fim à realização da experiência, por exemplo, revelando a intenção de se queixar às autoridades competentes.

sexta-feira, agosto 15, 2008

Este aqui sou eu, hoje, a divertir-me no mar...



(foto tirada da daqui, da National Geographic)

Mulheres vítimas de violência

7 terrible abuses suffered by women around the world

(via 5dias.net)

Para começar a parar com isto: não ensinar as crianças a resolverem problemas recorrendo à violência.
Como? Não usando de violência com elas. Não usando de violência com quer que seja, na casa ou na rua.
Parece claro.

Mas, se depois, quando vão para a escola elas começam a ser vítimas da violência dos outros e não lhe sabem responder (como aconteceu com o meu filho)?

Não me venham com a treta de apelar para a escola, porque a escola hoje em dia
NÃO TEM MEIOS ABSOLUTAMENTE NENHUNS DE GARANTIR A INTEGRIDADE FÍSICA E PSICOLÓGICA DOS SEUS ALUNOS CUMPRIDORES E BEM COMPORTADOS! (eu sei do que estou aqui a falar, sou professor e pai)

E já não sei responder.

Mas sei que a responsabilidade dos homens (ajudados, admitamo-lo, por algumas mulheres que ajudam a perpetuar esta cultura e tradição - atente-se nas fotos do link acima) no sofrimento das mulheres é gigantesca e infinita. E isso causa-me uma infindável vergonha.


Adenda: repare-se que, em 3 das fotos, mulheres participam activamente nos abusos. Sim, todos sabemos que as mulheres têm sido responsáveis pela aplicação e manutenção de práticas abusivas e cruéis sobre elas próprias. É triste.
Terá isto alguma coisa a ver com o que as minhas colegas nunca se cansam de referir, que não há pior inimigo da mulher do que a própria mulher?

quinta-feira, agosto 14, 2008

Do Amor: algumas anotações

A maior diferença que encontro entre a pessoa em que me tornei hoje e o adolescente que fui é que, então, eu sonhava com o Amor, e agora não consigo deixar de sonhar com ele (pode-se aprender a não ser amado?).

Sempre tive a maior curiosidade em me informar sobre o Amor. Não percebi que, ao contrário, devia ter-me antes educado.

Apesar de reconhecer que o tratamento por "tu" é mais sensual e excitante, aprecio um tratamento por "você" que mantenha o mais tempo possível o mistério que somos um para o outro.

Acho a boa educação e a suavidade de maneiras altamente desejável quando me relaciono com uma mulher. No jogo de aproximações entre um homem e uma mulher, uma palavra grosseira, uma piada pesada, um beijo invasivo, etc, são como pedradas num charco: de certa maneira sentimo-nos salpicados de lama... mesmo quando conseguimos por fora um (sor)riso tolerante.

É aos cinquenta anos que eu fico a saber que falhei a minha vida. Para me salvar procuro reconhecer os meus limites: muitos deles têm a realidade apenas da imaginação. Vou-me descobrindo no alto-mar sem terra à vista. Mas é um começo. Um dia, talvez um dia, a encontre.

O primeiro inimigo do(a) tímido(a) no Jogo do Amor é o orgulho, a inaptidão para o ridículo. O segundo é a solidão, o aquário em que se meteu para fugir à dor inesperada: é que não é fácil sair dele (onde aliás já ninguém consegue verdadeiramente tocar-lhe).

Sonho amar uma mulher bonita. Mas só encontro raparigas velhas (dos 13, 14 anos aos 60, 65).

quarta-feira, agosto 13, 2008

Randy Pausch, Professor

Esta é a sua famosa última aula dada em 18 de Setembro de 2007, na Universidade de Carnegie Mellon, antes de morrer.
Vale cada minuto que utilizemos da nossa vida a ouvi-la.



Aqui a indicação do livro a que deu origem.

Aqui a notícia do Público, com um curtíssimo excerto legendado do vídeo (tirado do início e do fim da aula)

I think the only advice I can give you on how to live life well is ... - um curto vídeo do seu discurso na cerimónia de formatura na sua Universidade em 18 de Maio de 2008.

Faleceu a 25 de Julho de 2008.

terça-feira, agosto 12, 2008

Mark Twain


It is by the goodness of God that in our country we have those three unspeakably precious things: freedom of speech, freedom of conscience, and the prudence never to practice either.




(via Success Soul)

segunda-feira, agosto 11, 2008

Obedience To Authority (2)

(1) aqui.

"(...) O objectivo da experiência é determinar até onde vai uma pessoa, numa situação concreta e mensurável, em que lhe é ordenado que inflija sofrimento e dor crescentes [através de electrochoques] numa vítima que protesta e se queixa. Em que ponto é que o sujeito se recusa a obedecer ao experimentador?
(...)
A reacção inicial do leitor à experiência poderá ser perguntar-se porque é que alguém no seu juízo perfeito haveria de administrar até mesmo os primeiros choques. Não seria de recusar simplesmente e sair do laboratório? Mas o facto é que ninguém jamais o faz. Desde o momento em que entra no laboratório para ajudar o experimentador, o sujeito está mais do que disposto a iniciar os procedimentos. (...)
(...)
Muitos sujeitos obedecerão ao experimentador independentemente do quão fortes ou veementes sejam os pedidos da pessoa a sofrer os choques eléctricos, independentemente de quão dolorosos os choques pareçam ser, e independentemente de quanto a vítima suplica para a deixarem sair. Isto foi visto vezes sem conta nos nossos estudos e foi observado em várias universidades onde a experiência foi repetida [nos Estados Unidos, Alemanha, Itália, África do Sul e Austrália (p. 171)(*)]. É a extrema boa vontade e disponibilidade de adultos para irem a quase qualquer extremo sob as ordens de uma autoridade que constitui a principal descoberta do estudo e o facto a exigir mais urgentemente uma explicação.
(...)"

Milgram, S. Obedience To Authority. London: Pinter & Martin Ltd, 2005. (pp 5 - 7)

(*) Aqui referem-se também os seguintes países: Reino Unido, Jordânia, Espanha, Áustria e Holanda.

domingo, agosto 10, 2008

Museu Nacional de Etnologia


Excelente museu!
Modesto, mas muito bonito e com funcionários muito simpáticos.

Obrigatório ver a exposição "Pinturas cantadas: arte e performance das mulheres de Naya" e o respectivo documentário: das doces, corajosas e sorridentes mulheres de Naya, acrescento eu.

Também comovente a exposição "Drôty.sk: a arte do arame": da Eslováquia, um país que conquistou a minha simpatia quando lá estive, o trabalho delicado, inventivo, muitas vezes útil e sempre belo de se ver dos artesãos de antigamente e dos artistas de hoje.

Depois as visitas amigavelmente guiadas ao "Mundo rural português" e aos "Índios Wauja da Amazónia".

Comprados os catálogos das exposições, beber uma bebida fresca na esplanada e ou comer qualquer coisa, conversar simpaticamente com outros visitantes do museu sobre o que se viu e ouviu, ou ler um pouco, e assim se completa um domingo bem passado.

Pena de morte?

Há uns dias escrevi isto a propósito do pai que abandonou os filhos na estrada:

"Gostaria de poder dizer que a culpa é de Sócrates que instituiu um clima de falsidade, de crueldade e de inveja, e erigiu tudo isto a valores do regime.
Gostaria de poder dizer que a culpa é das pessoas que acham que ser-se bom não dá "pica".
Gostaria de poder dizer que a culpa é do dito pai. Mas sobre isto nada sei dizer, porque tudo o que se diga é dizer pouco.
Posso dizer que a culpa é minha por todas as vezes em que fui cruel, ou em que deixei passar em silêncio a crueldade dos outros. Isto, eu sei."

Assisti por vídeo à execução de um criminoso. A razão apresentada para tal acto foi ele estar a ameaçar de morte uma vítima inocente.
Toda a gente mostrou uma desmesurada alegria pelo acto.
Mas eu questiono-me.
A pena de morte foi legalizada em Portugal? Ou já se pode matar para prevenir crimes de morte? Ou seja, sempre que alguém apontar uma arma à cabeça de outra, o assassínio fica automaticamente justificado? Isto sempre sem passar pelos tribunais, claro.
Se eu fosse um dos reféns como estaria a sentir-me agora? Aliviado, sim, sem dúvida. Mas o facto de toda a gente dizer, sem o dizerem explicitamente, que eu fui a causa da morte de um ser humano, isso deixar-me-ia indiferente? Ou agoniado?
E, finalmente, se o executado fosse português, sem cadastro tal como eles, e a execução fosse no Brasil, por um sniper brasileiro, o gáudio geral seria o mesmo (como João Marcelino e Ferreira Fernandes)?
Sinto-me inquieto. Não sei se este é o país com que me identifico. Além disso, estarei alguma vez a salvo no meio deste ódio todo, no meio desta miserável alegria?

Nota: JoãoMarcelino no DN: "(...)
Solidarizo-me com a dor deles. (...)" Com a das vítimas? Com a da família das vítimas? Com a da comunidade brasileira em Portugal? Com a dos reféns, por se poderem sentir a causa da execução? Não, não, não e não. A solidariedade (a identificação?) é com os carrascos... A Loucura da Normalidade (Arno Gruen)

sexta-feira, agosto 08, 2008

Quadrilha de malfeitores

A minha amiga, paraplégica, filha única, pai falecido, mãe com Alzheimer (num lar privado, que os da Segurança Social não têm lugar), recebia do IRS cerca de 600€.
Este ano teve de pagar 500€.
O roubo é de cerca de 1100€.

Ainda não há muito tempo, gente desta seria corrida à chicotada.
Hoje chegam a governantes.
Sinal dos tempos.

quinta-feira, agosto 07, 2008

Simplesmente. Não contra nada nem ninguém. Apenas aceitar. Sem resignação.

O que se ganha: uma vida muito, muito intensa, para o bem e para o mal. Sem distracções.
Por exemplo, um banho no mar - e é a felicidade absoluta, total.

O que se exige para o conseguir: uma disciplina mental e física, não direi férrea, mas espartana, sem dúvida.

A saber, sem preocupação de ordem:

- Não olhar para o passado, seja com nostalgia, com piedade, ou com revolta... E nunca perder tempo a imaginar que teria sido melhor "Se eu tivesse feito de maneira diferente..."

- Nunca recriminar nada nem ninguém pelo que se viveu de menos bom.

- Manter uma actividade mental exigente, para não ficar estúpido: por exemplo, preferir a leitura de ensaios à de ficção; e, dentro desta, optar pelas biografias não autorizadas (autobiografias é que nunca, pois são demasiado falsas e complacentes).

- Não ter dependências: de pessoas, cigarros, álcool ou drogas (nem das legais nem das outras).

- Evitar devaneios com o lado amoroso, bom e doce das mulheres, dado que é apenas um lado entre muitos e, hoje em dia, de acordo com a moda (elas pensam que assim não dão "pica"), um dos mais efémeros e menos valorizados.

(Aliás, quando alguém se refere a uma pessoa do outro sexo, as palavras ditas vêm de um fundo que se estende desde a amargura até à ironia, sem passar pela doçura. Tempos ásperos, estes. E as pessoas vivem resignadas a esta indigênia emocional.)

- Não ver TV e fechar-se a qualquer tipo de publicidade, pois ambas instilam desejos e expectativas ilusórias e, muitas vezes, antagónicas com a realidade.

- Manter uma actividade física exigente, senão fica-se mole.

- Para evitar o entorpecimento intelectual e dos sentidos, levar uma vida frugal, comer pouco mas variado (doces estão totalmente fora de questão).

- Ter um objectivo, pelo menos, em mente que possa ser alcançado na actualidade; não adiar para um futuro vago a luta por o conseguir.

- Manter uma higiene pessoal rigorosa e intransigente, o sentido da dignidade começa aqui.

- Nunca gastar forças a ruminar no que falta, mas viver e aproveitar conscientemente o que se tem.

sábado, agosto 02, 2008

Enfim, ...



Dr. David Erneman para Susanne Verin:
- Não, eu não a amo. Mas quero tocá-la, quero que o seu fogo alivie o meu entorpecimento. (...)




(Uma Lição de Amor, Ingmar Bergman, 1954)

sexta-feira, agosto 01, 2008

Princípio

Amar genuinamente as mulheres em geral. Mas não amar verdadeiramente nenhuma mulher real, concreta.

Ser consequente: viver só (sem fazer ninguém infeliz) e sem se queixar. Assim, talvez não se deixe de ser Homem.

segunda-feira, julho 28, 2008

Fundo do Ambiente de Trabalho...



Admitamo-lo: há algo ali, no olhar, no cabelo.

...E é estúpido, eu sei, mas agora desligo o computador sempre com um sorriso.

sexta-feira, julho 25, 2008

Obediência à autoridade (1)

Livro terrível e magnífico! E isto é dizer pouco!

Stanley Milgram espanta-se e espanta-nos com o comportamento de pessoas, homens e mulheres normalíssimos, que aplicam choques eléctricos, cada vez mais devastadoramente potentes, a um outro ser humano... apenas porque há alguém, com ar de ter autoridade, que lhes diz para o fazerem!

Nem um único se recusou de início a fazê-lo!

Na capa do livro está fotografia de um dos sujeitos da experiência a carregar na mão da vítima para ela apanhar um choque eléctrico.

Há informação deste estudo aqui e aqui.

Mas a leitura do livro é indispensável, pois tem as reflexões insubstituíveis do próprio Stanley Milgram, bem como muitíssima mais informação sobre todos os estudos (com todas as suas variantes a cobrir todos os aspectos relevantes no que toca à obediência) que ele realizou....

domingo, julho 20, 2008

Leonard Cohen


"Remember me, I used to live for music."










(Sim, as t-shirts traziam os versos que escolhi ontem. Sim, ele recitou-os antes de os cantar. "In these times of chaos...", disse ele)

sábado, julho 19, 2008

Daqui a um bocado vou para Algés ao concerto de Leonard Cohen.
Decidi dar uma leitura a todos os poemas das canções, porque os versos que durante décadas foram o lema da minha vida têm de ser substituídos, visto representarem agora muito mais um fracasso que uma promessa:

I look for her always
I'm lost in this calling
I'm tied to the threads of some prayer
Saying, When will she summon me
When will she come to me
What must I do to prepare
When she bends to my longing
Like a willow, like a fountain
She stands in the luminous air
And the night comes on
And it's very calm
I lie in her arms and she says, When I'm gone
I'll be yours, yours for a song


The crickets are singing
The vesper bells ringing
The cat's curled asleep in his chair
I'll go down to Bill's Bar
I can make it that far
And I'll see if my friends are still there
Yes, and here's to the few
Who forgive what you do
And the fewer who don't even care
And the night comes on
It's very calm
I want to cross over, I want to go home
But she says, Go back to the World.

Do álbum "Various Positions", The Night Comes On.

E cheguei a estes, do álbum "The Future", Anthem:

Ring the bells that still can ring.
Forget your perfect offering.
There is a crack in everything.
That's how the light gets in.

É com estes versos que vou para o concerto, estes os versos que vão ser um eco da minha vida a partir de agora.

sexta-feira, julho 18, 2008

Auto-estima: a fraude

Não conheço ninguém que goste de mim o suficiente para viver comigo 24 horas por dia durante uma vida inteira.
Ora eu vivo comigo 24 horas por dia (mas sou obrigado).
Parece-me natural que eu não goste (e que nunca venha a gostar) de mim assim por aí além, não havia de ser eu a excepção.
Portanto, a conclusão necessária é que é pouco mais que inútil a luta para gostarmos de nós próprios, pois trata-se de uma batalha perdida.
Lutar para conseguirmos evoluir como pessoas, respeitar-nos a nós próprios, divertirmo-nos connosco mesmos, realizarmo-nos (pessoal e profissionalmente), isso sim, valerá a pena porque está ao nosso alcance.
(Será que os gurus da auto-estima nunca pensaram nisto?)

quinta-feira, julho 17, 2008

O ódio (II)

Sócrates e Lurdes Rodrigues têm de odiar e dizer sempre mal dos professores.
Se não o fizessem, teriam a desagradável sensação de, nos últimos anos, terem vindo a proceder como uns patifes em relação aos professores.
Desta maneira, têm podido alegar (para si próprios ou para os outros) que mesmo as mais torpes das suas iniciativas resultaram de uma genuína convicção.
Esta vil manobra faz descansar qualquer consciência pouco exigente (os nazis que o digam).

segunda-feira, julho 14, 2008

Exames e erro dos professores

Penso que os professores reagiram erradamente aos exames deste ano.
Pela primeira vez os exames, nomeadamente os do 9º ano, estão realmente de acordo com o sistema de ensino como ele existe actualmente: um sistema em que um aluno, por exemplo, pode passar, no 7º e no 8º, com "negativas" a todas as disciplinas; ou pode estar suspenso os dias que estiver e fica com todas as faltas justificadas automaticamente; etc, etc.
Portanto, agora é que os exames estão correctos e adaptados às exigências que o sistema de ensino põe aos alunos, não os dos anos anteriores (que serviram unicamente um propósito político bem definido, com total desprezo pelas pessoas dos alunos).

Quando os professores reclamam da facilidade destes exames estão a enveredar por um caminho suicidário. Com exames exigentes e com o sistema de avaliação que vai entrar em funções, os professores "lixam-se". Eles não conseguem promover um ensino exigente quando são impedidos de o fazer de todas as maneiras imagináveis.

Além disso, este movimento de facilitismo no ensino é imparável e irreversível. Simplesmente porque abre um mercado de educação muito lucrativo (não esquecendo a satisfação das famílias por os alunos completarem os diferentes graus de ensino sem nunca reprovarem). São as escolas privadas com procuras gigantescas, são os mestrados e doutoramentos (porque o processo de Bolonha o que é senão também um passo nesta direcção? Licenciaturas vão ser completamente banalizadas) sempre a pagar e a pagar bem.

Há demasiado dinheiro a ser ganho com este facilitismo para que ele possa vir a desaparecer.


Nota: Estamos numa sociedade esquizofrénica? Quando a Ministra mente, toda a gente louva as suas palavras e enche-a de elogios. Quando fala verdade (muito raramente, é certo), cai-lhe toda a gente em cima a chamá-la de mentirosa: foi assim quando disse que não tinha cedido em nada de significativo aos sindicatos sobre a avaliação dos professores (como as escolas estão a verificar já) e é assim quando agora diz que estes exames foram fiáveis e de muito boa qualidade.Vivo num mundo muito estranho...

terça-feira, julho 08, 2008

O dilema do prisioneiro e as escolas

Dois suspeitos, A e B, são presos pela polícia.
A polícia tem provas insuficientes para os condenar, mas, separando os prisioneiros, oferece a ambos o mesmo acordo: se um dos prisioneiros, confessando, testemunhar contra o outro e esse outro permanecer em silêncio, o que confessou sai livre enquanto o cúmplice silencioso cumpre 10 anos de sentença.
Se ambos ficarem em silêncio, a polícia só pode condená-los a 6 meses de cadeia cada um.
Se ambos traírem o comparsa, cada um leva 5 anos de cadeia.
Cada prisioneiro faz a sua decisão sem saber que decisão o outro vai tomar, e nenhum tem certeza da decisão do outro
.

(para ver mais desenvolvimentos sobre este dilema: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dilema_do_prisioneiro)

Trata-se aqui de saber como vai proceder cada um dos prisioneiros.

1) Se eu não confessar e o outro também não, safamo-nos os dois com poucos estragos.

2) Mas se o outro decidir confessar e eu não, ele safa-se e eu estou completamente tramado.

3) Se confessarmos os dois (aparentemente a hipótese mais relaxante) as consequências são pesadas mas, de alguma forma, limitadas.

4) E, claro, se eu confessar e o outro não, estou safo... a menos que, depois, a autoridade decida que "Roma não paga a traidores" e eu acabe também por me lixar.

Ora é este dilema que as escolas estão neste momento a viver. Se em vez da palavra “confessar” pusermos “avançar com os procedimentos para a contratação de um director”, temos este dilema no seu estado quase puro. Veja-se:

1) Se a minha escola não avançar e as outras também não, safamo-nos todos com poucos estragos.

2) Mas se as outras escolas decidirem avançar e a minha não, elas safam-se e a minha fica completamente tramada.

3) Se avançarmos todos (aparentemente a hipótese mais relaxante) as consequências são pesadas mas, de alguma forma, um pouco mais controladas.

4) E, claro, se a minha avançar e as outras não, a minha escola está safa... a menos que, depois, o ME decida que “Roma não paga a traidores”!

O meu palpite: a maior parte está a avançar, com as esperanças postas na hipótese 3).

A realidade na minha escola: quando foi da avaliação, apostaram também na hipótese 3) e trabalharam que se desunharam... para nada, porque acabou por funcionar a hipótese 1).

Avanço ainda uma constatação preocupante: vivemos numa sociedade que pressiona toda a gente para o conformismo, fazendo aparecer como uma aberração ou, pelo menos, como uma estupidez, qualquer iniciativa que não tenha a garantia de ser assumida pela maioria das pessoas ou organizações.

Assim, se isolada ou individual, a acção, ainda que correcta, não consegue que lhe seja atribuída qualquer valor. E as pessoas desistem.

sexta-feira, julho 04, 2008

Respeito por si próprio

"A mais longínqua afirmação de liberdade, ou seja o seu anúncio primeiro, reside, depois dos Estóicos e de Descartes, diz-nos Sartre, na possibilidade de dizer «não».
(...)
Assim, negando e porque negamos, recusamos a nós próprios a condição de «coisa», (...)"

(Vergílio Ferreira, Da Fenomenologia a Sartre)

terça-feira, julho 01, 2008

Salgueiro Maia

Nasceu a 1 de Julho de 1944 em Castelo de Vide.

"Filho e neto de ferroviários, como gostava de ser reconhecido, Salgueiro Maia era profundamente aristocrata em toda a sua maneira de ser e de pensar. Só um aristocrata é capaz de ter o desprendimento das coisas e do mundo que ele tinha e o mundo interior que soubera construir. Como diz um grande poeta português, a aristocracia é acima de tudo a ambição de ser e não a avidez de ter. Maia sabia que “era”, mas essa consciência do valor e da vida não a transformava nunca num poder de manobra para ter o que a inveja ou a maldade dos outros lhe negara sempre. E, por isso, tinha o sabor de uma ironia crítica e um profundo orgulho de ser exactamente aquilo que era."

(Francisco Sousa Tavares, O Sereno Herói de Abril, in Salgueiro Maia, Capitão de Abril – Histórias da Guerra do Ultramar e do 25 de Abril – Depoimentos, Editorial Notícias, Lisboa, 1994, pp 115 - 119)

sábado, junho 28, 2008

House Of The Rising Sun



Geordie:
Brian Johnson (lead vocals) - Antes de ir para os AC / DC
Vic Malcolm (lead guitar)
Tom Hill (bass guitar)
Brian Gibson (drums)

domingo, junho 15, 2008

Onde estou e para onde me mobilizo

Morte de Deus, reversão aos nossos estritos limites, encontro connosco mediante a presença de nós a nós e à vida, mediante a revivificação do que nos é original pela apreensão do que nos é original, a reabsorção ou transcendência à originalidade do que se esterilizou em secura (...)

(Vergílio Ferreira, Da Fenomenologia a Sartre)

terça-feira, junho 10, 2008

Ainda Lawrence Durrell e "Clea"

"(...) e depois a Primavera apressou-se a ceder a este magnífico e último Verão, que chegou aos poucos, como se viesse de alguma latitude longamente esquecida que o Éden tivesse durante muito tempo desfrutado em sonho e maravilhosamente descoberto mais tarde entre os pensamentos dormentes da humanidade. Fundeou entre nós uma nave maravilhosa que lançou ferro diante da cidade e colheu as velas brancas como as asas de uma gaivota. Ah, procuro as metáforas capazes de evocar a felicidade penetrante raramente concedida àqueles que amam; (...)" (241)

(...) Lastimável não ser possível capturar a brilhante plumagem desse Verão, pois na velhice não teremos senão estas parcas recordações para alimentar a nossa nostálgica felicidade. Será a memória capaz de reter os quadros destes dias incomparáveis? Duvido... Na sombra lilás e espessa das velas brancas, debaixo dos sombrios cachos de figos, ao meio-dia, nas rotas lendárias dos desertos, onde progridem as caravanas de especiarias e onde as dunas afiladas sobem aos céus para captar, no seu sono deslumbrado, o palpitar das asas das gaivotas que passam como flocos de espuma? Ou as chicotadas geladas das vagas nos pontões desmantelados das ilhas esquecidas? E o sereno que tomba sobre os portos desertos, onde as velhas balizas árabes apontam os dedos enferrujados? A soma destas coisas há-de certamente subsistir algures. Contudo, ainda não assombraram a memória. Os dias sucediam-se no calendário do desejo, e as noites voltavam-se docemente no sono para repelir as trevas, inundando-nos de novo com a luminosidade real do Sol. Tudo conspirava para esta harmonia serena." (242)

"(...) as vinhas amadurecem docemente para testemunhar que, muito depois de os homens terem cessado de brincar com os instrumentos de morte por meio dos quais exprimem o seu medo de viver, os antigos deuses sombrios continuarão ali, debaixo da terra, ocultos no húmus... Estão indelevelmente enraizados no sonho dos homens. Jamais capitularão!" (301)


No Quarteto de Alexandria, para além da profunda miscigenação entre as paisagens (quentes e insuportavelmente luminosas, mesmo quando nocturnas) e os seres, existe uma permanente preocupação de não cair na vulgaridade, de não apresentar nunca personagens vulgares: eis por onde surge a minha adesão total a esta obra.

sábado, junho 07, 2008

Lawrence Durrell

A acabar de reler o Quarteto de Alexandria: Justine, Baltasar, Mountolive e Clea (que tenho agora entre mãos).
Vêm-me estes livros da distante juventude, do início do Verão para cumprir. É esse sopro ainda que eu respiro ao lê-los.
Embora sem a esperança de então.

"Baltasar dizendo: «Este mundo representa a promessa de uma felicidade única para a qual, contudo, não estamos apetrechados.»"

É disto que o Quarteto trata e que procura resolver. Bem?
Sem resposta, só a que cada um encontrar dentro de si.
Se...

domingo, junho 01, 2008

O ódio

O ódio aos professores

O ódio aos professores não se dirige a mim como pessoa, porque no fundo não me conhecem, nem sabem o que faço ou não.
Como esse ódio não tem relação com aquilo que sou, então tudo é acaso.
Faça eu o que fizer.


O ódio à Ministra da Educação e sicários

Sempre fui contra a diabolização da ministra.
Porque quanto mais se diaboliza a personagem
(e ela não é mais que uma personagem, efémera como todas)
menor é a atenção que se dedica à realidade que ela procura distorcer ou ignorar.

segunda-feira, maio 26, 2008

Pobreza e Civilização

(...) considera-se tanto mais civilizado um país quanto mais sábias e eficientes são as suas leis que impedem o miserável de ser demasiado miserável, e o poderoso de ser demasiado poderoso. (Se Isto É Um Homem, Primo Levi)

"O relatório do Eurostat, o organismo estatístico da União Europeia, sobre a situação social nos estados-membros confirma que Portugal é o país com mais desigualdade na distribuição de rendimentos entre os 25 e é o único que apresentava um desnível entre pobres e ricos superior ao dos Estados Unidos. (...)" (Público, 23-05-08)

sábado, maio 24, 2008

Sem Destino, Imre Kertész

Abre hoje a Feira do Livro de Lisboa.

Se não há dinheiro ou tempo para mais nada, pelo menos este livro:


Não vou dizer porquê, ponho aqui apenas uma nota sobre esta obra:

Um rapaz conta a sua vida de judeu húngaro em pleno nazismo.
Ele aceita tudo o que lhe acontece, procurando explicar e comprender as atitudes e comportamentos dos verdugos, alemães ou não.
Busca cumprir com o que lhe vão impondo como sendo as suas obrigações.
A dada altura percebemos que o ser humano, que nos fala e que nos vai descrevendo a sua história de boa vontade e de conformismo, está vivo mas transformou-se literalmente num moribundo.

Volto para enfatizar este ponto:
O rapaz vai arranjando sempre uma explicação razoável para o que lhe está a ser feito.
Quando a não consegue encontrar, pensa sempre que podia ser pior e conforma-se.
Vê bondade e boas intenções nas expressões mesmo dos que o tratam como se ele fosse uma coisa ou um animal.
Aquilo que o humilha, mesmo assim, ele reduz considerando que são ninharias com que será ridículo perder tempo.
Ninharias ou não, ele vai sempre aceitando tudo quanto os algozes lhe dizem que são coisas necessárias...
...E, destes diferentes modos, ele vai convertendo o intolerável em, não só aceitável, como mesmo defensável.

quinta-feira, maio 22, 2008

Dogville, de Lars von Trier


Pai de Grace: A única coisa que tu culpas são as circunstâncias. Violadores e assassinos podem ser vítimas, em tua opinião. Mas na minha são cães, e se lambem o próprio vómito só os podemos impedir a chicote.

Grace: Os cães seguem a sua natureza: não lhes devíamos perdoar por isso?

P: Os cães podem aprender muitas coisas úteis, mas não, se lhes perdoarmos sempre que eles seguirem a sua própria natureza.

G: Então, sou arrogante. Sou arrogante por perdoar às pessoas?

P: Meu Deus, não consegues ver o quão condescendente és ao dizeres isso? Tu tens esta noção pré-concebida que ninguém – ouve! – ninguém pode chegar aos mesmos padrões éticos que tu e, por isso, perdoas tudo. Não consigo imaginar nada mais arrogante que isso. Tu, minha filha, minha querida filha, tu perdoas aos outros com desculpas que nunca aceitarias para ti própria.

G: Porque é que não posso ser compassiva?

P: Não, podes ser, deves ser, quando for a altura de ser compassiva. Mas tens a obrigação de manter os teus próprios padrões, tu deves-lhes isso, tu deves-lhes isso. O castigo que tu mereces para as tuas transgressões, eles merecem para as suas transgressões.

G: Eles são seres humanos...

P: Não precisam todos os seres humanos de serem responsáveis pelas suas acções? Claro que sim, que precisam, só que tu nem lhes chegas a dar essa oportunidade. E isso é extremamente arrogante. Eu amo-te, eu amo-te, eu amo-te até à morte, mas tu és a pessoa mais arrogante que já conheci até hoje. E é a mim que achas arrogante! Não tenho mais nada a dizer.

(...)

G: As pessoas que aqui vivem fazem o melhor que conseguem dadas as circunstâncias em que vivem, circunstâncias muito duras.

P: Se tu o dizes... Mas será o melhor delas suficientemente bom? E gostam elas de ti?

(...)

Narrador: E de repente soube demasiadamente bem a resposta à sua questão, à sua dúvida.
Se ela tivesse agido como eles, ela não conseguiria encontrar uma única desculpa para as suas acções e nunca conseguiria castigar-se a si própria o suficiente.
Era como se a sua pena e a sua dor tivessem encontrado o seu lugar correcto.
Não, o que eles tinham feito não era suficientemente bom.
E, se alguém tinha o poder de corrigir as coisas, então era seu dever fazê-lo, para o bem de outras vilas, para o bem da humanidade.
E não por último, para o bem do ser humano que era Grace, ela própria...

(transcrição feita a partir do filme)

domingo, maio 18, 2008

Asco

"Cerca de 80% dos aviões que chegam a Fortaleza levam homens sozinhos, à procura de companhia, e o Brasil está no topo da lista de países com mais prostituição infantil. São, na sua maioria, portugueses, espanhóis e italianos." (Visão, 15/5/2008, p. 10)

"A barbárie não é apenas um elemento que acompanha a civilização, faz parte integrante desta." (Edgar Morin)