segunda-feira, maio 30, 2005

Alunos

Numa das minhas turmas existe desde o aluno que pergunta:

"Pedir desculpa? Para quê? O que é que se ganha com isso?"

até à aluna que escreve o seguinte poema matemático:

"Senhor rectângulo, pensei um dia
que nunca mais o decifraria.
Rosto tão longo
e voz tão sombria."

Gostaria de ter um comentário inteligente acerca disto, mas não tenho.

domingo, maio 29, 2005

Gandhi

Retorno sempre a ele.
Creio já ter dito que ele é o único ser humano a quem eu concedo o estatuto de herói.

Gandhi constrói uma ponte única entre Buda e Cristo. De Buda, a reflexão, o estudo e a decisão consciente para agir com sabedoria e alcançar estados de consciência mais elevados. De Cristo, o combate contra a injustiça, a defesa dos mais fracos, uma atitude perante os outros absolutamente original e plena de amor.

A busca da verdade implica necessariamente a não violência e o amor.
A violência perturba o corpo e os sentidos, tornando impossível uma procura objectiva da verdade. E destrói o amor.
O amor é condição, que pode não ser suficiente, mas é absolutamente necessária para compreender os outros, o mundo, a vida, ou seja para nos aproximarmos da verdade.
Entenda-se a não violência, não como uma atitude passiva de simples evitamento de atitudes agressivas, mas como uma postura activa de nunca desistir de lutar pelo que consideramos justo, só que com métodos não violentos.

Creio que foi Einstein que disse que um dia iríamos perguntar-nos como é pôde alguma vez existir uma pessoa assim. Suspeito mais que o esquecimento e o menosprezo irão acabar por pôr de lado tudo o que a Gandhi se refere.

De volta!

Há muito tempo que aqui não venho.
Nenhuma ideia interessante, nenhum livro inesquecível, nada para dizer.
Acrescido a isto diversas anomalias físicas e psíquicas: insónias terríveis, distúrbios alimentares, alergias diversas, oscilações pronunciadas de humor.
Ontem fui ao meu médico, um médico muito especial. Disse-me:
Nós somos corpo e mente. Às vezes não conseguimos estar bem de espírito porque o mau funcionamento do corpo afecta a mente. Outras vezes é a mente que, por estar mal, gera diversas afecções no corpo. Segundo ele, enquadro-me nesta última situação (há um ano atrás estive na outra, tomei medicamentos e foi-me oferecida a oportunidade de uma nova vida). Receitou-me um programa de exercícios de respiração e de meditação, e lançou-me o desafio: fazer este programa duas vezes por dia durante 15 dias e depois voltar lá. Ele garantiu-me que eu não precisaria de voltar.
Vim para casa, tive mais um distúrbio alimentar e senti-me miserável. Mas antes de me deitar fiz a meditação. E dormi 9 horas seguidas!
E hoje? Hoje fiz o programa de manhã e à hora do almoço. Tive um distúrbio alimentar, mas consegui trabalhar: limpar a casa de banho e a cozinha, passar a ferro e arrumar quartos, coisas que já não fazia há uns tempos. Vamos ver.

Entretanto, vejo que o meu último post tem 8 comentários, um recorde que me deixa sem jeito. Aqui fica o meu agradecimento, companheiros da web!

domingo, maio 08, 2005

Política

Já repararam que eu nunca falo de política?
Enquanto fazia a barba estava a recordar-me de uma anedota lida há uns dias atrás na Reader's Digest e sentia que esta explicava, esclarecia qualquer coisa de mim mas não sabia o quê. E então percebi. A anedota primeiro:
"Dois bêbados caminham ao longo da linha de caminho de ferro. Passados alguns quilómetros, um deles diz, "Estes degraus estão a matar-me."
"Não são os degraus o maior problema", responde o companheiro."São os corrimões que estão muito baixos."" (Reader's Digest, September 2004, nº 989)
Bom, oiço os políticos, leio o que eles dizem e sinto que estão tão ao lado das coisas como estes dois. Ou estarei eu? Não sei realmente, sei é que o seu mundo e o mundo de que falam está cada vez mais distante do meu, para mim é um mundo que vai perdendo sentido e significado, que pouco me diz e do qual vou tendo cada vez menos para dizer.
(Como uma ave agoirenta, paira no meu espírito aquela frase que lamento não me lembrar de quem é: enquanto tu não te ocupas da política, a política ocupa-se de ti...)

sábado, maio 07, 2005

Este conselho num blog...

Não resisto. Aqui fica, para os que não leram o JL (nº 901), um conselho árabe citado por Fernando Campos:
"Nunca fales de ti.
Se disseres bem, ninguém te acredita.
Se disseres mal, acreditarão em mais do que possas dizer."

Praxes (2)

Ter-me-ei excedido no post anterior? Principalmente no uso das palavras "nazi" e "escória"? Não tenho a certeza, mas penso que não, se considerarmos que esta realidade retratada por essas palavras não é a situação acabada que elas podem representar mas é já um seu embrião .
Sou contra todo o tipo de praxes. Porque são, na sua esmagadora maioria, um veículo para a execução de actos brutais e/ou humilhantes sobre pessoas que pouca defesa têm face à barbárie. Não foi por acaso que o 25 de Abril acabou com elas na altura.
Sou contra, como sou contra que se maltrate crianças. Até pode ser benéfica para a criança uma palmada (como sabem não concordo, mas não vou discuti-lo aqui outra vez); mas há a hipótese de abusos? Há. Logo é proibido por lei aos professores, pais, familiares, etc, maltratá-las seja de que modo for e em que circunstâncias for.
A mesma coisa devia servir para as praxes.

terça-feira, maio 03, 2005

Praxes académicas... nazis? Sim!

Uma amiga minha foi ao Porto assistir à Queima das Fitas. As cerimónias públicas metiam uma praxe académica que consistia em dar bengaladas nos desgraçados dos estudantes. O material que os carrascos (parece que lá os chamam de veteranos) usavam era transportado não pelos próprios mas por estudantes a que chamavam de escravos(as)... Note-se: o sobrinho dessa minha amiga teve que receber tratamento médico por ter ficado com a cabeça esfolada e inchada.
Algumas considerações:
Primeira: aos que se espantam com o surgimento do nazismo na Alemanha eu aconselho a irem assistir a praxes académicas, ou a ouvirem quem foi vítima delas, para perceberem que o nazismo como atitude está em todo o lado!
A segunda é uma pergunta: em que é que estas praxes, mesmo as mais soft e consideradas muito “divertidas”, contribuem para dignificar a pessoa humana? (Esta pergunta é retórica: não tentem sequer explicar-me!)
Finalmente: as bengaladas foram dadas na presença e com o assentimento de professores da universidade (parece que o senado da dita aprovou esta violência). Nenhum teve a coragem de se levantar e dizer basta. Nenhum teve a humanidade de defender os seus alunos da barbárie. Nenhum pode ser olhado, chamado e considerado como professor. Na verdade eu tenho vergonha de, por ser professor, poder ser confundido com esta escória!