quarta-feira, abril 27, 2005

Feira do Livro na Gulbenkian

Desde ontem até dia 6 de Maio (se não me engano), das 12h às 22h, estão na Gulbenkian (edifício principal) numa feira do livro todas as suas edições.
Para professores e estudantes os preços são substancialmente mais baixos.
Comprei "Cartas a Lucílio" de Séneca.

sábado, abril 23, 2005

R.E.M. and lyrics

Não páro de ouvir Electron Blue dos REM. Não sei o que Michael diz.
Quase nunca sei o que as letras das canções dizem. Apanho aqui e ali uma palavra e não quero saber de mais, pelo menos enquanto a canção abala todo o meu ser, como esta agora. Assim, a canção ocupa todo um espaço de sonho e de expansão sem limites e não me desilude. Porque as canções são quase sempre muito maiores que as respectivas letras.
Nunca me hei-de esquecer da imensa desilusão que tive ao saber do que tratavam algumas das áreas de D.Giovanni: como é que algo que apontava para dimensões trágicas e míticas da existência (era o que eu sentia ao ouvir) podia ter letras tão fúteis?
Deste modo só me interesso logo pelas letras de cantores que não me desiludem. E nestas condições, na verdade só me lembro de um: Leonard Cohen.

Hoje é o Dia Mundial do Livro

Vou comemorá-lo passando para aqui um belíssimo poema de Rainer Maria Rilke a Lou Andreas-Salomé:

II
Como um lenço ante o hálito acumulado,
não: como se aperta contra uma ferida
da qual a vida toda, num só jorro,
quer sair, assim te apertei a mim: vi
que te avermelhavas de mim. Quem é que exprime
o que aconteceu? Recuperámos tudo
para que não houvera tempo. Amadurei estranhamente
em cada impulso de juventude não-vivida,
e tu, amada, tiveste uma qualquer
ferocíssima infância sobre o meu coração.




(Paulo Quintela, Obras Completas, III, Traduções II, Fundação Calouste Gulbenkian, 1998, p. 247)

sexta-feira, abril 22, 2005

Dia Mundial do Livro

A propósito de amanhã ser o Dia Mundial do Livro, no Amor e Ócio pedem-nos para sugerir um livro que tenhamos gostado de ler. Lá o fiz. Mas é uma tarefa dificílima, principalmente para quem já leu uns milhares deles. Mais fácil é falar de autores e aqui estão os "meus": Vergílio Ferreira, Arno Gruen, António Ramos Rosa, António Alçada Baptista, Karen Blixen, Mia Couto, Luís Sepúlveda, Lawrence Durrell, Erri De Luca, Eduardo Prado Coelho, Christa Wolf, Ray Bradbury, James Herriot,...
Mas se eu tivesse que escolher qual o livro que imprimiu a marca mais profunda na minha vida não teria dúvidas em apontar "A Loucura da Normalidade" de Arno Gruen, Assírio e Alvim.
E o livro que mais amei? Também sem dúvidas: "Cântico Final" de Vergílio Ferreira, Bertrand.
E o primeiro livro que me despertou para a literatura? Lembro-me perfeitamente: "De Profundis" de Oscar Wilde.
E páro por aqui, embora me apetecesse falar infinitamente dos livros que infinitamente habitaram o meu espírito durante quase toda a minha vida. Nem é para não chatear, é simplesmente porque me faltam as palavras onde sobra a emoção. E, portanto, para não ser injusto.

domingo, abril 10, 2005

O Tecido do Outono e António Alçada Baptista

Um escritor pode modificar a maneira de olhar para a vida de um leitor? Ou pode mesmo provocar alterações na vida desse leitor dado que este passa a fazer novas opções depois de ler um livro seu? A resposta é definitivamente sim a ambas as perguntas. E o livro é:

"O Tecido do Outono" de António Alçada Baptista, Editorial Presença.
Do amor, do casamento, da liberdade, da plenitude de corpos e de almas, da procura disto tudo e de paz, da idade e de tanta coisa mais!!... Um livro verdadeiramente extraordinário! É um livro tão gigantesco, embora com apenas 183 páginas de letra grande, que tenho dificuldade em dizer mais. Para além de que é um livro tão revolucionário que vou ser obrigado a fazer mais releituras para que surta efeito sobre a minha vida, para integrar em mim o que ali é novo e ao qual, escusado é dizer, tudo em mim diz sim, sim. Uma das epígrafes felizes deste livro é de São João Evangelista: Aquilo que somos, ainda não aconteceu. Todo este livro é um hino a encorajar-nos. Por favor não deixem de o ler.
Há tanto tempo que eu aqui não vinha! Por razão nenhuma especial: apenas porque não tenho absolutamente nada para dizer, há uma lassidão de espírito que adormecu a minha verve criativa.
Mas agora quero deixar aqui qualquer coisa de jeito! E de que falamos quando nada temos para dizer? Do que outros falaram ou fizeram, claro! É sobre isso que hoje vou aqui escrever: do que outros disseram, ou mais exactamente, escreveram.


"Greguerías", de Ramón Gómez de la Serna, Assírio & Alvim:
Segundo o autor a "greguería = humor + metáfora"; é portanto algo difícil de dizer o que é... mas é brilhante, atinge-nos de e por onde menos esperamos. Aqui vão duas para aguçar o apetite:
"Onde o tempo e a poeira mais se unem é nas bibliotecas." (p.15)
"No primeiro eléctrico da manhã ainda há sonhos do dia anterior." (p.49) Apetece-me continuar:
"Na noite gelada cicatrizam todos os charcos."(p.59)
Não tenho razão? Portanto, comprem o livro!

"Pai (uma antologia literária)", 101 noites:
Sim, prenda do 19 de Março! Normalmente não consigo aderir a antologias. Para mim é uma espécie de zapping em que no fim acaba por pouco ficar. Não foi diferente desta vez: divertiu-me medianamente, mas deixou um rasto pouco duradouro.

"A Chuva Pasmada", Mia Couto, Caminho:
Dói sempre ler Mia Couto, mas dói de prazer, prazer para a inteligência e prazer para a sensibilidade. Mais um livro construído em variações à volta da tristeza e da alegria, nunca se sabendo onde acaba uma e começa a outra. Conta a história de pessoas que a meio do livro já não sabemos se somos nós ou não. Vejamos:
"Eu já sabia: a única história com final feliz é aquela que não tem fim." (p.37)
Nada há a acrescentar, apenas que leiam.

"O mar por cima", Possidónio Cachapa, Oficina do Livro:
Não é a maturidade de um autor, mas é alguém que escreve com aquilo que nós sentimos. Começa em vários lugares, mas depois percebemos que são vários tempos que acabam por se (des)encontrar numa história de amor triste. Gostei muito de ler.

"A Razão do Azul", Eduardo Prado Coelho, edições Quasi:
EPC é o escritor que eu conheço que de longe melhor pensa o lado mais luminoso do que sentimos. É sempre um fascínio ler um livro seu. Este é constituído por pequenos ensaios que brilham até ao insuportável dentro de nós. Um exemplo menor (porque vou cometer um crime que é retirar algumas frases do contexto):
"(...)Porque cada livro é sempre a promessa de uma palavra definitiva - não a última, mas a primeira. (...)" (p.19)
A primeira a partir da qual não há outra possibilidade senão ser-se feliz! E este livro é bem mais do que uma simples promessa, garanto-vos!


Bom, agora vou almoçar. É que o próximo livro de que ia falar encheu-me de tal modo que eu ainda nem sei bem o que vou dizer; por isso faço aqui uma pausa.