domingo, março 30, 2008

O objectivo...

Todos conhecemos, das séries policiais, a técnica do





"polícia-mau"






e do





"polícia-bom".



O objectivo é sempre o de arrancar algo a alguém...

sexta-feira, março 21, 2008

A autoridade dos professores

A questão parece-me relativamente simples.

A autoridade de um professor não pode assentar no seu estado de espírito, no seu talento ou em qualquer outra idiossincrasia pessoal.
Por duas razões: 1ª, porque com a heterogeneidade actual dos alunos, só um super-professor (que não existe) é que consegue ter autoridade sobre todos eles, sem excepção; 2ª, porque a autoridade não pode estar dependente dos caprichos de cada um, senão corre-se o risco elevadíssimo de corrupção do acto educativo (a autoridade assenta sempre numa negociação; se esta fica ao critério pessoal de cada um...).

A verdade é que a autoridade tem que emanar da instituição que o professor serve e representa. Só essa autoridade, igual para todos, é educativa, justa e livre de abusos. Ora, este governo, pelo desprezo que tem mostrado pelos professores, por ter posto a sociedade contra eles e por ter dificultado até ao absurdo o processo de castigar os alunos, minou completamente essa autoridade institucional. E o professor ficou sem poder nenhum que o sustente.

Para mim, o horror (não estou a exagerar na palavra) da situação nem são as agressões de que os professores (aliás, deve-se dizer "as professoras", pois são elas a maioria e as mais vulneráveis à violência neste país de cobardes) são vítimas.

Tendo esvaziado a escola e os professores de autoridade, aqueles deixaram de poder proteger os alunos mais fracos, os alunos que querem estudar, os alunos que são vítimas sistemáticas de colegas violentos. Esta mole imensa, cada vez maior, sem culpa nenhuma, vai aprendendo que os adultos não prestam para nada, que os colegas são perigosos e que a única coisa que ainda resulta é fazer justiça pelas próprias mãos. É isto que me causa horror.

quinta-feira, março 20, 2008

Sinais

Desde sempre (lecciono há 23 anos) que a visão da escola vazia me mergulhava na tristeza.
Não agora.
Pergunto-me porquê.
Não, não vou culpar a verdadeira responsável.
Vou só constatar um facto.
A rápida extinção, nestes três anos, da amabilidade nos alunos, quer entre eles, quer em relação aos professores.
À tristeza por todo aquele vazio, substituiu-se o alívio.
Que é uma outra forma de tristeza, no fim de contas.

quarta-feira, março 19, 2008

Arthur C Clarke (1917-2008)


O que eu sonhei na adolescência e na juventude, muito graças a este senhor!
Tenho os livros dele mesmo à frente da minha secretária.
Vou buscá-los (da velhinha Colecção Argonauta, na sua maioria) e verto aqui títulos, belos nomes, que encantaram anos difíceis:

A Idade de Ouro
Areias de Marte
Náufragos da Lua
S.O.S. Lua
A Sexta Parte do Mundo
Terra Imperial
Rendez-Vous com Rama
Os Dias Futuros
Ilhas no Céu

E outros: Anti-Crepúsculo, Expedição à Terra, Canções da Terra Distante, …
Sem esquecer “2001, A Space Odyssey”.

Também digo: Obrigado, Arthur C. Clarke!

sábado, março 15, 2008

Escolas, privadas sim, e... sobre o optimismo

(os bold são da minha responsabilidade)

"Uma investigação recente realizada pela psicóloga e autora do livro "Educar para o optimismo", Helena Marujo, envolvendo cerca de 2200 crianças e jovens portugueses de ambos os sexos, entre os oito e os dezoito anos, em escolas particulares da região de Lisboa, chegou a resultados preocupantes: os jovens portugueses apresentam taxas depressivas mais elevadas do que os jovens norte-americanos e espanhóis."

"O facto de encontrar escolas depressogénias, em que os alunos ficavam deprimidos pouco tempo depois de frequentarem essas escolas, foi outro factor que despertou a atenção desta especialista em comportamento."

"Helena Marujo observou ainda que grande parte destes jovens tinha um discurso muito desesperançado e pessimista relativamente ao futuro, fruto daquilo a que chamou uma desumanizadora pressão para o sucesso, em que os alunos sentem que o afecto que recebem é condicionado pelo sucesso escolar."

"Helena Marujo constatou, por outro lado, que a ideia da morte ou suicídio tinha já passado pela cabeça de muitos jovens."

"Também o simples contacto com professores com um discurso profundamente desanimado e pessimista, e o facto de muitos dos seus pacientes se mostrarem incapazes de enumerar aspectos positivos dos seus familiares levou Helena Marujo a interessar-se cada vez mais pelo tema."

(...)

"“Um dos principais objectivos na formação para o optimismo, tem sido levar as pessoas a fazerem um processo de auto-educação, lembrando-lhes que todos somos modelos para os outros. Ou seja, temos a obrigação moral de construir uma cultura optimista, já que se provaram os seus benefícios em termos de saúde física e mental e, ainda, de maior felicidade", explica Helena Marujo."

(...)

"O que é optimismo? Uma vez aqui chegados, importa esclarecer o que é o optimismo. Segundo a especialista em questão, é uma característica individual que, embora possa ter algumas influências genéticas, pode ser apreendida e implica sempre a capacidade de ter expectativas positivas acerca do futuro e acreditar que o que está para vir é bom. Isto para além da capacidade de ver o melhor da vida. Mesmo nas situações mais problemáticas, desafiadoras e, até, dramáticas, o optimismo traduz-se na capacidade de retirar alguma aprendizagem e algum ponto positivo. (...)"

O livro é "Educar para o Optimismo", Helena Marujo et al, Ed. Presença.

O resto do artigo está aqui.

quinta-feira, março 13, 2008

Avaliação dos professores

O politicamente correcto é dizer:
"Eu não sou contra a avaliação, sou é contra esta avaliação."

Pois bem. Eu sou contra a avaliação dos professores para progredir na carreira.
Não só por saber que em muitos países desenvolvidos ela já foi abandonada e, na maior parte dos que a têm, ela apresenta um carácter formativo e tem funções de feed-back apenas.
Mas porque sei que a competição entre professores nunca irá beneficiar os alunos, se estivermos a falar de educação.
Se acharmos que a função dos professores é a de instrução, então tudo bem, nada a opor a esta ou outra avaliação (desde que não obriguem os professores a fazer uma infinidade de coisas que nada têm a ver com instrução e que os impede de a ela se dedicarem).
Explico melhor: para um filho, a melhor educação é a que é ministrada por pais em competição um com o outro? Ou é melhor quando os pais colaboram?

O que defendo, então?
Uma avaliação formativa para os professores.
E uma avaliação da escola, esta sim, com consequências, isto é, uma avaliação com estabelecimento prévio de objectivos: se não forem atingidos e tal for imputável à escola, a escola tem uma oportunidade de resolver os problemas interna e autonomamente. Se não conseguir, faz-se uma intervenção externa, mesmo ao nível da gestão.

domingo, março 09, 2008

Que lugar para a esperança?




Pacheco Pereira:

Em democracia, quando se vai para a "rua", local nobre e legítimo do protesto, tem que se saber que não se pode continuar nela sob pena de então as coisas estarem muito mal para a democracia. Duvido que nesta luta dos professores exista um plano B. O plano A resultou, está à vista hoje. Podia haver um plano B para 2009, no voto, mas duvido que quando lá se chegar exista uma alternativa no domínio político para o materializar. Por isso temo que disto tudo resulte pouco mais do que desespero apático, ou asneira agressiva. Vamos ver.

Infelizmente, parece-me que Pacheco Pereira tem toda a razão.
Num conflito só existe um plano B se houver espaço para ele.
E já se tornou mais que evidente que, neste conflito entre professores e Governo, esse espaço não existe.
Num conflito é o mais forte que estabelece a maior parte das regras do jogo.
Os professores vieram para a rua porque aqui não há regras nenhumas; aliás, a bem dizer, não há sequer jogo.
Esta marcha foi assim, sem dúvida, uma iniciativa nascida do desespero.
Desespero é o único jogo que este Governo permite aos professores jogarem.
Por isso, planos B?...

Termino, recordando as palavras de Amos Oz, em "Contra o fanatismo":

"Digo que a semente do fanatismo brota ao adoptar-se uma atitude de superioridade moral que impeça a obtenção de consensos." (p. 17)

"No meu mundo, a expressão "chegar a um acordo, a um compromisso" é sinónimo de vida. E onde há vida há compromissos estabelecidos. O contrário de comprometer-me a chegar a um acordo não é integridade, o contrário de comprometer-me a chegar a um acordo não é idealismo, o contrário de comprometer-me a chegar a um acordo não é determinação. O contrário de comprometer-me a chegar a um acordo é fanatismo e morte." (p. 87)

(a fotografia foi retirada da versão internet do Público)


A Marcha dos 100 000

Um centésimo da população portuguesa naquele lugar!
E eu tive colegas ao meu lado que estavam grávidas (a Adelaide); que abdicaram do seu dia de aniversário (a Maria Manuel); que ali estiveram ainda atormentadas com graves doenças (a Luísa e a Júlia); que vieram com longuíssimas horas de viagem; muitas, muitas mulheres que deixaram os seus homens em casa! E que nunca tinham participado numa manifestação!
Alguém acredita que isto não significa, não vai significar nada?
Pelo menos, uma coisa: amanhã, muitos serão os professores e as professoras que vão entrar nas escolas de cabeça levantada, com um novo brilho de orgulho nos olhos a matar os meses e meses de humilhações...

sábado, março 08, 2008

Marcha dos professores

Vou estar lá.

Apesar de já ser titular (e não apenas professor, como a maior parte dos meus colegas).
Apesar de já ter vários cargos (e não estar impedido de os ter como a esmagadora maioria dos meus colegas).
Apesar de já ser do quadro de nomeação definitiva (ao contrário de tantos colegas).
Apesar de ainda ter saúde (ao contrário de alguns colegas que, por estarem doentes, são maltratados pelos alunos, pelos pais e, pasme-se!, pela tutela).
Apesar de ser professor de uma disciplina fácil (e que o Governo torna ainda mais fácil com medidas destas).
E, last but not the least, apesar de detestar manifestações/multidões.

Porque a acção deste Governo levou a que a irracionalidade na Educação ultrapassasse limites absolutamente insuportáveis.

Alguns Mitos da Avaliação de Professores

(retirado de Kenneth D. Peterson, Ph.D., Portland State University, Portland OR)

Myth 1: The central purpose of teacher evaluation is to improve teachers and teaching. The truth is that there is scarce research to suggest that evaluation causes teacher growth. Rather, teachers will improve if you give them enough TIME to work on good ideas: uninterrupted time with students, time to plan and implement what is already known, and sufficient discretionary time to be full human beings. There are other very good reasons to evaluate: to document current good practice, reassure teachers of a needed and effective job, reassure audiences, identify good teaching practices for emulation, and prevent bad evaluation practices.


Myth 2: Better teacher evaluation is just a better rating instrument or framework of teacher behaviors. The truth is that educators do not agree on what should be included in any single catalog of teacher performances or competencies, none could encompass all of what the open-ended nature of teaching should have, teachers are effective using different sets of small numbers of behaviors, and teachers work in varied contexts which call for different competency sets. Comprehensive frameworks, descriptions, systems analysis, and lists of duties (e.g., Danielson, 1996; Heath & Nelson, 1974; Scriven, 1988) help build understanding of good teaching, but they don't cause good evaluation.

Myth 3: Excellent teaching is accomplished by strong performance of 22 (or 27 or 60) components of teaching. Rather, a good teacher performs three or four components extremely well, adequately performs some others, and (to be honest) poorly or spottily performs many other things that a teacher is "supposed" to do. Doing a few things well at the moment carries the entire performances of teaching and learning; the other possible performances simply don't matter at the given time in the real human world of a classroom. It is a misleading strategy to try to assess every possible component, duty, competency, or element of a teacher performance at a point in time in order to understand the overall quality of that teaching.


Myth 4: Specific a priori goals (unique to individual or from a general framework) are needed to evaluate a teacher. Rather, good teaching can be documented after the teaching has been done by highlighting the actual specific outcomes, performances, or preparations that played a role in that specific teacher performance.


Myth 5: A uniform system of teacher evaluation is essential: all teachers should be evaluated the same way. The reality is that teachers are good for different constellations of reasons. They work in quite different settings, with different kinds of demands and criteria for quality. Also, we just cannot get all the information we might want for each instance of teacher evaluation. Fairness demands that all teachers have an equal opportunity to document their quality in the ways most appropriate to them.


Myth 6: Pupil achievement data cannot be used in teacher evaluation, or they can be used for all teachers. Rather, we can get good pupil achievement data for some but not all teachers in a district; and the teacher evaluation system should reflect the state-of-the-art of data availability.


Myth 7: Teacher quality can be objectively measured and known by using a sufficiently accurate checklist and rating scheme, or by comparing pupil achievement test scores. Rather, all evaluation is subjective. However, there is good subjectivity and bad subjectivity. Good subjectivity is (a) based on the best objective evidence available, (b) controlled for individual bias, (c) involves the interested audiences, and (d) employs some public logic.

(...)

(o que está a negrito são destaques da minha responsabilidade)

segunda-feira, março 03, 2008

Maria Gabriela Llansol 1931-2008

"(...) Nada mais doce do que
um lugar solitário, liberto do medo,
ou quando o medo o liberta."



e


"O mundo existe e o Vergílio morreu, mas
mais uma palavra me pede a escrita."


Onde, agora?


(de "Inquérito Às Quatro Confidências")


Adenda:
Uma sensação aguda de perda. Não foi logo que soube de onde vinha essa dor.
É que Maria Gabriela Llansol foi em mim uma catalisadora de um segundo nascimento para a literatura, com a trilogia da Geografia de Rebeldes. Os nomes ainda invocam em mim espaços abertos de luz e de nitidez: O Livro das Comunidades... A Restante Vida... Na Casa de Julho e Agosto...
Depois, a intensa, incondicional e comovente amizade por Vergílio Ferreira, sobre quem eu não tenho palavras para dar uma ideia do que ele sempre representou para mim.
Sim, que mágoa súbita e triste, ao saber da sua morte.