quarta-feira, junho 29, 2022

Um mês VERDADEIRAMENTE NEGRO para as crianças deste país

 


A 8-06-2022, soubemos que a Segurança Social corta o apoio alimentar a 30 000 famílias pobres. Claro que quem é mais prejudicado com estas medidas é sempre o elo mais fraco: as crianças.

O momento também não podia ter sido melhor escolhido para prejudicar especialmente estas crianças: quando as escolas fecham e deixam de proporcionar refeições diárias a crianças com necessidades alimentares não satisfeitas. E quando a inflação aumenta brutalmente e os salários estagnam.

A 19-06-2022, fomos informados que, entre janeiro e abril deste ano, um em cada quatro subsídios de educação especial foi cortado pela Segurança Social. Trata-se, portanto, de uma em cada quatro crianças, que se encontra em profunda desvantagem em relação às outras, muitas vezes a precisar de terapias que só o privado fornece, vendo as suas possibilidades de uma vida normal esfumarem-se.

A 20-06-2022, somos confrontados com a notícia de que uma menina de 3 anos, Jéssica Biscaia, é assassinada pelos adultos seus “cuidadores”. E como nós sabemos bem que isto não é um caso apenas, mas que se trata da ponta de um imenso, gigantesco iceberg!

A 23-06-2022, ficámos a saber que o Governo vai prolongar apenas por mais um mês um apoio de 60 euros às famílias mais carenciadas. Sendo o corte desse apoio coincidente com o fecho das escolas que já referi anteriormente.

Também a 23-06-2022, recebemos a notícia de que: Mais de 43 mil casos de perigo (45032 processos abertos, isto é, houve muitas crianças com mais de um processo aberto) foram comunicadas às Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) em 2021, mais 8,6% do que em 2020. E ainda que: A Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Criança e Jovens destaca as crianças com 2 anos ou menos, faixa etária que registou 5305 comunicações em 2021, um acréscimo de 3,6% (359) relativamente ao ano anterior.

Mas o pesadelo deste mês de junho para as crianças não acabou aqui.

Primeiro, uma informação: segundo a CPCJ, foram as escolas (além das forças de segurança) quem mais sinalizaram casos de perigo das crianças. É previsível: com a escolaridade obrigatória, todos os miúdos têm de passar pela escola. E os professores, apesar de assoberbados e esgotados com o trabalho com que o Ministério liquida as suas energias, conseguem ainda ter atenção e humanidade suficientes para levar estes casos à Comissão.

Acrescente-se que a Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Criança e Jovens destaca as crianças com 2 anos ou menos, faixa etária que registou 5305 comunicações em 2021, um acréscimo de 3,6% (359) relativamente ao ano anterior.

Claro que estas crianças, que não estão dentro da escolaridade obrigatória, não se encontram sob o olhar de instituições oficiais. Principalmente as crianças pertencentes a famílias mais pobres que não têm dinheiro para as colocar numa instituição privada com um mínimo de qualidade.

Portanto, é fundamental e URGENTE uma rede pública de creches para garantir a segurança dessas crianças.

A 24-06-2022, descobrimos com assombro que o PS chumbou no Parlamento todos os projetos apresentados para a criação de uma rede pública de creches e inclusão das crianças até aos 3 anos no sistema educativo.

Faltam-nos as palavras.

Nestes tempos cada vez mais e mais sombrios, surge uma interrogação aflita:

Como contrariar esta onda de profunda indiferença dos poderes públicos a este constante abandono à sua má sorte de tantas e tantas crianças?

Como dar voz a quem, literalmente, não tem mesmo voz no espaço público?

Temo que sejam interrogações sem resposta…



quarta-feira, junho 15, 2022

Uma utopia para a Escola

 

(…) a utopia socialista não é o fim do trabalho, mas a libertação da criação humana para trabalhos com sentido. (Raquel Varela - Qual o sentido do trabalho?)

No entanto, na minha opinião, se não se começa por garantir exatamente esta revolução no trabalho escolar, as crianças e jovens, quando chegam ao mundo do trabalho, já se encontram habituados e formatados para o trabalho alienante, aceitando-o como natural e inevitável. Ou seja, é nas condições de trabalho escolar que estão as sementes daquilo que defendemos que seja o trabalho posterior na idade adulta.

Por isso, seria fundamental o estudo das atuais condições de trabalho nas escolas, quer as materiais (alguns exemplos: mobiliário igual para todos os tipos de corpos, cadeiras duras e desconfortáveis, extremo frio e extremo calor, etc.), quer as imateriais (alguns exemplos: a competição disfarçada ou explicitamente promovida; o confinamento a um lugar sentado com saídas controladas ao longo de um dia inteiro; exigências excessivas que só miúdos de famílias socioeconomicamente favorecidas conseguem cumprir, nomeadamente com recurso a múltiplas explicações ao longo dos anos; etc.).

Trata-se, portanto, de propor uma utopia primeiro e principalmente para as escolas. Mas se, hoje em dia, já não se fala muito de utopias para a sociedade, sobre as escolas desceu então um manto de sufocante silêncio.

A minha utopia para a escola pode ser expressa introduzindo adaptações mínimas (por mim indicadas com […]) a um trecho de John Bellamy Foster do livro “Trabalhar e Viver no Séc. XXI” (p.19):

(…) Outros defenderam a necessidade de transcender todo o sistema de [ensino] trabalho alienado, fazendo do desenvolvimento de relações de [aprendizagem] trabalho criativas o elemento central de uma nova sociedade revolucionária. (…)

Eu pertenço ao grupo destes “outros”.

quinta-feira, junho 02, 2022

Cursos para futuros pais

 


Hoje, dia Mundial da Criança, o Público traz um artigo extenso com o título “O espaço da família é o último reduto onde é tolerado bater numa criança”


Há décadas que venho defendendo cursos para futuros pais.

Os pais não sabem, nem têm muitas vezes a hipótese de saber como educar uma criança numa e para uma sociedade cuja complexidade e exigência atual nada têm a ver com as de qualquer sociedade do passado, mesmo recente (por exemplo, de quando eles foram crianças). 

Cursos meramente informativos, mas obrigatórios para quem quisesse ter filhos - já se faz isto com aqueles que adotam crianças, porque não generalizar ao resto da população?

Talvez assim se pudesse começar a travar este "massacre" - «75% dos menores com sete anos são vítimas de agressão psicológica e de castigos corporais, (...)» - Como é isto possível!!??