sexta-feira, agosto 02, 2019

O massacre das crianças continua

De tempos a tempos, vamos tendo (poucas) informações acerca do que as crianças passam no seu dia-a-dia. Foi agora com a notícia desta sua exposição em casa ao fumo de tabaco dos adultos.

Como foi há uns meses a sua sujeição a maus tratos, segundo o projeto Geração XXI
Recordo: 75% por cento sofre de maus tratos; 10% sofre de maus tratos violentos… que se traduzem no serem chicoteadas com um cinto, no serem espancadas com um objeto duro e no serem queimadas – sim, com cigarros, com fogões acesos e com água a ferver, só para dar alguns exemplos que os hospitais conhecem.

Porque na nossa sociedade as crianças quase nunca têm voz nem têm quem fale por elas suficientemente alto (como, por exemplo, os animais têm). Por baixo do silêncio que lhes impomos (como querem muitos, as crianças são para serem vistas, não para serem ouvidas), corre um imenso rumor de sofrimento invisível que nos recusamos a reconhecer e sobre o qual nem sequer desejamos falar ou discutir.

Na verdade, apenas uma lei frágil (que quase toda a gente ignora) as defende da barbárie, mas pouco faz (ou pode fazer?) para as proteger da violência física e psicológica das famílias.

E os políticos? Vejam-se as Grandes Opções do Plano para 2019, em que a palavra criança aparece 16 vezes - juntamente com a palavra idosos e referindo genericamente a proteção social: 1 vez. Com questões económicas: 11 vezes. Com saúde visual: 4 vezes. E mais nada. Como se a infância se reduzisse a isto.

Acredito que, tal como nós agora pensamos o que pensamos das sociedades esclavagistas, daqui a 500 anos (quem me dera que fosse menos, muito menos) as pessoas irão julgar a sociedade atual como incompreensivelmente selvagem e bárbara pela forma como estamos a tratar hoje as crianças.

sábado, julho 20, 2019

Exames e crueldade

«“Uma das provas mais difíceis de que há memória.” É deste modo que a Sociedade Portuguesa de Física (SPF) classifica o exame da 2.ª fase de Física e Química A do 11.º ano, realizado nesta quinta-feira por 21.258 alunos. (…)» (Público, 20/07/2019)
(Repare-se que não é uma associação de professores que vem dizer isto, é uma sociedade de físicos, de cientistas.)
Interrogo-me que espécie de satisfação ou de felicidade tirarão os anónimos autores desta prova (e doutras semelhantes) por assim darem largas à sua crueldade. Porque eles sabem como os exames decidem da vida futura dos jovens. E que quanto mais difíceis forem, mais excluem aqueles que não pertencem às elites endinheiradas.
Na verdade, sinto-me crescentemente assustado com esta sociedade cada vez mais fria e desumana.