sexta-feira, agosto 28, 2009

Um imenso pesar ... e duas histórias!

Sempre que oiço professores a falar, o tema é recorrente: as humilhações que lhes foram infligidas ao longo destes últimos anos. E não falo das que foram infligidas à classe na sua totalidade, não, falo daquelas de que cada um foi vítima individualmente.
E sinto pena, uma pena imensa destas pessoas esforçadas, mulheres na sua maioria, generosas e lutadoras, não só na escola mas também nas suas casas. Pena pelo seu sofrimento moral e pela sua incapacidade de transformar esse sofrimento numa acção libertadora, mergulhando antes cada uma, a pouco e pouco, num mar de amargura sem esperança nem luz.

A propósito deste assunto, ocorrem-me duas histórias. Duas histórias que representam os dois lados duma mesma moeda, da situação destes(as) professores(as).
Eis a primeira:

O filósofo Aristipo cruzou-se um dia com Diógenes, que estava a comer um prato de lentilhas, e disse-lhe:
- Ai, Diógenes, se aprendesses a ser mais submisso ao imperador não terias de comer essas lentilhas!
Diógenes parou, fitou o seu abastado interlocutor, e respondeu-lhe:
- Ai de ti, Aristipo! Se aprendesses a comer lentilhas tu já não terias nunca mais de ser submisso ao imperador.

O imperador, hoje em dia, toma muitos nomes e muitas formas: ministros, direcções, inspectores... e, talvez, o mais terrível de todos, pela sua anónima implacabilidade: os bancos e as dívidas com que eles escravizam os incautos.

Mas vamos ao outro lado da moeda. Eis a 2ª história:

Uma vez, um profeta chegou a uma cidade e tentou converter os seus habitantes. No princípio, tinha muita gente a ouvi-lo mas, a pouco e pouco, foram-no deixando sozinho a falar. Um dia, alguém lhe perguntou:
- Porque continuas a pregar? Não te dás conta de que já ninguém te ouve?
Ao que o profeta lentamente respondeu:
- No princípio eu pregava na esperança de convencer as pessoas a mudar de vida. Agora, se continuo a pregar, faço-o, mas para que as pessoas não me obriguem a mim a mudar de vida...

Portanto, por outro lado, aquelas mesmas pessoas que eu lamento, elas no fundo também acabam por ser verdadeiramente dignas de admiração por não se deixarem afastar pelos que têm usado o poder para fins funestos...
Assim seja, desde que elas nunca baixem os braços, desde que nunca desistam de lutar!

quinta-feira, agosto 27, 2009

Ensinar...

Revi o filme "A Sombra de um Homem", cujo título original é "The Browning Version", de Anthony Asquith.

É, de longe, o meu filme preferido sobre ser-se professor.

Michael Redgrave desempenha magistralmente o papel de um professor a quem a usura dos anos quase derrotou os sonhos da juventude: o sonho de ser um professor excelente e o de conseguir transmitir a sua paixão pela cultura clássica e, em particular, pela peça Agamémnon de Ésquilo (de que ele próprio fez uma tradução incompleta).

O filme é de uma beleza e de uma inteligência inultrapassáveis, que quase nos mantêm sufocados todo o tempo, a nós que amamos realmente a tarefa e a missão de ensinar.

E este filme fez-me voltar à questão de qual é a minha verdadeira vocação. Questão que, a bem dizer, não se põe: a minha vocação tem sido ao longo dos anos e ainda é a de ensinar, sem dúvida alguma.

De tal tenho sido impedido nos últimos anos (de ensinar, note-se, apesar de eu bem ter tentado); além de que amo demasiado esta missão para deixar que me obriguem a participar no seu abastardamento: por isso, o meu futuro não vai passar de certeza pela escola pública, isso para mim está já fora de questão (só devido a um absoluto desespero é que eu lá voltarei, ou a um mais que improvável volte-face do que lá se está a passar).

Mas ainda não desisti completamente do sonho de... ensinar Matemática!

terça-feira, agosto 04, 2009

Que futuro?

Respondi a um anúncio da Escola Internacional de Vilamoura. Não obtive resposta... ainda? Mas não estou preocupado (embora ache que a escola deveria enviar um mail de resposta aos professores não aceites, espero que faça isso).

Confesso que a ideia do trabalho de professor por enquanto me causa um certo desgosto. Está a ser difícil esquecer-me:
a) do rancor enviesado das pessoas aos professores,
b) dos alunos malcriados e violentos (porque ia todos os dias para a escola com medo do que me pudesse acontecer, a mim e aos meus colegas), e
c) do desprezo com que o governo nos tratava a todos nós professores.
Não sei se isto é estar traumatizado, mas que anda lá perto, anda.

Daí que esteja a encarar com verdadeiro entusiasmo é mesmo uma mudança de carreira. Para isso inscrevi-me, e fui admitido, a um Mestrado em Energias Renováveis. É por aqui que eu vou investir todos os meus esforços.

E do mundo da educação, talvez apenas as explicações, numa relação pessoal com aluno a aluno, em que posso finalmente fazer aquilo que eu sei fazer bem e que gosto de fazer: ensinar.

Embora, se mudar de carreira, fique com pena de deixar a Educação. Primeiro, porque com o espírito de serviço público que é ainda o meu, me suscita horror os milhares de euros que o Estado investiu em mim e na minha formação e que vão assim ser deitados à rua. Depois, porque a minha vocação e o meu talento para esta área, capazes de beneficiar tanto o meu país, vai deixar de ser posta a uso. De certa maneira, é triste.

A área para onde pretendo redireccionar a minha vida profissional, energias renováveis, também beneficia o país. Mas agora, a minha preocupação já não é simplesmente o que é melhor para os alunos e para os pais. Não, agora, vai passar a incidir muito no que é que é melhor para mim... Claro, sem nunca deixar de fazer o meu trabalho com toda a competência necessária. Mas é diferente...