sábado, junho 04, 2016

Marcas da Grécia

Passados alguns dias sobre a viagem à Grécia, que memórias comovidas persistem em regressar, atravessando de surpresa os meus dias?



  • Primeiro que tudo, a companhia doce, alegre, afetuosa, sempre disponível e paciente da Adriana!


  • Depois, a forma maravilhosa como fomos acolhidos pela nossa amiga Ana Maria Soares. Inesquecível!

  • Também o acolhimento dos nossos amigos gregos. Recordo com saudade o Constantinos e outros. Mas, em particular, do Christo que nos acompanhou em vários passeios e se despediu de nós com várias prendas lindas que nos ofereceu.

  • A simpatia extremamente afável dos gregos: nos táxis (quase sempre com música do folclore grego na rádio), nos restaurantes (oferecendo sempre uma sobremesa e uma bebida forte no fim da refeição, por exemplo), no aluguer dos carros, nas lojas (dando pequenas ofertas; um íman, dois donuts,), nos museus (baixando preços), etc.

  • Dimitris Christoulas que, em 2012, se suicidou em frente ao Parlamento na Praça Syntagma, não só a fim de não perder a sua dignidade, mas também para apelar à coragem e honra dos gregos contra os políticos corruptos.

  • A Biblioteca de Pantainos; depois da Acrópole turística, a solidão destas ruínas. Tudo pode cair e desaparecer, mas os livros, uma biblioteca? É como se uma força maior que a morte tenha atuado aqui, um vento terrível que derrubou os edifícios e a arrancou as páginas dos livros, lançando-os no espaço.





  • Num restaurante de Creta, em Heraklion, depois de um almoço regado com retsina, a conta vem com um folheto onde surgem alguns versos do poema Ithaca, de Cavafy, exatamente nesta tradução:

Hope that your journey is a long one. 
Many will be the summer mornings 
upon which, with boundless pleasure and joy, 
you will find yourself entering new ports of call.

E, naquele lugar, naquele momento, começo a ouvir a voz de Sean Connery, com a música de Vangelis... e as lágrimas subiram-me aos olhos.


  • O trânsito desorganizado de Atenas, mas sem agressividade, tolerante e com espaço para todos. Na estrada, mal nos aproximamos de um carro, este afasta-se para a berma para nos dar passagem.

  • A cidade de Atenas, sempre com surpresas a surgirem aos nossos passos: ruínas pouco conhecidas; cafés deslumbrantes escondidos para lá de portas perfeitamente anónimas; as varandas sempre a transbordar de plantas e de vegetação; mercados de rua com as bancas arranjadas com preocupações estéticas (as batatas empilhadas em pirâmides perfeitas, flores espalhadas por cima da fruta, dos morangos, por exemplo, etc.).

  • Palácio de Knossos: luminoso e cheio de belíssimas energias!






  • Delfos: os deuses mortos nos templos em ruínas são o reflexo do nosso vazio espiritual - reflexo ou promessa? Novos deuses, novos mortos? No fim, a poeira estelar a vogar no silêncio sem fim.



  • O livro cuja leitura me acompanhou nesta viagem (graças à simpatia da Ana Maria Soares) e que deixou em mim um rasto prolongado: Diário da Abuxarda, de Marcello Duarte Mathias.