Sempre que escrevo, falho.
Primeiro, porque não consigo ser eu, mesmo eu, a escrever.
Segundo porque nunca consigo contar o que se passa ou passou, acabo por contar outra coisa qualquer.
Terceiro, porque na realidade as palavras são as folhas do chá presas no coador, nunca o chá que se bebe.
Por isso, é sempre preferível a poesia, porque dela faz parte integrante o silêncio e o não dito.
Sim,
gasto a noite a olhar
à espera duma palavra, dum som
(que eu existo para ti,
não me basta o calor)
Sonho atormentado porque hoje
sei que a minha vida vai estremecer
Não estou sozinho mas ignoro-o
por isso sou um peixe fora da água
eu e o meu écran LCD
nas águas da noite sem fugas
jogos cegos de luz onde o silêncio
se quebra de encontro aos meus lábios
Justamente estou aqui nesta noite
de amantes sem um presente
na escuridão que brilha, como murmurou
a que do silêncio construiu um olhar
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