domingo, julho 26, 2009

De partida

Uma acção de formação, a arrumação e o empacotamento das minhas coisas, bem como o encerramento das últimas "contas" que tenho na escola e aqui em Lisboa, têm como consequência a falta de disponibilidade para vir aqui.

Mas hoje (que vou ficar sem o computador que vai para o "estaleiro") não posso deixar de dar testemunho da minha partida depois de amanhã, 3ª feira.

É uma vida de 25 anos de ensino que deixo para trás. Há limites para o que nos fazem e para o que nos obrigam a fazer! Mas sobre isto já escrevi muito. Não vou olhar para trás.

Importa agora é a vida nova que me espera, a vida que eu escolhi, a vida que eu vou construir.

Mas não sozinho. Vou viver com uma pessoa maravilhosa, acabando finalmente com uma solidão de 50 anos (há sonhos que se realizam mesmo!).

Volto à Universidade como aluno para consolidar a reorientação que pretendo dar à minha vida.

E vou estar aberto a todas as oportunidades que me surjam de viver coisas boas, de aprender com tudo o que me aconteça e de me envolver em novos e entusiasmantes desafios!

Assim será!

O que os bons professores podem fazer

Escrevi isto hoje n'A Educação do Meu Umbigo, a propósito de uma entrevista da ministra:

Eu sou um bom professor – as notas mais altas obtidas por alunos da minha escola nos exames foram de alunos meus.
Recusei esta avaliação – não entreguei os objectivos individuais, não fui a acções para avaliadores, não fui avaliador e não entreguei a ficha de auto-avaliação.
Não tenho medo de avaliação nenhuma. Simplesmente acho este sistema profundamente lesivo para o ensino relativamente ao ideal de escola pública que tenho.
Sei que o governo não tem razão porque, se a tivesse, não precisaria de mentir como o faz.
Os bons professores são bons em qualquer outro trabalho. Acredito nisto e, por isso, com 51 anos e 24 de ensino, vou-me embora (sem reforma).
Sim, porque há e tem de haver um limite para o que nos fazem e para o que nos obrigam a fazer.

Esclarecimento: As notas referem-se à disciplina de Matemática que leccionei durante muitos anos.

quinta-feira, julho 09, 2009

O despacho

"(...) que a Senhora Subdirectora-Geral, por despacho exarado em 22/06/2009, autorizou a licença sem vencimento de longa duração ao docente Rui M... (...)”


Chegou-me ontem às mãos! Desde 23 de Março que estou à espera, mas chegou!

Lanço os últimos olhares para trás. E que deixo?
Acima de tudo, muitas, muitas humilhações com origem neste governo PS.
Humilhações e também medo de alguns alunos, da sua violência, da sua cobardia, da sua ininteligibilidade.
Amigos, professores e funcionários.
Muitos alunos, excelentes pessoas, alguns maravilhosos comigo, verdadeiros companheiros no trabalho e na aprendizagem; e uns autênticos heróis por não se deixarem arrastar pelos outros!
Um trabalho (professor de Educação Tecnológica) absolutamente nada entusiasmante.

Olho agora para a frente e que vejo?
O início de uma vida com alguém que amo e que partilha comigo os mesmos gostos, necessidades e valores. O primeiro dos quais (ambos estamos de acordo) será / tem sido o cuidar do outro, de nós, da relação.
Depois, a esperança de poder fazer o que realmente gosto e melhor sei: ensinar matemática. Mas também, se tiver de ser, com uma atitude muito positiva sobre aceitar quaisquer novos desafios profissionais que surjam.

O futuro é uma incógnita, está completamente em aberto para eu o construir.

Sou livre.

quinta-feira, julho 02, 2009

Valores

(...) Eu dei um modesto contributo para a comédia, divulgando no ProfAvaliação uma mão cheia de fichas de auto-avaliação preenchidas. Em troca, recebi emails de agradecimento com este teor:"Ramiro! Obrigado pela dica. Isto é que foi fazer copy and paste! Sabes uma coisa? Demorei menos tempo a preencher a FAA do que a escrever o Relatório Crítico"." Na minha escola, optámos por entregar fichas de auto-avaliação praticamente iguais. Foi cá um copianço!" (...)

(In "De comédia a farsa. (...)", Ramiro Marques)

Se os actores da farsa são os outros, a mim não me causa particular problema.
Como são os professores, fico triste: já nem precisamos que nos rebaixem, nós fazêmo-lo sozinhos.
Não entreguei os o.i., não entreguei a ficha de auto-avaliação.
E nem entreguei qualquer justificação. Para mim isso seria ainda admitir que o Governo e o ME podiam ter razão. Não têm e eu desprezo-os.