Estive na manifestação contra a Guerra no Iraque (com
milhares de pessoas em Portugal e mais uns milhões de pessoas por todo o
mundo).
Estive nas megamanifestações dos professores.
E noutras. Sabemos a resposta que obtiveram por parte do poder.
Fazer manifestações dá-nos a ilusão de que fizemos alguma
coisa. Mas não fizemos nada, a não ser mostrar que “não estamos a gostar”. Daí
até conseguirmos demonstrar que “não aceitamos” vai uma distância considerável. E exige
de nós bastante mais do que a participação numa simples manifestação (por mais
convictamente zangada e/ou cívica que ela se revele).
Uma manifestação pode ter algum efeito numa democracia
plena. Há muito que não estamos a viver numa democracia plena.
Para enfrentar com sucesso o poder instalado (do qual o poder
político é, na maior parte das vezes, apenas um mero testa-de-ferro) outros
meios são necessários.
No regime em que estamos a viver, só nos restam dois tipos
de meios: a luta armada (foi assim que o 25 de Abril foi feito, com as armas a
liderarem a iniciativa) ou a resistência não-violenta, que eu prefiro (e que
nada tem de passiva, note-se!), embora implique grandes sacrifícios pessoais e
familiares.
Não há melhor exemplo que a clássica história dos
acontecimentos que se iniciaram com Rosa Parks, em 1955, no Sul dos EUA. Tendo
pago o seu bilhete num autocarro, mandaram-na levantar-se do seu lugar para que
um branco se sentasse. Ela recusou. Foi presa.
Foi anunciado um boicote aos autocarros pela comunidade
negra. Esse boicote durou 381 dias, tendo a maior parte das pessoas feito o
sacrifício de andar sempre a pé. Mas a lei que permitia estas iniquidades mudou. A
empresa teve de escolher entre a falência ou a justiça. Optou pela última.
É que esta linguagem (a que põe em causa os seus lucros) é a
que os empresários, banqueiros, financeiros e economistas, cuja ganância tem levado as famílias e o país à ruína,
entendem.
E nós? Perceberemos o que temos de fazer? E quereremos
fazê-lo?