A propósito deste texto de Fernanda Câncio:
Concordo com tudo o que diz, embora também ache que só pode ser uma coisa boa alargar a solidariedade a muitas outras áreas e não apenas à do jornalismo.
No entanto, não posso deixar de incluir aqui uma interrogação. Durante alguns meses fui leitor deste jornal e estes jornalistas pregavam claramente as leis do mercado. Então, fico perplexo por, quando elas lhes batem à porta, virem aflitos evocar as leis da solidariedade. Só espero (não estou a ironizar) que tenha sido uma aprendizagem que eles tenham feito.
A vida. Tão pouco e tão tanto. (...) E todavia eu sei que "isto" nasceu para o silêncio sem fim... (Vergílio Ferreira)
sábado, fevereiro 27, 2016
sexta-feira, fevereiro 12, 2016
A propósito do livro The Happiness Industry, de William Davies
E
se a maior ameaça ao capitalismo não for nenhuma revolução, nem nenhum
movimento colectivo de contestação, mas for simplesmente o desinteresse e a
desmotivação do trabalhador?
A
indústria da felicidade e o capitalismo (que, na sua busca cega de controlo
social, precisa de trabalhadores maximamente envolvidos, entre outras coisas,
para aceitarem com satisfação todas as violências que lhes queiram impingir,
por exemplo, salários reduzidos, horas de trabalho sem limites, exigências
absurdas de obediência canina, etc), parece que juntaram forças para responderem
a esta ameaça.
Acrescento
que, na minha opinião, para serem bem sucedidos, a indústria da felicidade e o
capitalismo têm estado a realizar um trabalho prévio de marketing, a fim de que
todos possam acabar por aceitar sem discussão alguns dogmas, a saber:
1
– Todos sem exceção podem sentir-se felizes todo o tempo que quiserem.
2
– A felicidade pode ser comprada (através de livros, DVD’s, workshops,
psicoterapias, drogas legais e ilegais, suplementos alimentares, etc.)
3
– Logo, se a pessoa não for feliz, a culpa é dela e só dela.
4
– Se a culpa é dela, então merece sem dúvida ser punida.
5
– Dada a sua culpa, a punição razoável é a pessoa ser despedida e ficar sem
quaisquer ajudas ou compreensão do Estado.
6
– São irrelevantes a história da pessoa, a sua saúde, os seus genes ou o
contexto social e laboral em que está a viver – a culpa é sempre da pessoa, de mais
ninguém e de mais nada.
Ver The Cost of Happiness e All the Happy Workers.
A questão que sobra é o que fazer para escapar a esta tentativa de controlo sobre as nossas vidas? O livro não nos dá respostas diretas a isto. Posso falar da minha experiência.
A primeira ideia a referir é que uma ação que não seja coletiva, poucos efeitos terá. Sim, a célebre frase de Gandhi, "Sê a mudança que queres ver nos outros", é útil para todos nós, sem dúvida. Mas eficaz? Ela foi-o para Gandhi que tinha os olhos de quase o mundo inteiro em cima dele e tudo o que ele fizesse obtinha uma enorme repercussão. Mas nós?... Acredito que só por uma ação coletiva podemos ter alguma esperança de obter algum resultado (e nem mesmo assim é seguro).
A segunda ideia, que partilho aqui, passa por reconhecer que o maior mal é a ignorância. Tenho percorrido a minha vida a lutar contra a sensação de verdade associada às minhas ideias, a duvidar delas e a questioná-las, e a lutar contra a minha ignorância. Ignorância de conhecimentos, mas também de sabedoria; ignorância tanto sobre o mundo exterior, como sobre o mundo interior. Isto ajuda-me a tornar-me muito céptico em relação a quaisquer ideias que me queiram vender.
A terceira ideia consiste em apostar na prevenção. Tenho procurado ficar à parte do mainstream, principalmente quando há o risco de eu ficar nas mãos de ricos e poderosos (não, não podemos confiar neles - não sou eu que sou paranóico, há múltiplos estudos e investigações científicas que demonstram à saciedade que eles não são confiáveis). Só isto: não nos deixarmos cair nas mãos deles, mesmo que isso implique um status bem desagradável para nós.
A questão que sobra é o que fazer para escapar a esta tentativa de controlo sobre as nossas vidas? O livro não nos dá respostas diretas a isto. Posso falar da minha experiência.
A primeira ideia a referir é que uma ação que não seja coletiva, poucos efeitos terá. Sim, a célebre frase de Gandhi, "Sê a mudança que queres ver nos outros", é útil para todos nós, sem dúvida. Mas eficaz? Ela foi-o para Gandhi que tinha os olhos de quase o mundo inteiro em cima dele e tudo o que ele fizesse obtinha uma enorme repercussão. Mas nós?... Acredito que só por uma ação coletiva podemos ter alguma esperança de obter algum resultado (e nem mesmo assim é seguro).
A segunda ideia, que partilho aqui, passa por reconhecer que o maior mal é a ignorância. Tenho percorrido a minha vida a lutar contra a sensação de verdade associada às minhas ideias, a duvidar delas e a questioná-las, e a lutar contra a minha ignorância. Ignorância de conhecimentos, mas também de sabedoria; ignorância tanto sobre o mundo exterior, como sobre o mundo interior. Isto ajuda-me a tornar-me muito céptico em relação a quaisquer ideias que me queiram vender.
A terceira ideia consiste em apostar na prevenção. Tenho procurado ficar à parte do mainstream, principalmente quando há o risco de eu ficar nas mãos de ricos e poderosos (não, não podemos confiar neles - não sou eu que sou paranóico, há múltiplos estudos e investigações científicas que demonstram à saciedade que eles não são confiáveis). Só isto: não nos deixarmos cair nas mãos deles, mesmo que isso implique um status bem desagradável para nós.
quarta-feira, fevereiro 03, 2016
Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia
"A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia é um documento que contém disposições
sobre os direitos humanos, "proclamada solenemente" pelo Parlamento Europeu, pelo Conselho da União Europeia e pela Comissão Europeia em 7 de dezembro de 2000. Uma versão
adaptada da Carta foi proclamada em 12 de dezembro de 2007, em Estrasburgo, à frente da assinatura do Tratado de Lisboa, que faz com que a Carta seja juridicamente vinculativa em
todos os países, exceto na Polónia e no Reino Unido. (...)" (Wikipedia)
"Artigo 1.o
Dignidade do ser humano
A dignidade do ser humano é
inviolável. Deve ser respeitada e protegida."
"do ser humano". Não diz "do dinamarquês", nem do "sueco", nem "do húngaro", nem sequer "do europeu".
Diz "do ser humano". Qualquer que ele seja e venha de onde vier.
Diz "do ser humano". Qualquer que ele seja e venha de onde vier.
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