quinta-feira, fevereiro 08, 2018

A reação do espectador à intensidade do ator


Diz Gonçalo M. Tavares (GMT), no Jornal de Letras de 31 de Janeiro de 2018:

«Como medir a intensidade de um ator? (…)
(…) Uma hipótese de resposta: pela reação do espectador, pelo impacto provocado no espectador, eis a pista. (…)»

Pergunto-me: há linearidade entre a reação do espectador e a intensidade do ator que a provoca?

(Aliás, uma outra questão interessante seria determinar se a intensidade, tal como aqui é entendida por GMT, tem só a dimensão quantitativa, ou também tem uma dimensão qualitativa? Isto é, por hipótese também, uma intensidade poderia ser forte e, no entanto, desajustada, inadequada? Não irei discutir isto aqui e assumirei que inclui ambas  em sintonia.)

Penso que nos níveis baixos e médios se pode aceitar a correspondência. Assim:

Se a intensidade for má, surgem protestos, verbais ou não (como, por exemplo, abandonar a sala antes de terminado o espetáculo).

Se for medíocre, o espectador distrai-se, boceja, perde-se no telemóvel, comenta para o lado.

Se for suficiente, ele aplaude brevemente e sai.

Se for boa, aplaude convicta e demoradamente, como se não quisesse abandonar a sala, como se desta maneira alcançasse prolongar a experiência da intensidade.

E se for muito boa ou excecional? Que meios excecionais pode usar o espectador para mostrar que assistiu a algo de excecional?

Penso que encontro a resposta num velho livro sobre Coimbra, lido há largos anos na Biblioteca Nacional, e cujo nome já perdi.

Segundo relatado aí, há muitos, muitos anos, a forma que o público tinha de mostrar a sua total rendição à excelência de uma serenata de fados era acolhê-la com o mais absoluto e reverencial silêncio.

Parece-me perfeito.

Pois não é assim que permanecemos quando ficamos maravilhados e assombrados por uma experiência artística e estética ímpar: em completo silêncio?