Diz Gonçalo M. Tavares (GMT), no Jornal de Letras de 31 de
Janeiro de 2018:
«Como medir a intensidade de um ator? (…)
(…) Uma hipótese de resposta: pela reação do espectador,
pelo impacto provocado no espectador, eis a pista. (…)»
Pergunto-me: há linearidade entre a reação do espectador e a
intensidade do ator que a provoca?
(Aliás, uma outra questão interessante seria determinar se a
intensidade, tal como aqui é entendida por GMT, tem só a dimensão quantitativa,
ou também tem uma dimensão qualitativa? Isto é, por hipótese também, uma
intensidade poderia ser forte e, no entanto, desajustada, inadequada? Não irei
discutir isto aqui e assumirei que inclui ambas em sintonia.)
Penso que nos níveis baixos e médios se pode aceitar a
correspondência. Assim:
Se a intensidade for má, surgem protestos, verbais ou não
(como, por exemplo, abandonar a sala antes de terminado o espetáculo).
Se for medíocre, o espectador distrai-se, boceja, perde-se
no telemóvel, comenta para o lado.
Se for suficiente, ele aplaude brevemente e sai.
Se for boa, aplaude convicta e demoradamente, como se não
quisesse abandonar a sala, como se desta maneira alcançasse prolongar a experiência
da intensidade.
E se for muito boa ou excecional? Que meios excecionais pode
usar o espectador para mostrar que assistiu a algo de excecional?
Penso que encontro a resposta num velho livro sobre Coimbra,
lido há largos anos na Biblioteca Nacional, e cujo nome já perdi.
Segundo relatado aí, há muitos, muitos anos, a forma que o público tinha de
mostrar a sua total rendição à excelência de uma serenata de fados era
acolhê-la com o mais absoluto e reverencial silêncio.
Parece-me perfeito.
Pois
não é assim que permanecemos quando ficamos maravilhados e assombrados por uma experiência
artística e estética ímpar: em completo silêncio?
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