(…) a utopia socialista não é o fim do trabalho, mas a libertação da criação humana para trabalhos com sentido. (Raquel Varela - Qual o sentido do trabalho?)
No entanto, na minha opinião, se não se começa por garantir exatamente esta revolução no trabalho escolar, as crianças e jovens, quando chegam ao mundo do trabalho, já se encontram habituados e formatados para o trabalho alienante, aceitando-o como natural e inevitável. Ou seja, é nas condições de trabalho escolar que estão as sementes daquilo que defendemos que seja o trabalho posterior na idade adulta.
Por isso, seria fundamental o estudo das atuais condições de trabalho nas escolas, quer as materiais (alguns exemplos: mobiliário igual para todos os tipos de corpos, cadeiras duras e desconfortáveis, extremo frio e extremo calor, etc.), quer as imateriais (alguns exemplos: a competição disfarçada ou explicitamente promovida; o confinamento a um lugar sentado com saídas controladas ao longo de um dia inteiro; exigências excessivas que só miúdos de famílias socioeconomicamente favorecidas conseguem cumprir, nomeadamente com recurso a múltiplas explicações ao longo dos anos; etc.).
Trata-se, portanto, de propor uma utopia primeiro e principalmente para as escolas. Mas se, hoje em dia, já não se fala muito de utopias para a sociedade, sobre as escolas desceu então um manto de sufocante silêncio.
A minha utopia para a escola pode ser expressa introduzindo adaptações mínimas (por mim indicadas com […]) a um trecho de John Bellamy Foster do livro “Trabalhar e Viver no Séc. XXI” (p.19):
(…) Outros defenderam a necessidade de transcender todo o sistema de [ensino] trabalho alienado, fazendo do desenvolvimento de relações de [aprendizagem] trabalho criativas o elemento central de uma nova sociedade revolucionária. (…)
Eu pertenço ao grupo destes “outros”.
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