quarta-feira, maio 03, 2023

Contra um país injusto, contra um país oprimido pela pobreza

 


Para as pessoas que desconhecem qual o meu posicionamento político (entendido no sentido lato e não de partidos), esclareço aqui o seguinte:

Eu estou sempre do lado dos mais fracos e dos derrotados. E sempre contra os violentos, contra os malvados, e contra os ofensivos e desrespeitosos. Acima de tudo, estou contra os carrascos e seus mandantes, colocando-me irredutivelmente do lado das vítimas. 

Nada disto tem a ver com a religião, porque sou, além de ateu, antiteísta na medida em que considero que a ideia de deuses trouxe mais horrores à humanidade do que benefícios. Portanto, absolutamente nada a ver com religiões.

Assim, nunca estive, estou ou estarei do lado de quem envolve os seus povos em guerras (para mim, dentro das soluções inaceitáveis, a guerra é a mais inaceitável de todas). Por isso, por exemplo, nunca salazarista, nunca putinista.

Além disso, não sou um fanático nem do cada um por si, nem da subjugação ao coletivo. Embora simpatize com as formas moderadas de ambas as posições: gosto de ter liberdade para fazer o que quero, ao mesmo tempo que acredito que devo alguns esforços e sacrifícios em prol do bem comum (do qual beneficio e, portanto, que tenho o dever de retribuir pelo menos em parte).

E só sou contra os fortes (incluindo os ricos) quando abusam do seu poder e da sua riqueza, lançando os outros na miséria.

Vejamos como isso acontece.


Recordemos como o Estado (isto é, todos nós) tem gasto muito mais do que isto com os bancos todos os anos:

“A Banca custou ao Estado 22 mil milhões de euros entre 2008 e 2021.”

22.000.000.000 € / 13 anos = 1.692.307.692€ por ano

Ou seja, cerca de 1700 milhões de euros por ano. Desta vez, foram “só” 459 milhões de euros! Mas o suficiente para fazer duplicar, note-se, duplicar o défice!

Claro que isto ajuda a que os bancos


O que dá mais de 10 milhões de lucros... por dia! À custa de famílias que vão perdendo as suas casas porque as prestações aumentaram brutalmente, chegando em muitos casos a mais do que duplicar em poucos meses!

Como eu gostaria de ouvir os partidos de direita a reagirem contra isto! Mas só os ouvimos a bramar contra o Rendimento Social de Inserção (RSI). Vamos comparar.

Nos últimos anos, o Estado tem gasto com o RSI, por ano, entre 300 e 400 milhões de euros. Mas a beneficiar perto de 200 mil pessoas e 100 mil famílias em dificuldades. Em vez da meia dúzia de bancos e de banqueiros com ordenados milionários.

Mas o problema não está só nos bancos…


Para dar estes dividendos (e isto só no PSI, isto é, nas empresas com mais de 1000 milhões euros de capitalização), nem consigo imaginar quantos terão sido os lucros!

Na verdade, não somos um país pobre, somos um país que está a ser claramente empobrecido pelos mais poderosos e mais ricos! 

Uma das formas que eles usam para empobrecer o país é pagando salários baixos e promovendo a precariedade.

Segundo o estudo Faces da pobreza em Portugal (2021), da Fundação Francisco Manuel dos Santos (p.19.), 32,9% (um terço) dos pobres em Portugal são trabalhadores. Isto é, são pessoas que com o que ganham não conseguem deixar de ser pobres, de tal maneira são mal pagos.

E, para quem acha que os pobres são uns malandros que não trabalham, será útil ver, segundo o mesmo estudo, os perfis da pobreza em Portugal:

1. «Trabalhadores»: 32,9%;

2. «Precários»: 26,6%;

O que é um “precário”? É

Uma pessoa que está numa relação laboral, no contexto da qual não consegue aceder a uma série de direitos que estariam afetos a essa relação laboral, por exemplo, a estabilidade, a remuneração garantida e periódica, o acesso a uma indemnização quando deixa de estar vinculada e o acesso a um sistema de saúde.

32,9 + 26,6 = 59,5%. Ou seja, mais de metade dos pobres trabalha!

3. «Reformados»: 27,5%;

4. «Desempregados»: 13%.

Portanto, os desempregados pobres que não trabalham e, eventualmente, talvez pudessem fazê-lo (digo talvez, porque aqui se incluem os doentes, os incapacitados, os que temporariamente estão sem trabalho, os analfabetos digitais, etc.), são pouco mais de 10% do número total de pobres.

Repare-se que, segundo o jornal online ECO,

A taxa de desemprego nunca foi tão baixa (5,8%) nem o número de pessoas empregadas foi tão elevado (4,9 milhões numa população ativa de 5,2 milhões pessoas).

Ou seja, apenas cerca de 300 mil pessoas estão atualmente desempregadas. Parece ótimo, não é verdade?

No entanto, segundo Luísa Loura, diretora da Pordata, e António Costa, primeiro-ministro de Portugal, sem apoios sociais, 4, 4 milhões de pessoas são pobres (têm rendimentos abaixo do limiar da pobreza - 554 euros mensais); passando para 1,9 milhões após as transferências sociais.

Como ficam as crianças neste panorama? Podemos imaginar, mas não é preciso, os números estão aí:

Segundo o Diário de Notícias

Cerca de uma em cada quatro crianças portuguesas com menos de 18 anos (22,9%) vivia, em 2021, em situação de pobreza ou exclusão social. (Eurostat)

E, segundo a ministra do Trabalho e da Segurança Social, Ana Mendes Godinho, o número de crianças em pobreza extrema, a nível nacional, é de 170 mil.

Lembremos que, há pouco mais de 2 anos, a Unicef alertou para os níveis crescentes da pobreza infantil em Portugal. Portugal era, a par de Itália e da Grécia, um dos países onde havia uma maior relação entre a pobreza infantil e a escassez de investimento em prestações familiares. Num relatório em que a Unicef admitiu que nos próximos cinco anos estes números deveriam aumentar.

É este o país que queremos? Onde até a vida e o bem-estar das crianças é completamente desprezado pelo grande capital? Eu não quero.

E termino, dizendo com Albert Camus:



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