segunda-feira, maio 26, 2008

Pobreza e Civilização

(...) considera-se tanto mais civilizado um país quanto mais sábias e eficientes são as suas leis que impedem o miserável de ser demasiado miserável, e o poderoso de ser demasiado poderoso. (Se Isto É Um Homem, Primo Levi)

"O relatório do Eurostat, o organismo estatístico da União Europeia, sobre a situação social nos estados-membros confirma que Portugal é o país com mais desigualdade na distribuição de rendimentos entre os 25 e é o único que apresentava um desnível entre pobres e ricos superior ao dos Estados Unidos. (...)" (Público, 23-05-08)

sábado, maio 24, 2008

Sem Destino, Imre Kertész

Abre hoje a Feira do Livro de Lisboa.

Se não há dinheiro ou tempo para mais nada, pelo menos este livro:


Não vou dizer porquê, ponho aqui apenas uma nota sobre esta obra:

Um rapaz conta a sua vida de judeu húngaro em pleno nazismo.
Ele aceita tudo o que lhe acontece, procurando explicar e comprender as atitudes e comportamentos dos verdugos, alemães ou não.
Busca cumprir com o que lhe vão impondo como sendo as suas obrigações.
A dada altura percebemos que o ser humano, que nos fala e que nos vai descrevendo a sua história de boa vontade e de conformismo, está vivo mas transformou-se literalmente num moribundo.

Volto para enfatizar este ponto:
O rapaz vai arranjando sempre uma explicação razoável para o que lhe está a ser feito.
Quando a não consegue encontrar, pensa sempre que podia ser pior e conforma-se.
Vê bondade e boas intenções nas expressões mesmo dos que o tratam como se ele fosse uma coisa ou um animal.
Aquilo que o humilha, mesmo assim, ele reduz considerando que são ninharias com que será ridículo perder tempo.
Ninharias ou não, ele vai sempre aceitando tudo quanto os algozes lhe dizem que são coisas necessárias...
...E, destes diferentes modos, ele vai convertendo o intolerável em, não só aceitável, como mesmo defensável.

quinta-feira, maio 22, 2008

Dogville, de Lars von Trier


Pai de Grace: A única coisa que tu culpas são as circunstâncias. Violadores e assassinos podem ser vítimas, em tua opinião. Mas na minha são cães, e se lambem o próprio vómito só os podemos impedir a chicote.

Grace: Os cães seguem a sua natureza: não lhes devíamos perdoar por isso?

P: Os cães podem aprender muitas coisas úteis, mas não, se lhes perdoarmos sempre que eles seguirem a sua própria natureza.

G: Então, sou arrogante. Sou arrogante por perdoar às pessoas?

P: Meu Deus, não consegues ver o quão condescendente és ao dizeres isso? Tu tens esta noção pré-concebida que ninguém – ouve! – ninguém pode chegar aos mesmos padrões éticos que tu e, por isso, perdoas tudo. Não consigo imaginar nada mais arrogante que isso. Tu, minha filha, minha querida filha, tu perdoas aos outros com desculpas que nunca aceitarias para ti própria.

G: Porque é que não posso ser compassiva?

P: Não, podes ser, deves ser, quando for a altura de ser compassiva. Mas tens a obrigação de manter os teus próprios padrões, tu deves-lhes isso, tu deves-lhes isso. O castigo que tu mereces para as tuas transgressões, eles merecem para as suas transgressões.

G: Eles são seres humanos...

P: Não precisam todos os seres humanos de serem responsáveis pelas suas acções? Claro que sim, que precisam, só que tu nem lhes chegas a dar essa oportunidade. E isso é extremamente arrogante. Eu amo-te, eu amo-te, eu amo-te até à morte, mas tu és a pessoa mais arrogante que já conheci até hoje. E é a mim que achas arrogante! Não tenho mais nada a dizer.

(...)

G: As pessoas que aqui vivem fazem o melhor que conseguem dadas as circunstâncias em que vivem, circunstâncias muito duras.

P: Se tu o dizes... Mas será o melhor delas suficientemente bom? E gostam elas de ti?

(...)

Narrador: E de repente soube demasiadamente bem a resposta à sua questão, à sua dúvida.
Se ela tivesse agido como eles, ela não conseguiria encontrar uma única desculpa para as suas acções e nunca conseguiria castigar-se a si própria o suficiente.
Era como se a sua pena e a sua dor tivessem encontrado o seu lugar correcto.
Não, o que eles tinham feito não era suficientemente bom.
E, se alguém tinha o poder de corrigir as coisas, então era seu dever fazê-lo, para o bem de outras vilas, para o bem da humanidade.
E não por último, para o bem do ser humano que era Grace, ela própria...

(transcrição feita a partir do filme)

domingo, maio 18, 2008

Asco

"Cerca de 80% dos aviões que chegam a Fortaleza levam homens sozinhos, à procura de companhia, e o Brasil está no topo da lista de países com mais prostituição infantil. São, na sua maioria, portugueses, espanhóis e italianos." (Visão, 15/5/2008, p. 10)

"A barbárie não é apenas um elemento que acompanha a civilização, faz parte integrante desta." (Edgar Morin)

sábado, maio 17, 2008

"You and we are one and the same.You have shattered this image in me. How will you fix it?"



(via Gabriel Silva, Blasfémias)

"Como um judeu de outras épocas" (*)

Um dia eles vão pagá-las.
Os governantes que inventaram dezenas de leis para humilhar e destruir.
A população que, arrastada pela propaganda governamental, apoiou e expandiu essas humilhações para além dos limites minimamente aceitáveis.
Todos vão pagar.

E eu, vou ficar contente?
Não, não vou.
Porque, mesmo com o sonho achincalhado e com a devastação imposta aos mais fracos, nunca haverá pagamento suficiente para saldar as dívidas que, abertas, toda uma sociedade não tem parado de fazer crescer e engordar.


(*) (título retirado de Ribeiro, Gabriel Mithá, A Lógica dos Burros, Pub. Europa-América, 2007, p.64)

quarta-feira, maio 14, 2008

vilanagem

Um líder que exige sacrifícios aos outros;
que não tem força de carácter suficiente para fazer, de entre eles, um dos mais insignificantes;
e que, depois, para fugir à responsabilidade, mente ao dizer "que desconhecia que estava a violar a lei"...
... Esse líder é simplesmente um cobarde.

sábado, maio 10, 2008

Mercedes Sosa, Solo Le Pido A Dios



Solo le pido a Dios
Que el dolor no me sea indiferente,
Que la reseca Muerta no me encuentre
Vacia y sola sin haber hecho lo suficiente.

Solo le pido a Dios
Que lo injusto no me sea indiferente,
Que no me abofeteen la otra mejilla
Después que una garra me araño esta suerte.

Solo le pido a Dios
Que la guerra no me sea indiferente,
Es un monstruo grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente.


Solo le pido a Dios
Que el engaño no me sea indiferente
Si un traidor puede mas que unos cuantos,
Que esos cuantos no lo olviden facilmente.

Solo le pido a Dios
Que el futuro no me sea indiferente,
Desahuciado esta el que tiene que marchar
A vivir una cultura diferente.

Solo le pido a Dios
Que la guerra no me sea indiferente,
Es un monstruo grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente.


(León Gieco)

quarta-feira, maio 07, 2008

He Wishes for the Cloths of Heaven

Had I the heavens’ embroidered cloths,
Enwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half light,
I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread on my dreams.


W.B. Yeats (1865–1939)
The Wind Among the Reeds, 1899

sábado, maio 03, 2008

Tocando em frente


Almir Sater escreveu e canta (a composição foi com Renato Teixeira)










(Edição de imagens Ivanete Lilja Viamão Rs)


Ando devagar porque já tive pressa
e levo esse sorriso, porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei,
nada sei

Conhecer as manhas e as manhãs,
o sabor das massas e das maçãs.
É preciso o amor pra poder pulsar,
é preciso paz pra poder seguir,
é preciso a chuva para florir.

Sinto que seguir a vida seja simplesmente
conhecer a marcha, ir tocando em frente
como um velho boiadeiro levando a boiada,
eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou,
estrada eu sou

Conhecer as manhas e as manhãs,
o sabor das massas e das maçãs.
É preciso o amor pra poder pulsar,
é preciso paz pra poder seguir,
é preciso a chuva para florir.

Sinto que seguir a vida seja simplesmente
conhecer a marcha, ir tocando em frente
Cada um de nós compõe a sua própria história,
e cada ser em si, carrega o dom de ser capaz,
de ser feliz

Conhecer as manhas e as manhãs,
o sabor das massas e das maçãs.
É preciso o amor pra poder pulsar,
é preciso paz pra poder seguir,
é preciso a chuva para florir.

Sinto que seguir a vida seja simplesmente
conhecer a marcha, ir tocando em frente
Cada um de nós compõe a sua própria história,
e cada ser em si, carrega o dom de ser capaz,
de ser feliz