Sempre que oiço professores a falar, o tema é recorrente: as humilhações que lhes foram infligidas ao longo destes últimos anos. E não falo das que foram infligidas à classe na sua totalidade, não, falo daquelas de que cada um foi vítima individualmente.
E sinto pena, uma pena imensa destas pessoas esforçadas, mulheres na sua maioria, generosas e lutadoras, não só na escola mas também nas suas casas. Pena pelo seu sofrimento moral e pela sua incapacidade de transformar esse sofrimento numa acção libertadora, mergulhando antes cada uma, a pouco e pouco, num mar de amargura sem esperança nem luz.
A propósito deste assunto, ocorrem-me duas histórias. Duas histórias que representam os dois lados duma mesma moeda, da situação destes(as) professores(as).
Eis a primeira:
O filósofo Aristipo cruzou-se um dia com Diógenes, que estava a comer um prato de lentilhas, e disse-lhe:
- Ai, Diógenes, se aprendesses a ser mais submisso ao imperador não terias de comer essas lentilhas!
Diógenes parou, fitou o seu abastado interlocutor, e respondeu-lhe:
- Ai de ti, Aristipo! Se aprendesses a comer lentilhas tu já não terias nunca mais de ser submisso ao imperador.
O imperador, hoje em dia, toma muitos nomes e muitas formas: ministros, direcções, inspectores... e, talvez, o mais terrível de todos, pela sua anónima implacabilidade: os bancos e as dívidas com que eles escravizam os incautos.
Mas vamos ao outro lado da moeda. Eis a 2ª história:
Uma vez, um profeta chegou a uma cidade e tentou converter os seus habitantes. No princípio, tinha muita gente a ouvi-lo mas, a pouco e pouco, foram-no deixando sozinho a falar. Um dia, alguém lhe perguntou:
- Porque continuas a pregar? Não te dás conta de que já ninguém te ouve?
Ao que o profeta lentamente respondeu:
- No princípio eu pregava na esperança de convencer as pessoas a mudar de vida. Agora, se continuo a pregar, faço-o, mas para que as pessoas não me obriguem a mim a mudar de vida...
Portanto, por outro lado, aquelas mesmas pessoas que eu lamento, elas no fundo também acabam por ser verdadeiramente dignas de admiração por não se deixarem afastar pelos que têm usado o poder para fins funestos...
Assim seja, desde que elas nunca baixem os braços, desde que nunca desistam de lutar!
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