Ontem, no cineclube de Olhão, La journée de la jupe, de Jean-Paul Lilienfeld.
Uma professora de francês vê-se, numa aula com alunos muçulmanos, com uma arma nas mãos. Dá a sua aula e, entretanto, vai descobrindo os horrores por que passam os alunos mais fracos (e que os professores nas escolas reais procuram ignorar no seu dia a dia, porque sabem que nada podem fazer).
O filme exagera? Não, em absoluto não. Uma das pessoas com quem fui ver o filme dizia no fim: "Felizmente que aqui em Portugal as coisas ainda não chegaram a este ponto!" Fitei-a com incredulidade. Tirando a componente religiosa que, aqui em Portugal, de facto, não tem grande peso, a verdade é que reencontro tudo o que já vivi em escolas portuguesas (excepto a arma de fogo, porque armas brancas já há muitos anos que elas entram na escola portuguesa).
E ainda há três coisas que eu senti falta no filme: o aluno delinquente de sorriso na boca e olhar frio (tive-o no ano passado); o envio de alunos, agredidos por colegas, para o hospital; e a sodomização de alunos (o filme refere a violação de uma aluna).
A professora é perturbada emocionalmente, como a crítica quis fazer passar? Só no sentido em que qualquer pessoa fica perturbada emocionalmente quando é acossada como ela o foi. Só no sentido em que ela não se deixa paralisar pelo medo e confronta os alunos com a sua violência (deles).
Um aparte: não vou entrar naquele discurso de tantos professores, e que aparecem retratados no filme, de comigo nunca tive problemas, eu, eu até consigo resolver tudo a bem. Vou ser claro: não consigo resolver nada; e, face à extrema violência verbal e física dos alunos, face à minha completa vulnerabilidade e ausência de autoridade (que foi retirada aos professores) eu paraliso de medo e fico incapaz de reagir.
O director diz no filme que o papel dos professores é serem baby-sitters, o que é falso. O papel não oficial dos professores é servirem de almofada para toda a violência adolescente e mantê-la confinada dentro das escolas. Ensinar não é de todo o mais importante (por isso é que a formação dos professores nunca incide sobre os conteúdos).
O filme tocou-me principalmente porque retrata a total impossibilidade de a escola proteger os alunos mais fracos dos delinquentes. Uma das vítimas do filme quer ficar sequestrada para sempre, porque só assim sabe que fica segura; outra das vítimas pretende fugir para a Austrália com a família e acaba, aliás, por matar porque sabe que é a única maneira de proteger a irmã que foi ameaçada.
Estou a ver as coisas de uma forma primária? Estou. E estou porque gente iluminada achou que se educa crianças e jovens sem eles nunca terem de sentir as consequências do que fazem de errado. Com a originalidade portuguesa de só se poderem dar castigos se o castigado concordar - se não concordar, só resta o castigo da suspensão que não é castigo nenhum porque as faltas ficam todas justificadas, o aluno não chumba, nem pode sequer ser avaliado pela matéria a que ele não esteve a assistir: em suma, ensina-se na escola portuguesa que o crime compensa sempre. Sempre.
Post-Scriptum: Mais uma vez, e tipicamente, é a pessoa que tem uma reacção saudável e normal face a uma situação, que é ou devia ser inaceitável e intolerável, que é vista como uma doente, como uma perturbada (outro nome para "louca").
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