“Amor de Perdição” de Camilo Castelo-Branco, “Aparição” de Vergílio Ferreira, “Dom Casmurro” de Machado Assis, “O Delfim” de José Cardoso Pires, “Esteiros” de Soeiro Pereira Gomes, “Memorial do Convento” de José Saramago”, “Os Maias” de Eça de Queiroz, “A Sibila” de Agustina Bessa-Luís, “Sinais de Fogo” de Jorge de Sena e “Terra Sonâmbula” de Mia Couto são os 10 romances eleitos.
A escolha foi efectuada por um júri constituído por escritores e por docentes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que elegeu uma dezena como os romances mais representativos da literatura de língua portuguesa, de entre as 30 obras mais votadas por docentes, estudantes e funcionários da Universidade. Depois da votação de docentes, funcionários e estudantes da Universidade de Coimbra, um júri escolheu, de entre as 30 obras mais votadas, a lista dos “10 mais” romances da literatura portuguesa.
Numa primeira fase do concurso “10 Paixões em Forma de Romance”, que foi promovido pela Imprensa da Universidade de Coimbra, todos os membros da comunidade universitária puderam designar os três romances que mais gostaram de ler.
Depois de apurados os 30 romances mais votados, o júri composto pela vice-reitora da Universidade de Coimbra, Cristina Robalo Cordeiro, pelos escritores José Luís Peixoto e João Tordo, pelos professores da FLUC José Cardoso Bernardes (coordenador do Centro de Literatura Portuguesa da FLUC), Maria Aparecida Ribeiro (docente de Literatura Brasileira) e José Luís Pires Laranjeira (docente de Literatura Africana) e presidido pelo director da Imprensa da Universidade, João Gouveia Monteiro, reuniu dia 20 para eleger os “10 mais”.
Para chegar a esta lista final, o júri teve em conta a diversidade e representatividade de diferentes épocas, correntes, geografia e géneros, bem como a expressão da vontade dos votantes.
O objectivo deste concurso foi tomar esta escolha como um pretexto para falar de livros e de boa literatura, na sequência de outras iniciativas levadas a cabo pela Imprensa da Universidade de Coimbra. Ao longo do ano lectivo 2010/2011, a Imprensa da Universidade de Coimbra, em parceria com a Biblioteca Geral e o Centro de Literatura Portuguesa da FLUC, irá promover diversos eventos sobre as 10 obras vencedoras, nomeadamente exposições e tertúlias.
(via De Rerum Natura)
Vergílio Ferreira iria comover-se com isto... eu comovi-me!
A vida. Tão pouco e tão tanto. (...) E todavia eu sei que "isto" nasceu para o silêncio sem fim... (Vergílio Ferreira)
sábado, maio 29, 2010
sexta-feira, maio 28, 2010
Ainda e, agora, sempre Os Maias
Romance fabuloso! De uma inteligência extraordinária!
Tanta coisa de que eu gostaria de falar, de discutir, de partilhar... acho, pelo menos, que consegui "infectar" os meus alunos com o meu entusiasmo.
É tão fácil começarmos por nos identificar com Carlos da Maia, embora sempre, admitamo-lo, com um certo sorriso. Mas ele é o herói do livro, no fim de contas.
Só que Eça é um perverso e põe-lhe todos os defeitos dos portugueses, açucarados pelo charme, pela beleza e pela fortuna, facilitando essa nossa identificação com ele... até que aqueles começam a ser tão evidentes que começamos a sentirmo-nos desconfortáveis por esta ligação emocional que estabelecemos com Carlos.
No fundo, Carlos é um inútil, um fraco, um indolente. O retrato feito por Afonso da Maia é curto e exacto: "O velho escutava com melancolia estas palavras do neto, em que sentia como uma decomposição da vontade, e que lhe pareciam ser apenas a glorificação da sua inércia. (...)" (Cap. XII).
Mas até o próprio Afonso da Maia, tirando a sua bondade, nada faz nem fez de significativo. Ele é bem um Maia que, por via de princípios de que não abdica facilmente (agora na velhice, porque na sua juventude não teve problemas com isso) e que lhe dão uma certa forma de integridade, parece ter mais substância do que Carlos, mas de facto não tem.
De todos os defeitos expostos por Eça aos nossos olhos, do Carlos (e de quase todas as outras personagens), o que mais me impressionou foi o medo. Um medo que se traduzia por uma insidiosa cobardia nas situações que exigiam na verdade um esforço para poder manter o respeito por si próprio. Carlos é lamentavelmente falho desse tipo de esforço. A cobardia é nele uma doença, tanto mais terrível quanto nunca o aparenta ser; e ele chega ao fim sem nunca perceber o quão baixo se permitiu deixar ir.
Há, no entanto, duas personagens que escapam a este retrato impiedoso. Um em tom menor: Vilaça que, não fora a sua tacanhez, poderia vir tornar-se uma personagem digna de admiração.
Mas em tom maior, grandioso mesmo, sem dúvida alguma, é a Maria Eduarda: faz o que tem de fazer, com nobreza, discretamente e sem dramas nenhuns. E acaba com um gesto verdadeirante grandioso: recusa receber o que quer que seja da herança à qual, aliás, tem todo o direito legal e moral, pois ela é uma filha legítima e de direito de Pedro da Maia. É uma personagem verdadeiramente admirável, sem nunca deixar de ser humana, no meio de um friso mais ou menos repulsivo de entes cheios de empáfia, mas realmente sem qualidade alguma.
Tanta coisa de que eu gostaria de falar, de discutir, de partilhar... acho, pelo menos, que consegui "infectar" os meus alunos com o meu entusiasmo.
É tão fácil começarmos por nos identificar com Carlos da Maia, embora sempre, admitamo-lo, com um certo sorriso. Mas ele é o herói do livro, no fim de contas.
Só que Eça é um perverso e põe-lhe todos os defeitos dos portugueses, açucarados pelo charme, pela beleza e pela fortuna, facilitando essa nossa identificação com ele... até que aqueles começam a ser tão evidentes que começamos a sentirmo-nos desconfortáveis por esta ligação emocional que estabelecemos com Carlos.
No fundo, Carlos é um inútil, um fraco, um indolente. O retrato feito por Afonso da Maia é curto e exacto: "O velho escutava com melancolia estas palavras do neto, em que sentia como uma decomposição da vontade, e que lhe pareciam ser apenas a glorificação da sua inércia. (...)" (Cap. XII).
Mas até o próprio Afonso da Maia, tirando a sua bondade, nada faz nem fez de significativo. Ele é bem um Maia que, por via de princípios de que não abdica facilmente (agora na velhice, porque na sua juventude não teve problemas com isso) e que lhe dão uma certa forma de integridade, parece ter mais substância do que Carlos, mas de facto não tem.
De todos os defeitos expostos por Eça aos nossos olhos, do Carlos (e de quase todas as outras personagens), o que mais me impressionou foi o medo. Um medo que se traduzia por uma insidiosa cobardia nas situações que exigiam na verdade um esforço para poder manter o respeito por si próprio. Carlos é lamentavelmente falho desse tipo de esforço. A cobardia é nele uma doença, tanto mais terrível quanto nunca o aparenta ser; e ele chega ao fim sem nunca perceber o quão baixo se permitiu deixar ir.
Há, no entanto, duas personagens que escapam a este retrato impiedoso. Um em tom menor: Vilaça que, não fora a sua tacanhez, poderia vir tornar-se uma personagem digna de admiração.
Mas em tom maior, grandioso mesmo, sem dúvida alguma, é a Maria Eduarda: faz o que tem de fazer, com nobreza, discretamente e sem dramas nenhuns. E acaba com um gesto verdadeirante grandioso: recusa receber o que quer que seja da herança à qual, aliás, tem todo o direito legal e moral, pois ela é uma filha legítima e de direito de Pedro da Maia. É uma personagem verdadeiramente admirável, sem nunca deixar de ser humana, no meio de um friso mais ou menos repulsivo de entes cheios de empáfia, mas realmente sem qualidade alguma.
terça-feira, maio 11, 2010
Os Maias e... para memória futura
No centro de explicações onde trabalho, os principais critérios de avaliação do desempenho são dois:
- obter resultados;
- os pais e explicandos gostarem de nós.
Falhando num destes critérios, o explicando é-nos retirado e mudado para outro professor. Falhando nos dois é o professor que é "retirado".
Desde o início do ano que só "sobrevivemos" dois professores: o de Físico-Químicas e eu, o resto entra e sai, com a maior ou menor das velocidades.
A mim vão-me carregando mais e mais. Neste momento dou explicações de:
- 1º ciclo: todas as disciplinas;
- 2º ciclo: todas as disciplinas;
- 3º ciclo: todas as disciplinas, excepto Português e Físico-Químicas;
- Secundário: Matemática, Inglês e Português.
Acho que a directora está a testar-me, para saber onde e quando vou atingir o meu nível de incompetência!...
No âmbito do Português, ando a reler Os Maias. Que livro maravilhoso, que riqueza em todos, mas mesmo quase todos os sentidos! Exaspero-me com a minha incapacidade para transmitir este maravilhamento aos meus alunos, simpáticos, mas enfastiados e preguiçosos que eles são!
Vim escrever este post quando, ao lê-lo, cheguei a esta parte:
"(...) Craft e o marquês tinham começado uma conversa sobre a vida, soturna e desconsoladora. De que servia viver, dizia Craft, não se sendo um Livingstone ou um Bismarck?" (Cap. IX, p. 290 da minha edição dos "Livros do Brasil")
Muitas vezes me tenho perguntado sinceramente o mesmo. Além disso, como é possível eu conseguir conviver com a ideia da minha banalidade, senão mesmo mediocridade? Como consigo conciliar os meus sonhos de grandeza, a minha ânsia de absoluto, com o pouquíssimo que até agora consegui realizar? Mal, muito mal. Nada há de heróico na minha vida, por muito que eu o desejasse. Nada há que possa ser recordado 10 ou 20 anos depois de eu morrer. E é assim que acabo por não saber responder à pergunta de Craft/Eça...
- obter resultados;
- os pais e explicandos gostarem de nós.
Falhando num destes critérios, o explicando é-nos retirado e mudado para outro professor. Falhando nos dois é o professor que é "retirado".
Desde o início do ano que só "sobrevivemos" dois professores: o de Físico-Químicas e eu, o resto entra e sai, com a maior ou menor das velocidades.
A mim vão-me carregando mais e mais. Neste momento dou explicações de:
- 1º ciclo: todas as disciplinas;
- 2º ciclo: todas as disciplinas;
- 3º ciclo: todas as disciplinas, excepto Português e Físico-Químicas;
- Secundário: Matemática, Inglês e Português.
Acho que a directora está a testar-me, para saber onde e quando vou atingir o meu nível de incompetência!...
No âmbito do Português, ando a reler Os Maias. Que livro maravilhoso, que riqueza em todos, mas mesmo quase todos os sentidos! Exaspero-me com a minha incapacidade para transmitir este maravilhamento aos meus alunos, simpáticos, mas enfastiados e preguiçosos que eles são!
Vim escrever este post quando, ao lê-lo, cheguei a esta parte:
"(...) Craft e o marquês tinham começado uma conversa sobre a vida, soturna e desconsoladora. De que servia viver, dizia Craft, não se sendo um Livingstone ou um Bismarck?" (Cap. IX, p. 290 da minha edição dos "Livros do Brasil")
Muitas vezes me tenho perguntado sinceramente o mesmo. Além disso, como é possível eu conseguir conviver com a ideia da minha banalidade, senão mesmo mediocridade? Como consigo conciliar os meus sonhos de grandeza, a minha ânsia de absoluto, com o pouquíssimo que até agora consegui realizar? Mal, muito mal. Nada há de heróico na minha vida, por muito que eu o desejasse. Nada há que possa ser recordado 10 ou 20 anos depois de eu morrer. E é assim que acabo por não saber responder à pergunta de Craft/Eça...
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