Assisti ao sofrimento de mulheres sujeitas a espancamentos brutais, que mal podiam erguer-se, mas o caso que mais me impressionou foi o de uma idosa, vestida com uma saia preta furada por balas.
Era a única roupa que possuía para além da mortalha, que os filhos tinham comprado, a custo, julgando que não sobrevivesse a várias perfurações abdominais.
Tinha-a guardada debaixo da cama para quando morresse...
(Luísa Ducla Soares, JL, nº 1027, 10-23 de Fevereiro de 2010)
Recordo a tristeza cinzenta e pesada que permeava todos os nossos dias, a nossa respiração.
Recordo todos os que sofreram a perseguição, a tortura, a morte. Recordo principalmente aqueles que já nem do nome perdura a memória.
Mas sobre tudo e para além de todos, recordo os mais valorosos de entre os puros:
José Afonso
Salgueiro Maia
O que hoje temos, a todos eles o devemos.
O que não temos, fomos nós que o estragámos, destruímos e deitámos fora...