Não consigo entender como é que um sistema de avaliação:
a) baseado na competição pode dar origem a trabalhadores mais preocupados com o serviço público. Como pode um funcionário público, ou um professor, habituado a atender diariamente aos factores que condicionam a sua própria carreira, a tratar do seu próprio benefício em detrimento dos outros, como pode ele, por uma transmutação mágica de personalidade, passar a empenhar as suas forças na execução do bem público, isto é, do bem dos outros?
b) baseado num sistema de recompensas externas (pontos, notas, passagens de escalão, etc) pode criar melhores trabalhadores. Sabe-se que a recompensa externa destrói a motivação interior (Ryan & Deci, 2000), pelo que a sua utilização deve ser sempre evitada. Contra a evidência científica espera-se que, com tal sistema, os funcionários públicos ou os professores se sintam autonomamente motivados para terem um bom desempenho e espírito de entreajuda.
Já começo a entender quando me apercebo que, por detrás de tudo isto, está apenas uma questão de poder, simplesmente uma questão de mais poder para os poderosos. Este sistema, na verdade, apenas promove o funcionário egoísta, nada solidário com os colegas, completamente indiferente ao bem público e, principal e fundamentalmente, obediente e submisso aos seus superiores.
Assim, tudo se torna claro.
A vida. Tão pouco e tão tanto. (...) E todavia eu sei que "isto" nasceu para o silêncio sem fim... (Vergílio Ferreira)
quinta-feira, agosto 04, 2011
segunda-feira, agosto 01, 2011
Poesia, Saudade da Prosa de Manuel António Pina
Nunca tinha lido a poesia de Manuel António Pina. Gostei muito deste livro que me foi oferecido por mão amiga. Trata-se de "uma antologia pessoal".
Tendo lido outras coisas do autor (no fundo, sendo um ignorante da sua obra), esperava uma escrita permeada de humor. Descobri uma poesia discreta, sem grandiloquências, humana, digna e sóbria. Inclui, é certo, uns laivos dispersos de ironia (nunca construída à custa de..., mas mais feita com...), e, no entanto, é uma ironia para sempre reflectida sobre um fundo de melancolia.
As ideias e as emoções evocadas pelo autor ao longo destas páginas abrem no nosso espírito atmosferas indefinidas, como se elas flutuassem no limiar da nossa consciência, ficando nós à beira de as compreender e de abarcar, quase como se fossem familiares e, no entanto, estrangeiras.
O autor interroga connosco a estranheza do mundo, da palavra e da criação, não nos deixando ficar de fora... mas o que escreve e partilha connosco é também uma poesia do silêncio, da presença da morte, da reflexão sobre o que é o poema, o poeta e o leitor.
Um livro excepcional.
Tendo lido outras coisas do autor (no fundo, sendo um ignorante da sua obra), esperava uma escrita permeada de humor. Descobri uma poesia discreta, sem grandiloquências, humana, digna e sóbria. Inclui, é certo, uns laivos dispersos de ironia (nunca construída à custa de..., mas mais feita com...), e, no entanto, é uma ironia para sempre reflectida sobre um fundo de melancolia.
As ideias e as emoções evocadas pelo autor ao longo destas páginas abrem no nosso espírito atmosferas indefinidas, como se elas flutuassem no limiar da nossa consciência, ficando nós à beira de as compreender e de abarcar, quase como se fossem familiares e, no entanto, estrangeiras.
O autor interroga connosco a estranheza do mundo, da palavra e da criação, não nos deixando ficar de fora... mas o que escreve e partilha connosco é também uma poesia do silêncio, da presença da morte, da reflexão sobre o que é o poema, o poeta e o leitor.
Um livro excepcional.
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