sábado, julho 21, 2018

Luta(s) dos professores


Dado: manifestações e greves são úteis para demonstrar descontentamento, mas ineficazes para conseguir reparar o erro e a injustiça.

Solução: Há que subir um patamar na luta contra o poder abusivo.

Eis as minhas propostas, por ordem crescente de sacrifício e de risco pessoal.

Solução A: Ocupação da escola a tempo integral
Quando Lurdes Rodrigues foi ministra da educação, uma das coisas de que acusou os professores foi de que eram os da Europa que menos tempo passavam na escola. Isso, na altura, deu-me a ideia desta forma de luta. Talvez não se saiba que as escolas não têm nem espaços nem equipamentos suficientes para os professores fazerem delas o seu local de trabalho (por exemplo, a escola onde eu estava tinha apenas duas salas, uma com um computador e outra com quatro computadores e uma impressora para cerca de 100 professores). Por esta razão, todos os professores têm que “queimar” uma divisão da sua casa transformando-a em escritório. Ora, nesta forma de luta, os professores param de aceitar que o seu espaço familiar seja invadido pelo trabalho e passam as horas todas de trabalho na escola. O sistema entope, bloqueia e paralisa? Naturalmente, mas é essa a ideia.

Solução B: Desobediência
É simples, esta forma de luta, basta desobedecer. Então e o grande terror dos professores de serem sujeitos a um processo disciplinar? A essa pergunta respondo com outra: quem faz os processos disciplinares dos professores? Resposta: são professores. E se estes se recusarem a fazê-lo? O Governo não pode fazer nada. Em 2017, o sistema público não superior englobava mais de 125 mil docentes. Nunca haverá advogados suficientes para levantarem processos a 125 mil pessoas.

Solução C: Greve da fome
Dentro das soluções pacíficas, é a mais radical. A questão que cada um tem de se pôr é a seguinte: a injustiça contra a qual estou a lutar é tal que justifica o sacrifício a fazer? Se a resposta for não, então só resta a submissão e dá-se a vitória ao Governo. Porém, se essa injustiça é de tal dimensão que merece o combate e o sacrifício pessoal, então a escolha está feita. Mais uma vez, não exigiria muito. Em 2017, existiam mais de 2600 estabelecimentos de ensino não superior. Com um só professor a fazer greve da fome por cada estabelecimento de ensino, o total já seria um número estarrecedor e surgiria nos noticiários do mundo inteiro, provavelmente. O seu impacto seria tremendo.

Reflexão final
Há a garantia de a luta ser bem sucedida? Como qualquer luta contra o poder, a resposta é evidentemente negativa. Mas uma vida de impotência e de submissão à opressão e à injustiça não será uma alternativa muito pior?

1 comentário:

Gi disse...

Rui, só uma nota sobre as greves de fome: Gandhi, que como sabes fez várias greves de fome, dizia que elas só podiam usar-se para reformar alguém que nos amasse, e não para reivindicar direitos a um oponente.
Faz sentido, não faz? Se o Ministério não quer saber das reivindicações de dezenas de milhar de professores, que lhe importa que uma dúzia deles faça greve de fome (sobretudo as greves de fome "controladas" que as pessoa hoje fazem, capazes de durar várias semanas)?
Sendo assim, seria mais eficaz o Presidente da República, ou o Bruno Nogueira, ou uma qualquer figura bem-amada, fizesse greve de fome em nome dos professores.