Dado: manifestações e greves são úteis para demonstrar
descontentamento, mas ineficazes para conseguir reparar o erro e a injustiça.
Solução: Há que subir um patamar na luta contra o poder
abusivo.
Eis as minhas propostas, por ordem crescente de sacrifício e
de risco pessoal.
Solução A: Ocupação da escola a tempo integral
Quando Lurdes Rodrigues foi ministra da educação, uma das
coisas de que acusou os professores foi de que eram os da Europa que menos
tempo passavam na escola. Isso, na altura, deu-me a ideia desta forma de luta.
Talvez não se saiba que as escolas não têm nem espaços nem equipamentos
suficientes para os professores fazerem delas o seu local de trabalho (por
exemplo, a escola onde eu estava tinha apenas duas salas, uma com um computador
e outra com quatro computadores e uma impressora para cerca de 100 professores).
Por esta razão, todos os professores têm que “queimar” uma divisão da sua casa
transformando-a em escritório. Ora, nesta forma de luta, os professores param
de aceitar que o seu espaço familiar seja invadido pelo trabalho e passam as
horas todas de trabalho na escola. O sistema entope, bloqueia e paralisa?
Naturalmente, mas é essa a ideia.
Solução B: Desobediência
É simples, esta forma de luta, basta desobedecer. Então e o
grande terror dos professores de serem sujeitos a um processo disciplinar? A
essa pergunta respondo com outra: quem faz os processos disciplinares dos
professores? Resposta: são professores. E se estes se recusarem a fazê-lo? O
Governo não pode fazer nada. Em 2017, o sistema público não superior englobava mais
de 125 mil docentes. Nunca haverá advogados suficientes para levantarem
processos a 125 mil pessoas.
Solução C: Greve da fome
Dentro das soluções pacíficas, é a mais radical. A questão que
cada um tem de se pôr é a seguinte: a injustiça contra a qual estou a lutar é
tal que justifica o sacrifício a fazer? Se a resposta for não, então só resta a
submissão e dá-se a vitória ao Governo. Porém, se essa injustiça é de tal
dimensão que merece o combate e o sacrifício pessoal, então a escolha está
feita. Mais uma vez, não exigiria muito. Em 2017, existiam mais de 2600
estabelecimentos de ensino não superior. Com um só professor a fazer greve da
fome por cada estabelecimento de ensino, o total já seria um número
estarrecedor e surgiria nos noticiários do mundo inteiro, provavelmente. O seu
impacto seria tremendo.
Reflexão final
Há a garantia de a luta ser bem sucedida? Como qualquer luta
contra o poder, a resposta é evidentemente negativa. Mas uma vida de impotência
e de submissão à opressão e à injustiça não será uma alternativa muito pior?
1 comentário:
Rui, só uma nota sobre as greves de fome: Gandhi, que como sabes fez várias greves de fome, dizia que elas só podiam usar-se para reformar alguém que nos amasse, e não para reivindicar direitos a um oponente.
Faz sentido, não faz? Se o Ministério não quer saber das reivindicações de dezenas de milhar de professores, que lhe importa que uma dúzia deles faça greve de fome (sobretudo as greves de fome "controladas" que as pessoa hoje fazem, capazes de durar várias semanas)?
Sendo assim, seria mais eficaz o Presidente da República, ou o Bruno Nogueira, ou uma qualquer figura bem-amada, fizesse greve de fome em nome dos professores.
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