quinta-feira, junho 17, 2021

Onde estão as crianças?

 
(Foto de Basileia, de Raquel Varela)

Em Portugal, o planeamento urbanístico não atribui direito de cidadania às crianças para poderem habitar os espaços públicos, elas com os companheiros ou também juntamente com os adultos. Assim, o planeamento urbano e a respetiva construção raramente contemplam espaços comuns para as crianças conviverem e brincarem confortavelmente e em segurança.

Há, evidentemente, algumas exceções muito esporádicas, principalmente nas urbanizações de luxo, mas mesmo assim só em algumas. E obviamente que não estou a falar de alguns "cercados" apelidados de "parques infantis" que só pelas cores usadas se distinguem de espaços idênticos construídos para cães (estes normalmente até têm mais espaço para correr e saltar).

Ou seja, as crianças em Portugal não são vistas como sujeitos dignos de habitarem a polis com os mesmos direitos dos adultos. Eu, aliás, reduziria a frase anterior para: as crianças não são para serem vistas, ponto final! Que fiquem, pois, confinadas nas escolas e nas casas (há muitos anos que elas andam em confinamento, não foi preciso aparecer a Covid-19)!

Mas não só as crianças mais crescidas. Quem já teve bebés e os quis passear com um carrinho sabe bem a dificuldade que é fazê-lo com comodidade e segurança. É que a rua parece pertencer, acima de tudo, ao carro, à mota e ao camião.

A ideia de cidade como lugar onde se forma e convive uma comunidade é algo que está muito ausente dos planificadores urbanísticos (gente que parece não ter uma centelha de alegria e de afeto pelas pessoas, vendo apenas cifrões à sua volta).

Assim, caminhamos pelas ruas e, pergunto, quando foi a última vez que vimos uma criança?

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Nota: A propósito deste mesmo assunto, escrevi o poema Perdemos as crianças.


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