Surgem consequências terríveis quando começa a existir, numa determinada população, uma maioria de crentes numa teoria da conspiração. Por isso, ignorar ou menosprezar estas pessoas não é solução.
Quais as razões que levam alguém a acreditar numa teoria da conspiração?
Para satisfazer a necessidade de verdade, clareza e certeza num mundo em que tudo é cada vez mais fluído e vago.
Mas também para sentir alguma segurança e domínio numa sociedade em que as pessoas sentem ter cada vez menos controlo sobre a sua própria vida e isso se tornou assustador.
E para satisfazer a necessidade de autoestima através da pertença a um grupo (o dos crentes) que é muito solidário entre si.
Além disto, estes crentes sentem-se especiais por perceberem tudo o que os outros não estão sequer a ver.
Constitui também um tipo alternativo de ativismo político para aqueles que não encontram outra forma de o praticar.
São pessoas com um baixo nível de pensamento crítico e que acreditam que a intuição é a forma mais direta e fiável de chegar à verdade. Por isso, tentar mudar o seu pensamento através de argumentos lógicos é mais ou menos inútil porque elas não os valorizam. Até porque estas teorias têm a característica de absorverem qualquer refutação lógica e razoável, transformando esta num novo argumento para suportar a teoria original.
A melhor maneira de evitar a disseminação de teorias da conspiração é combatê-las antes de criarem raízes. Depois disso, é muito difícil desalojá-las, como se vê pelo movimento QAnon nos EUA.
É difícil inclusivamente porque já de si todo o ser humano tem tendência para selecionar, interpretar e aceitar informação (verdadeira ou falsa, não interessa) que confirme as suas opiniões, e para menosprezar toda a informação que as pode contradizer – dá-se a esta predisposição o nome de Viés da Confirmação (veja-se em particular o fenómeno da perseverança de crenças).
Assim, é preciso educar preventivamente as pessoas para o pensamento crítico e para saberem lidar com a informação (principalmente, como detetar a falsa). Aqui, o papel tanto dos pais como da escola (incluindo a universidade) é insubstituível. Aliás, os currículos escolares e os respetivos exames não deveriam sequer privilegiar a aquisição acrítica de conhecimento, baseada por exemplo apenas em argumentos de autoridade.
A melhor forma de lidar com as pessoas que já acreditam mesmo numa teoria da conspiração é empatizar com elas. É provável que elas estejam a sentir medo e ansiedade, que estejam zangadas com os políticos, que se sintam frágeis e vulneráveis e, ao mesmo tempo, confusas e preocupadas. Por isso, hostilizá-las, ridicularizá-las ou fazê-las sentirem-se ainda mais inseguras não é uma tática que resulte.
É bem melhor explorar com elas estas emoções, tentando saber e perceber o que as provoca, mas sempre com uma atitude de abertura e de aceitação (lembremo-nos que nós podíamos estar naquela situação – bom, verdade seja dita, muitas vezes estamos! Quem nunca acreditou numa conspiração, por mais pequena que fosse?).
Na verdade, se falarmos com um crente numa teoria da conspiração, mostrando recetividade às suas opiniões e crenças, torna-se menos difícil conseguirmos persuadi-lo do erro. Por isso, convém sentirmo-nos efetivamente recetivos e mostrá-lo claramente. Por exemplo, deixando a outra pessoa desabafar e, depois, usar frases simples que não denotem dúvida, mas um genuíno interesse em compreender, como “Se eu estou a entender bem, tu achas que…/tu estás a dizer que…” Mesmo que não chegue a persuadir, esta atitude mantém, pelo menos, as vias de comunicação abertas e a relação amigável.
Uma outra via é ajudarmos a pessoa a reestabelecer um sentido pessoal de controlo sobre a sua vida. Neste caso, é crucial o papel das chefias nos locais de trabalho ou dos pais em casa.
Às vezes, é uma boa contribuição para esse fim levar a pessoa a recordar alturas da sua vida em que esteve com um bom controlo sobre a sua própria vida. Ou ajudá-la a ver que continua a ter esse controlo atualmente, e a sentir-se bem com isso.
Finalmente, um dos fatores por detrás da atração que as teorias da conspiração exercem sobre as pessoas é que elas proporcionam uma história atrativa, simples e emocionante, com elevado poder explicativo. Se conseguirmos contrapor uma outra história mais realista, mas com atributos semelhantes, torna-se mais fácil a nossa tarefa de desalojar a crença.
Claro que nada disto tem resultados seguros. Especificamente, há pessoas com uma crença tão forte que acaba por não ser possível trazê-las à razão. Temos de saber aceitar este facto com equanimidade; até porque também precisamos de cuidar de nós próprios a fim de não ficarmos desgastados ou desanimados perante a rigidez e a alienação destas pessoas.
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