domingo, abril 10, 2005

Há tanto tempo que eu aqui não vinha! Por razão nenhuma especial: apenas porque não tenho absolutamente nada para dizer, há uma lassidão de espírito que adormecu a minha verve criativa.
Mas agora quero deixar aqui qualquer coisa de jeito! E de que falamos quando nada temos para dizer? Do que outros falaram ou fizeram, claro! É sobre isso que hoje vou aqui escrever: do que outros disseram, ou mais exactamente, escreveram.


"Greguerías", de Ramón Gómez de la Serna, Assírio & Alvim:
Segundo o autor a "greguería = humor + metáfora"; é portanto algo difícil de dizer o que é... mas é brilhante, atinge-nos de e por onde menos esperamos. Aqui vão duas para aguçar o apetite:
"Onde o tempo e a poeira mais se unem é nas bibliotecas." (p.15)
"No primeiro eléctrico da manhã ainda há sonhos do dia anterior." (p.49) Apetece-me continuar:
"Na noite gelada cicatrizam todos os charcos."(p.59)
Não tenho razão? Portanto, comprem o livro!

"Pai (uma antologia literária)", 101 noites:
Sim, prenda do 19 de Março! Normalmente não consigo aderir a antologias. Para mim é uma espécie de zapping em que no fim acaba por pouco ficar. Não foi diferente desta vez: divertiu-me medianamente, mas deixou um rasto pouco duradouro.

"A Chuva Pasmada", Mia Couto, Caminho:
Dói sempre ler Mia Couto, mas dói de prazer, prazer para a inteligência e prazer para a sensibilidade. Mais um livro construído em variações à volta da tristeza e da alegria, nunca se sabendo onde acaba uma e começa a outra. Conta a história de pessoas que a meio do livro já não sabemos se somos nós ou não. Vejamos:
"Eu já sabia: a única história com final feliz é aquela que não tem fim." (p.37)
Nada há a acrescentar, apenas que leiam.

"O mar por cima", Possidónio Cachapa, Oficina do Livro:
Não é a maturidade de um autor, mas é alguém que escreve com aquilo que nós sentimos. Começa em vários lugares, mas depois percebemos que são vários tempos que acabam por se (des)encontrar numa história de amor triste. Gostei muito de ler.

"A Razão do Azul", Eduardo Prado Coelho, edições Quasi:
EPC é o escritor que eu conheço que de longe melhor pensa o lado mais luminoso do que sentimos. É sempre um fascínio ler um livro seu. Este é constituído por pequenos ensaios que brilham até ao insuportável dentro de nós. Um exemplo menor (porque vou cometer um crime que é retirar algumas frases do contexto):
"(...)Porque cada livro é sempre a promessa de uma palavra definitiva - não a última, mas a primeira. (...)" (p.19)
A primeira a partir da qual não há outra possibilidade senão ser-se feliz! E este livro é bem mais do que uma simples promessa, garanto-vos!


Bom, agora vou almoçar. É que o próximo livro de que ia falar encheu-me de tal modo que eu ainda nem sei bem o que vou dizer; por isso faço aqui uma pausa.

Sem comentários: