Aqui, neste lugar estreito, as pessoas acreditam que, para se afirmarem, têm de fazer o deserto à sua volta, isto é, têm de destruir tudo o que os outros fizeram (real ou metaforicamente). Desde o canalizador à investigadora universitária.
No entanto, nenhuma obra nasce do nada, nenhum saber é propriedade exclusiva de um só; na verdade, tudo o que somos e fazemos não o seríamos nem o faríamos sem os outros. É da mais elementar evidência que o mérito de algo que eu consiga fazer não me pertence em exclusivo... mas raríssimos são os que fazem a justiça de o admitir. Terão consciência, ou a suspeita de que a sua obra é medíocre, pelo que só brilhará se diminuirem ou fizerem desaparecer todas as outras?
Atravesso o dia a ouvir dizer mal do que os outros são, do que fazem e do que não fazem: pessoas a escorrer veneno e raiva, pessoas a usar o seu pequeno poder para desagregar e ferir.
País triste e amargo.
A vida. Tão pouco e tão tanto. (...) E todavia eu sei que "isto" nasceu para o silêncio sem fim... (Vergílio Ferreira)
sexta-feira, março 24, 2006
domingo, março 19, 2006
Teresa Balté
Autodidáctica
Contantemente aprende, conhece-te, define-te, sê persistente, procura o teu caminho, só teu, o autêntico; não te desvies, não te enganes a ti mesmo, não imites os outros nem te imites, se ouvires o chamamento não te escondas, segue a voz em ti, ousa-te. Como dizer "sê tu" sensatamente? Como prever catástrofes futuras? Confia; nada tens a perder senão a vida, e se foste tu não te perdeste. Mas se entretanto te descobrires poeta, não te deixes vencer pela melancolia.
(Um dos textos sob o título "Brevíssimas para o que não será Uma Carta a um Jovem Poeta", no JL 924 de 1 de Março de 2006. Teresa Balté publicou agora Poesia Quase Toda nas ed. Asa.)
Digo eu: tão difícil, tão difícil...
Contantemente aprende, conhece-te, define-te, sê persistente, procura o teu caminho, só teu, o autêntico; não te desvies, não te enganes a ti mesmo, não imites os outros nem te imites, se ouvires o chamamento não te escondas, segue a voz em ti, ousa-te. Como dizer "sê tu" sensatamente? Como prever catástrofes futuras? Confia; nada tens a perder senão a vida, e se foste tu não te perdeste. Mas se entretanto te descobrires poeta, não te deixes vencer pela melancolia.
(Um dos textos sob o título "Brevíssimas para o que não será Uma Carta a um Jovem Poeta", no JL 924 de 1 de Março de 2006. Teresa Balté publicou agora Poesia Quase Toda nas ed. Asa.)
Digo eu: tão difícil, tão difícil...
domingo, março 12, 2006
Dia Internacional da Mulher (8 de Março)
Bread and Roses
As we go marching, marching, in the beauty of the day,
A million darkened kitchens, a thousand mill lofts gray,
Are touched with all the radiance that a sudden sun discloses,
For the people hear us singing: Bread and Roses! Bread and Roses!
As we go marching, marching, we battle too for men,
For they are women's children, and we mother them again.
Our lives shall not be sweated from birth until life closes;
Hearts starve as well as bodies; give us bread, but give us roses.
As we go marching, marching, unnumbered women dead
Go crying through our singing their ancient call for bread.
Small art and love and beauty their drudging spirits knew.
Yes, it is bread we fight for, but we fight for roses too.
As we go marching, marching, we bring the greater days,
The rising of the women means the rising of the race.
No more the drudge and idler, ten that toil where one reposes,
But a sharing of life's glories: Bread and roses, bread and roses.
Our lives shall not be sweated from birth until life closes;
hearts starve as well as bodies; bread and roses, bread and roses.
(lá longe, oiço a Judy Collins a cantar esta belíssima marcha...)
As we go marching, marching, in the beauty of the day,
A million darkened kitchens, a thousand mill lofts gray,
Are touched with all the radiance that a sudden sun discloses,
For the people hear us singing: Bread and Roses! Bread and Roses!
As we go marching, marching, we battle too for men,
For they are women's children, and we mother them again.
Our lives shall not be sweated from birth until life closes;
Hearts starve as well as bodies; give us bread, but give us roses.
As we go marching, marching, unnumbered women dead
Go crying through our singing their ancient call for bread.
Small art and love and beauty their drudging spirits knew.
Yes, it is bread we fight for, but we fight for roses too.
As we go marching, marching, we bring the greater days,
The rising of the women means the rising of the race.
No more the drudge and idler, ten that toil where one reposes,
But a sharing of life's glories: Bread and roses, bread and roses.
Our lives shall not be sweated from birth until life closes;
hearts starve as well as bodies; bread and roses, bread and roses.
(lá longe, oiço a Judy Collins a cantar esta belíssima marcha...)
domingo, março 05, 2006
Por uma vez gostaria de encontrar pessoas modestas, pessoas com quem eu me pudesse sentar, no chão de preferência, abandonado e sem ter que manter nenhuma pose. Alguém com quem falar de pássaros e de sol, sem ter de ser profundo ou engraçado. Pessoas com quem ter uma conversa modesta, uma amizade modesta, tudo nada de especial mas, mesmo assim, tudo simples e seguro.
Escreveste um texto. Descobres depois que a ideia já foi desenvolvida por outro, que há até frases quase plagiadas. É o asco, a repulsa.
Atrever-te-ás a eliminar tudo o que é suspeitosamente parecido, o texto todo se necessário? Não o farás: com aquela esperança trémula de não seres descoberto que, na infância, prenunciava o desastre mais humilhante. E fatal...
Atrever-te-ás a eliminar tudo o que é suspeitosamente parecido, o texto todo se necessário? Não o farás: com aquela esperança trémula de não seres descoberto que, na infância, prenunciava o desastre mais humilhante. E fatal...
quinta-feira, março 02, 2006
"Recordo-me de como eu lhe disse uma vez que se paga um preço por ser-se bom tal como se paga por ser-se mau; há um preço a pagar. E são os homens bons que não podem recusar a factura quando ela aparece. Não a podem recusar porque não há maneira de os obrigarem a pagá-la, tal como um homem honesto que joga à sorte. Os homens maus podem recusá-la; é por isso que ninguém espera deles que paguem à vista ou noutra altura qualquer. Mas o bom não pode. Talvez leve mais tempo ser-se bom do que ser-se mau. (...)"
William Faulkner, A Luz em Agosto
William Faulkner, A Luz em Agosto
quarta-feira, março 01, 2006
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