A vida. Tão pouco e tão tanto. (...) E todavia eu sei que "isto" nasceu para o silêncio sem fim... (Vergílio Ferreira)
quarta-feira, outubro 22, 2008
segunda-feira, outubro 20, 2008
A violência dos homens
"Crimes contra mulheres cada vez mais violentos.
(...)
Este ano houve 32 homicídios e 35 tentativas falhadas (...) mais onze casos do que os verificados ao longo de todo o ano de 2007."
Também sabemos que "Um em cada quatro jovens é vítima de violência no namoro".
E sobre as crianças então o número atinge valores inimagináveis. E não nos esqueçamos dos idosos.
Eis um retrato verdadeiramente assustador do Portugal de hoje, um retrato do qual me envergonho em absoluto. No qual a minha pena pelas vítimas sobreleva tudo. E a impotência.
Só me pergunto: se não for por mais nada (compaixão, por exemplo), onde estão a honra e a dignidade pessoal que levam a que um homem não se aproveite da sua força para violentar os mais fracos? Eu não percebo isto.
(...)
Este ano houve 32 homicídios e 35 tentativas falhadas (...) mais onze casos do que os verificados ao longo de todo o ano de 2007."
Também sabemos que "Um em cada quatro jovens é vítima de violência no namoro".
E sobre as crianças então o número atinge valores inimagináveis. E não nos esqueçamos dos idosos.
Eis um retrato verdadeiramente assustador do Portugal de hoje, um retrato do qual me envergonho em absoluto. No qual a minha pena pelas vítimas sobreleva tudo. E a impotência.
Só me pergunto: se não for por mais nada (compaixão, por exemplo), onde estão a honra e a dignidade pessoal que levam a que um homem não se aproveite da sua força para violentar os mais fracos? Eu não percebo isto.
domingo, outubro 12, 2008
Anedota?
He said to her... Why are married women heavier than single women?
She said to him... Single women come home, see what's in the fridge and go to bed. Married women come home, see what's in bed and go to the fridge.
Isto é suposto ser uma piada. Ainda por cima tirei-a de um daqueles sites de pensamento positivo.
Mas acho-a tão fria e tão triste que aflige.
She said to him... Single women come home, see what's in the fridge and go to bed. Married women come home, see what's in bed and go to the fridge.
Isto é suposto ser uma piada. Ainda por cima tirei-a de um daqueles sites de pensamento positivo.
Mas acho-a tão fria e tão triste que aflige.
Admirável Mundo Novo
Imaginemos uma pessoa, QUALQUER PESSOA, que às 8 e pouco da manhã tem de estar sentada numa desconfortável cadeira de pau durante hora e meia, ao frio ou ao calor excessivos, sem poder falar nem se mexer à vontade.
Depois levanta-se durante 20 minutos, para voltar a estar sentada mais hora e meia nas mesmas condições anteriores.
Interrupção de 10 minutos, e volta ao mesmo.
Entretanto é uma e tal da tarde e tem hora e meia para, cheia de fome, estar numa fila a fim de comer o seu almoço (às vezes a correr... e sempre na mesma cadeira de pau).
Às 3 e pouco volta a ter de sentar por mais hora e meia nas mesmas condições da manhã.
Os alunos do turno da tarde têm isto ao contrário, mas até às 6 e meia ou 7 da tarde.
Pergunto: quem aguenta?
Posso responder por mim: eu não aguento.
No entanto, é isto a que obrigamos diariamente miúdos e miúdas de pouco mais de 10 anos, exigindo ao mesmo tempo que estejam sempre calmos, atentos e que trabalhem empenhadamente!
Mas ninguém vê que isto é um monstruoso absurdo!?
Alguém consegue manter-se calmo horas seguidas numa cadeira de pau, dia após dia, durante uma semana inteira? Obviamente que a resposta a esta pergunta é não.
Então qual é a solução que a nossa sociedade está a encontrar para este absurdo?
Não, não é diminuir estas horas intermináveis em condições desumanas.
É drogá-los.
Sim, DROGÁ-LOS!
De ano para ano são cada vez mais alunos (a maioria são rapazes) a serem medicados com Ritalina (alguns efeitos secundários: perda de apetite, irritabilidade, depressão, dificuldade em dormir, dores de cabeça, ou mesmo morte), a fim de poderem estar parados e calmos nas salas de aula!
Porque "sofrem de hiperactividade", expressão aberrante da nossa modernidade! Como se naquelas condições fosse possível ser-se outra coisa saudável que não hiperactivo!
Já se chama a esta geração a Geração Ritalina.
É esta a parte mais vergonhosa da herança que deixamos para o futuro: drogar crianças...
Depois levanta-se durante 20 minutos, para voltar a estar sentada mais hora e meia nas mesmas condições anteriores.
Interrupção de 10 minutos, e volta ao mesmo.
Entretanto é uma e tal da tarde e tem hora e meia para, cheia de fome, estar numa fila a fim de comer o seu almoço (às vezes a correr... e sempre na mesma cadeira de pau).
Às 3 e pouco volta a ter de sentar por mais hora e meia nas mesmas condições da manhã.
Os alunos do turno da tarde têm isto ao contrário, mas até às 6 e meia ou 7 da tarde.
Pergunto: quem aguenta?
Posso responder por mim: eu não aguento.
No entanto, é isto a que obrigamos diariamente miúdos e miúdas de pouco mais de 10 anos, exigindo ao mesmo tempo que estejam sempre calmos, atentos e que trabalhem empenhadamente!
Mas ninguém vê que isto é um monstruoso absurdo!?
Alguém consegue manter-se calmo horas seguidas numa cadeira de pau, dia após dia, durante uma semana inteira? Obviamente que a resposta a esta pergunta é não.
Então qual é a solução que a nossa sociedade está a encontrar para este absurdo?
Não, não é diminuir estas horas intermináveis em condições desumanas.
É drogá-los.
Sim, DROGÁ-LOS!
De ano para ano são cada vez mais alunos (a maioria são rapazes) a serem medicados com Ritalina (alguns efeitos secundários: perda de apetite, irritabilidade, depressão, dificuldade em dormir, dores de cabeça, ou mesmo morte), a fim de poderem estar parados e calmos nas salas de aula!
Porque "sofrem de hiperactividade", expressão aberrante da nossa modernidade! Como se naquelas condições fosse possível ser-se outra coisa saudável que não hiperactivo!
Já se chama a esta geração a Geração Ritalina.
É esta a parte mais vergonhosa da herança que deixamos para o futuro: drogar crianças...
quarta-feira, outubro 08, 2008
Um sorriso gelado
Hoje, nas minhas aulas, alunos gritaram, disseram palavrões, intimidaram e bateram noutros alunos com um sorriso nos lábios ou não, roubaram (canetas, lápis e cadeados dos armários da sala) e desobedeceram-me (verbalizando essa desobediência, olhos nos olhos).
Quando duas pessoas se encontram, mesmo quando não se conhecem, surgem pontes através das expressões faciais e corporais. Não consigo encontrar essas pontes em muitos destes adolescentes. Uns poucos inspiram-me mesmo um profundo terror.
Ontem estava no refeitório sentado a comer com o I., um rapaz maior que eu mas deficiente, que veio da Geórgia, e sinto-o a encostar-se a mim a tremer. À frente, um pouco descaído para a direita tinha-se sentado o D. (aluno famoso na escola pelos piores motivos) que o olhava friamente. "Tu não me vais fazer mal, pois não? Não me vais fazer mal?", dizia o I. com o pânico na voz. Olhei para o D. que se limitava a fixar o I. com um sorriso gelado. E eu, professor, sim, senti um medo pavoroso.
Para não perder a esperança e todo o sentido do que faço, procuro encarar estes jovens não pelo que eles são mas, nos casos mais favoráveis, pelo que eles poderão vir a ser (no que, de ano para ano, tenho apesar de tudo cada vez mais dificuldade, por já pouco conseguir ver). Nos outros casos procuro vê-los como eles quereriam ter sido se lhes tivesse sido dada uma oportunidade para isso: com professores a poderem ser honestos para com eles, isto é, a fazerem-lhes ver que eles podiam conseguir muito mais e muito melhor... em vez disso mostra-se sempre o quão baixas são as expectativas em relação a eles ao não lhes ser permitido aguentar com as consequências do que fazem.
Não consigo imaginar como se sentirá alguém sabendo que aquilo que faz vale tão pouco que, faça o que fizer, nunca terá consequências significativas, apenas receberá uma inútil compreensão que disfarça o mais profundo dos desprezos pela sua pessoa.
Quando duas pessoas se encontram, mesmo quando não se conhecem, surgem pontes através das expressões faciais e corporais. Não consigo encontrar essas pontes em muitos destes adolescentes. Uns poucos inspiram-me mesmo um profundo terror.
Ontem estava no refeitório sentado a comer com o I., um rapaz maior que eu mas deficiente, que veio da Geórgia, e sinto-o a encostar-se a mim a tremer. À frente, um pouco descaído para a direita tinha-se sentado o D. (aluno famoso na escola pelos piores motivos) que o olhava friamente. "Tu não me vais fazer mal, pois não? Não me vais fazer mal?", dizia o I. com o pânico na voz. Olhei para o D. que se limitava a fixar o I. com um sorriso gelado. E eu, professor, sim, senti um medo pavoroso.
Para não perder a esperança e todo o sentido do que faço, procuro encarar estes jovens não pelo que eles são mas, nos casos mais favoráveis, pelo que eles poderão vir a ser (no que, de ano para ano, tenho apesar de tudo cada vez mais dificuldade, por já pouco conseguir ver). Nos outros casos procuro vê-los como eles quereriam ter sido se lhes tivesse sido dada uma oportunidade para isso: com professores a poderem ser honestos para com eles, isto é, a fazerem-lhes ver que eles podiam conseguir muito mais e muito melhor... em vez disso mostra-se sempre o quão baixas são as expectativas em relação a eles ao não lhes ser permitido aguentar com as consequências do que fazem.
Não consigo imaginar como se sentirá alguém sabendo que aquilo que faz vale tão pouco que, faça o que fizer, nunca terá consequências significativas, apenas receberá uma inútil compreensão que disfarça o mais profundo dos desprezos pela sua pessoa.
segunda-feira, outubro 06, 2008
Amnistia Internacional
Porque é que contribuo para esta organização?
Porque, ao contrário da maioria das outras organizações, ela apoia e combate, não por vítimas inocentes (que também precisam de defesa, não o nego), mas por lutadores que assumiram o seu destino com um máximo de responsabilidade e que tiveram a ousadia de dizer não à injustiça e à prepotência assassinas.
domingo, outubro 05, 2008
Avaliação de professores
Nunca me canso de o dizer: sou contra a avaliação de professores.
Sou há muito tempo por uma avaliação das escolas (a funcionar com uma verdadeira autonomia) a partir de contratos feitos entre escola e hierarquia, mas não dos professores tomados individualmente (a menos que haja um desempenho claramente negativo e prejudicial para a escola, caso em que esta solicita uma avaliação externa para esse professor).
Conheci um gestor que dizia: "Se eu sou avaliado, os professores também têm de o ser." Dizia também que a pressão que o seu superior exercia sobre ele levava a que, cada vez menos, ele e os outros trabalhadores levassem em conta o bem estar dos clientes. Superior esse que o ameaçava sempre com uma avaliação negativa se ele não se deixasse de escrúpulos de consciência.
Perguntei-lhe se era isso que ele desejava para os seus filhos ao defender a mesma avaliação para os professores.
Aproveitei e ocorreu-me também perguntar-lhe se ele achava que era melhor para a criança que os pais colaborassem um com o outro, ou se era melhor para ela que os pais estivessem em competição entre si. Tratando-se de educação, tem lógica que com os professores seja diferente?
Ainda não começou em força este processo de avaliação e já noto duas perdas para uma boa educação dos nossos alunos.
Por um lado acabou a partilha. Não, não falo de partilhar materiais e saberes (sim, essa também vai desaparecer), mas de partilhar dúvidas, erros e ignorâncias. Todos sabem que isso se tornou num terreno minado.
Mas o pior de tudo é que, pelas conversas entre professores já deu para perceber que a antiga preocupação com as crianças e com os jovens foi totalmente substituída pela preocupação com a carreira e com a imensidade de coisas que a podem pôr em risco. Por outras palavras, os professores estão a ficar-se nas tintas para os alunos.
Continuarei a observar o alastramento do desastre.
Sou há muito tempo por uma avaliação das escolas (a funcionar com uma verdadeira autonomia) a partir de contratos feitos entre escola e hierarquia, mas não dos professores tomados individualmente (a menos que haja um desempenho claramente negativo e prejudicial para a escola, caso em que esta solicita uma avaliação externa para esse professor).
Conheci um gestor que dizia: "Se eu sou avaliado, os professores também têm de o ser." Dizia também que a pressão que o seu superior exercia sobre ele levava a que, cada vez menos, ele e os outros trabalhadores levassem em conta o bem estar dos clientes. Superior esse que o ameaçava sempre com uma avaliação negativa se ele não se deixasse de escrúpulos de consciência.
Perguntei-lhe se era isso que ele desejava para os seus filhos ao defender a mesma avaliação para os professores.
Aproveitei e ocorreu-me também perguntar-lhe se ele achava que era melhor para a criança que os pais colaborassem um com o outro, ou se era melhor para ela que os pais estivessem em competição entre si. Tratando-se de educação, tem lógica que com os professores seja diferente?
Ainda não começou em força este processo de avaliação e já noto duas perdas para uma boa educação dos nossos alunos.
Por um lado acabou a partilha. Não, não falo de partilhar materiais e saberes (sim, essa também vai desaparecer), mas de partilhar dúvidas, erros e ignorâncias. Todos sabem que isso se tornou num terreno minado.
Mas o pior de tudo é que, pelas conversas entre professores já deu para perceber que a antiga preocupação com as crianças e com os jovens foi totalmente substituída pela preocupação com a carreira e com a imensidade de coisas que a podem pôr em risco. Por outras palavras, os professores estão a ficar-se nas tintas para os alunos.
Continuarei a observar o alastramento do desastre.
sábado, outubro 04, 2008
Uma semana difícil
A minha direcção de turma tem 10 alunos que vieram do 6º ano com 4's e 5's; 10 com 3’s; e 7 alunos desobedientes, malcriados e agressivos que não deixam os professores dar as suas aulas nem deixam os outros aprender.
Os professores estão desvairados, os 20 bem comportados estão desvairados e os pais de todos eles estão desvairados.
Eu penso assim:
Os meus colegas dos anos anteriores e da outra escola (um dos 7 foi expulso e veio cá calhar) tentaram o habitual: confronto verbal, faltas disciplinares, queixas aos pais (por escrito, por telefone e pessoalmente), suspensões e, num caso, até a expulsão. Sem sucesso.
Eu não sou melhor que eles nem tenho mais sorte seguramente. Portanto, parece-me inútil continuar a insistir nas mesmas estratégias que já revelaram ser um fracasso.
Então experimente-se algo de diferente: conversar, ouvir muito, fazer pequenos contratos, ter paciência e compreensão com as vezes em que eles não vão conseguir cumprir, evitar as queixas aos respectivos pais (a maior parte deles, se não todos, bate-lhes, que eu conheço bem os sinais).
Tentei explicar isto aos meus colegas. Não compreenderam, nem aceitaram. São veteranos com grande peso na escola e peso político fora dela. E foram à direcção queixar-se de mim, acusando-me de negligente. Expliquei-me. Acho que a direcção percebeu. Mas disseram-me: se continuas nessa via, como tens os professores contra ti, os teus esforços vão ser sabotados; ou então fazes simplesmente o que eles querem (subentendo-se: nós também).
Se não fosse este sistema de avaliação de professores, eu ia à luta,como já fui no passado... bom, e a verdade é que fui posto na “prateleira”. Mas agora podem fazer-me muito mais mal. Portanto, não tive alternativa.
Resultado?
Umas tantas tareias em casa, primeiro. Depois, o ambiente nas aulas (incluindo nas de Educação Física), na sala de estudo (para onde vão quando são mandados sair da aula) e no pátio, passou de mau a infernal... e eu perdi o pouco controle e respeito que estava a começar conseguir ganhar sobre aqueles alunos.
Os professores estão desvairados, os 20 bem comportados estão desvairados e os pais de todos eles estão desvairados.
Eu penso assim:
Os meus colegas dos anos anteriores e da outra escola (um dos 7 foi expulso e veio cá calhar) tentaram o habitual: confronto verbal, faltas disciplinares, queixas aos pais (por escrito, por telefone e pessoalmente), suspensões e, num caso, até a expulsão. Sem sucesso.
Eu não sou melhor que eles nem tenho mais sorte seguramente. Portanto, parece-me inútil continuar a insistir nas mesmas estratégias que já revelaram ser um fracasso.
Então experimente-se algo de diferente: conversar, ouvir muito, fazer pequenos contratos, ter paciência e compreensão com as vezes em que eles não vão conseguir cumprir, evitar as queixas aos respectivos pais (a maior parte deles, se não todos, bate-lhes, que eu conheço bem os sinais).
Tentei explicar isto aos meus colegas. Não compreenderam, nem aceitaram. São veteranos com grande peso na escola e peso político fora dela. E foram à direcção queixar-se de mim, acusando-me de negligente. Expliquei-me. Acho que a direcção percebeu. Mas disseram-me: se continuas nessa via, como tens os professores contra ti, os teus esforços vão ser sabotados; ou então fazes simplesmente o que eles querem (subentendo-se: nós também).
Se não fosse este sistema de avaliação de professores, eu ia à luta,como já fui no passado... bom, e a verdade é que fui posto na “prateleira”. Mas agora podem fazer-me muito mais mal. Portanto, não tive alternativa.
Resultado?
Umas tantas tareias em casa, primeiro. Depois, o ambiente nas aulas (incluindo nas de Educação Física), na sala de estudo (para onde vão quando são mandados sair da aula) e no pátio, passou de mau a infernal... e eu perdi o pouco controle e respeito que estava a começar conseguir ganhar sobre aqueles alunos.
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