Nunca me canso de o dizer: sou contra a avaliação de professores.
Sou há muito tempo por uma avaliação das escolas (a funcionar com uma verdadeira autonomia) a partir de contratos feitos entre escola e hierarquia, mas não dos professores tomados individualmente (a menos que haja um desempenho claramente negativo e prejudicial para a escola, caso em que esta solicita uma avaliação externa para esse professor).
Conheci um gestor que dizia: "Se eu sou avaliado, os professores também têm de o ser." Dizia também que a pressão que o seu superior exercia sobre ele levava a que, cada vez menos, ele e os outros trabalhadores levassem em conta o bem estar dos clientes. Superior esse que o ameaçava sempre com uma avaliação negativa se ele não se deixasse de escrúpulos de consciência.
Perguntei-lhe se era isso que ele desejava para os seus filhos ao defender a mesma avaliação para os professores.
Aproveitei e ocorreu-me também perguntar-lhe se ele achava que era melhor para a criança que os pais colaborassem um com o outro, ou se era melhor para ela que os pais estivessem em competição entre si. Tratando-se de educação, tem lógica que com os professores seja diferente?
Ainda não começou em força este processo de avaliação e já noto duas perdas para uma boa educação dos nossos alunos.
Por um lado acabou a partilha. Não, não falo de partilhar materiais e saberes (sim, essa também vai desaparecer), mas de partilhar dúvidas, erros e ignorâncias. Todos sabem que isso se tornou num terreno minado.
Mas o pior de tudo é que, pelas conversas entre professores já deu para perceber que a antiga preocupação com as crianças e com os jovens foi totalmente substituída pela preocupação com a carreira e com a imensidade de coisas que a podem pôr em risco. Por outras palavras, os professores estão a ficar-se nas tintas para os alunos.
Continuarei a observar o alastramento do desastre.
4 comentários:
Caro Rui,
Normalmente sou um pouco preguiçosa para escrever e por isso comento pouco nos blogues, mas o seu dá-me sempre vontade de dizer qualquer coisa.
Em princípio e por princípio, não sou contra avaliações. A questão é o tipo e a forma que estas assumem.
Compreendo bem o que diz e nem imagino bem o que seja observar o alastramento do desastre sem poder fazer grande coisa.
Mas lembro-me de um post seu não muito antigo (afinal, sou visita relativamente recente) sobre um livro que leu, The Dilemma of Obedience. Talvez se possa inspirar aí...
Beijinho e boa semana de trabalho
Agradeço o seu interesse. Devo confessar que me sinto sempre estimulado a reflectir com os seus comentários. Como neste:
Sabe porque é que eu me interesso tanto por conhecer formas de resistir? A vergonhosa verdade: porque tenho muitos medos. E, se às vezes faço voz grossa, é mais como o miúdo aterrorizado que, no escuro, se põe a assobiar. Posso dizer que tenho passado a minha vida a combater medos...
E não temos todos?
Com maior ou menor sucesso.
Vencer os medos dá uma enorme liberdade e felicidade. Acredite.
Receba um beijinho amigo
Adriana
Eu não desisto de lutar contra eles. acredito em si, a minha experiência confirma-mo.
Aliás, não desisto de lutar contra tudo o que me aparece como definitivo e que sei que não conduz a algo de maior e de melhor.
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