sábado, outubro 04, 2008

Uma semana difícil

A minha direcção de turma tem 10 alunos que vieram do 6º ano com 4's e 5's; 10 com 3’s; e 7 alunos desobedientes, malcriados e agressivos que não deixam os professores dar as suas aulas nem deixam os outros aprender.

Os professores estão desvairados, os 20 bem comportados estão desvairados e os pais de todos eles estão desvairados.

Eu penso assim:

Os meus colegas dos anos anteriores e da outra escola (um dos 7 foi expulso e veio cá calhar) tentaram o habitual: confronto verbal, faltas disciplinares, queixas aos pais (por escrito, por telefone e pessoalmente), suspensões e, num caso, até a expulsão. Sem sucesso.

Eu não sou melhor que eles nem tenho mais sorte seguramente. Portanto, parece-me inútil continuar a insistir nas mesmas estratégias que já revelaram ser um fracasso.

Então experimente-se algo de diferente: conversar, ouvir muito, fazer pequenos contratos, ter paciência e compreensão com as vezes em que eles não vão conseguir cumprir, evitar as queixas aos respectivos pais (a maior parte deles, se não todos, bate-lhes, que eu conheço bem os sinais).

Tentei explicar isto aos meus colegas. Não compreenderam, nem aceitaram. São veteranos com grande peso na escola e peso político fora dela. E foram à direcção queixar-se de mim, acusando-me de negligente. Expliquei-me. Acho que a direcção percebeu. Mas disseram-me: se continuas nessa via, como tens os professores contra ti, os teus esforços vão ser sabotados; ou então fazes simplesmente o que eles querem (subentendo-se: nós também).

Se não fosse este sistema de avaliação de professores, eu ia à luta,como já fui no passado... bom, e a verdade é que fui posto na “prateleira”. Mas agora podem fazer-me muito mais mal. Portanto, não tive alternativa.

Resultado?

Umas tantas tareias em casa, primeiro. Depois, o ambiente nas aulas (incluindo nas de Educação Física), na sala de estudo (para onde vão quando são mandados sair da aula) e no pátio, passou de mau a infernal... e eu perdi o pouco controle e respeito que estava a começar conseguir ganhar sobre aqueles alunos.

5 comentários:

Xantipa disse...

Caro Rui,
Estou perplexa e acho que não percebi o seu post.
Está mesmo a dizer que, por tentar comunicar com os alunos problemáticos, os seus próprios colegas estão contra si?
??
É isto que está a dizer?
Está a dizer que o seu esforço poderia demonstrar que eles não estão a fazer esse esforço e, assim, ficarem mal vistos?
??
É isso?
E que mal lhe poderiam fazer? Na avaliação a que o Rui vai ser sujeito por essas mesmas pessoas?
Diga-me que estou errada e que não percebi o seu postal.

Anónimo disse...

Não, Adriana, eles estão furiosos comigo porque eu não tomei nenhumas medidas duras (e a verdade é que a minha acção não teve tempo de produzir efeitos): ameaçar os alunos com suspensões, participar à direcção, convocar um conselho disciplinar, convocar os pais destes alunos à escola para me queixar deles... Percebe? O raciocínio dos meus colegas é este: Há regras para cumprir e se for preciso guerra para as fazer cumprir, pois que seja guerra. Só que a minha opinião é que, com estes alunos, intervenções musculadas e autoritárias (se é que a isto se pode dar esse nome mas, enfim, é o máximo que um professor hoje em dia pode fazer) mostraram não não ter sucesso anteriormente.

Quanto à avaliação. Ela vai ser feita pelo meu superior hierárquico e pela direcção. Ora esta minha linha de acção não tem resultados garantidos: no passado eu já falhei duas vezes com dois alunos - consolo-me por pensar que eles eram tão barbaramente espancados pelos pais que pouco pude fazer para além de apresentar queixa à comissão de protecção de menores.
Ora, se eu falhar vou ter todos os dedos apontados para mim a acusarem-me do fracasso (incluindo os dos pais, mesmo dos maus alunos). Então se os meus colegas não colaborarem comigo é que eu de certeza não consigo ser bem sucedido; mas apanho com as culpas todas na mesma. É aquilo a que os americanos chamam de uma "no-winning situation".

Não sei se agora está mais claro.

Xantipa disse...

Sim. Esclareceu aquilo que me pareceu que tinha dito.
E como se sente o Rui com isso? Eu estou chocada, se quer que lhe diga.
Como consegue conviver com os seus colegas?
Provavelmente estes meus comentários não o ajudam em nada. Desculpe.
Dois beijinhos (um de há pouco e outro de agora)

Didas disse...

Então e fechá-los numa sala e ameaçá-los de morte. Não dá? Um de cada vez, claro.

Anónimo disse...

O que eu sinto, Adriana, é que, parafraseando a Bette Davies, Teaching is no place for sissies, hoje em dia. E sinto pena, sinto mesmo muita pena é dos alunos que cada vez mais passam a maior parte do seu tempo de vida em lugares afectivamente desolados e frios.

Didas, pela minha experiência, muitos deles já estão habituados a isso na sua vida familiar. Olhe, num dos casos que denunciei à CPCJ, a mãe perguntava-me desvairada se só matando a filha, que estava ali ao lado a ouvir, é que alguém se mexeria para a ajudar... Já vê.