terça-feira, abril 07, 2009

Acabou-se!

A engrenagem já não contará comigo por muito mais tempo: entreguei um pedido de licença sem vencimento de longa duração. Ou seja, vou-me embora. Espero que para sempre.

Um aluno de um CEF pontapeou a cabeça de um colega enviando-o para o hospital em estado crítico. A pena máxima que a escola pôde aplicar consistiu em 10 dias de suspensão (já se sabe, com faltas justificadas): não havia o mesmo CEF numa escola da área de residência dele, pelo que a transferência estava fora de causa.
Outro aluno, por, entre outros actos violentos (e várias penas de suspensão), ter agredido uma professora na cabeça, foi punido com transferência de escola: passam-se as semanas e nada de assinatura do director regional, pelo que ele continua na escola (imagine-se como) e diz: "Posso fazer o que quiser, o que é que me pode acontecer de pior?"

Estive no ensino 24 anos por vocação, talento, paixão e alegria. Eu gosto muito de ensinar, que é uma coisa que hoje em dia faço pouco. O que faço é reforçar a máquina destruidora que este Governo pôs em marcha. Devo dizer, pois, que saio com alegria também: já não mais humilhações violentas, nem trabalhos inúteis e esgotantes, nem sapos engolidos, nem ausências de respeito e de consideração, nem ameaças ou ataques à minha integridade física e mental.
E não mais me sentirei responsável por alimentar este imenso desastre que é hoje a Educação em Portugal no ensino público.

4 comentários:

Ana (Brasil) disse...

Tenho acompanhado seus posts e luta pela escola pública de qualidade. É com tristeza e perplexidade que observo o desencanto de mestres com a Educação em Portugal.
Infelizmente, parece ser uma ordem mundial essa farsa no ensino, essa busca por resultados estatísticos, e o desrespeito aos profissionais do magistério.
Que a crise tão badalada seja motor de reflexão e análise também na Educação.
O tempo e as mudanças o tragam de volta ao ensino.

Rui disse...

Obrigado, Ana, mas a verdade é que vou tentar nunca mais voltar porque o mal já feito demorará anos e anos a desfazer (já não no meu tempo de vida)... coisa que eu acho que nem sequer vão tentar. Acredito que isto obedece a uma estratégia mais global de abrir ainda mais o mercado da educação: isso é conseguido desacreditando completamente a escola pública, a fim de toda a gente começar a ir para o ensino privado.
Agradeço mais uma vez as suas palavras e a sua atenção.

Joaquim Moedas Duarte disse...

Atitude corajosa!!!!
Mas... que vai fazer?

Admiro, sem dúvida. Espero que tenha solução pessoal para o seu "day after"...

Esta escumalha que tomou conta do Ministério da Educação já conseguiu tudo o que queria: destruir na maioria dos professores a alegria de estar com os alunos. Agora vão ter as marionetas de serviço para varrerem o chão com a língua, antes deles passarem.

Que tenham bom proveito, cambada de energúmenos!

Abraço!

Rui Diniz Monteiro disse...

É verdade, Méon. Foi isto que eles quiseram. Eles inclui toda a sociedade civil que os apoiou, claro.
De facto tenho pouca coisa preparada para o day after, mas eu tinha de tentar e tinha de o fazer já, portanto logo se vê (não ter dívidas, ter algum dinheiro de parte e ir viver com quem vou, já ajuda bastante).