Sabemos hoje que Hitler nada teria conseguido sem a colaboração dos funcionários públicos.
Temos assim o pequeno funcionário, peça de uma imensa engrenagem (peça porque perfeitamente substituível), na qual cada injustiça era apresentada como um sacrifício necessário para a Alemanha sair da crise (em que cada injustiça não era vista como tal pela opinião publicada na altura, note-se).
Com a táctica dos pequenos passos a enredarem-se uns pelos outros, mais o recurso ao medo, os nazis conseguiram que as pessoas fizessem o que não aceitariam fazer em condições normais.
E, nestas condições, poucos desses funcionários conseguiram ser suficientemente lúcidos e corajosos para se oporem ao sistema ou para dele sairem.
O problema que aqui se me põe para já é este:
Como conseguir distinguir a linha que separa o que é ainda eticamente aceitável, do que configura já a prática de um crime?
Ou:
Como saber aquilo que os nossos descendentes vão identificar claramente como um crime, votando-nos a nós, que dele participámos e o alimentámos, à condenação e ao desprezo?
Mas no estado actual da Educação no nosso país este problema de identificação põe-se?
Na minha opinião, não, realmente não.
Porque sei, cada vez com mais convicção, que já está a ser cometido por este governo um Crime de proporções incalculáveis sobre esta geração de jovens e sobre o futuro deste país.
(Só o facto de o sistema não ter meios para pôr cobro aos que impedem os alunos mais pobres e mais trabalhadores de poderem estar em segurança na escola e de aí poderem aprender, para mim já é crime bastante)
Então, nestas condições, como deve actuar este "pequeno funcionário" que é o professor da escola pública?
Eu sei.
Primeiro, recusar-se a colaborar em tudo o que estiver ao seu alcance, desde que não prejudique ainda mais os alunos.
O que já é bastante.
Mas a verdade é que, no fim, não há outra alternativa, nada mais lhe resta fazer senão sair desta engrenagem, numa recusa, agora total, de alimentar este Crime, ou de sequer fazer parte dele.
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