Há 36 anos começava um periodo da vida do país durante o qual a maioria dos portugueses pôde acreditar que todos os sonhos eram possíveis. Tanta loucura que foi imaginada, que foi feita, e a maior parte até que foi bem intencionada!
A partir de Novembro de 75 os portugueses foram acusados de tudo e de mais alguma coisa, em particular de terem delapidado as finanças públicas, pondo o país "de tanga"... Soa a familiar? Pois soa. E agora, quem são os responsáveis? E por que miserável incompetência é que nos arrastaram até aqui, principalmente depois de anos e anos a imporem-nos sacrifícios, a atiçarem ódios, a promoverem mais e mais corrupção?
Eu não consigo ver filmes, nem documentários, nem ler coisas sobre o 25 de Abril. Porquê? Simplesmente, porque começo a chorar. A chorar, tomado por uma tristeza sem fundo. Mas mais: sinto uma raiva e um desprezo infinitamente desesperados contra toda aquela gente que não contente em matar o 25 de Abril, matou os sonhos que ali nasceram e, ainda não satisfeitos com isso, mataram também toda a esperança numa vida melhor. Raiva e desprezo sem fim.
A vida. Tão pouco e tão tanto. (...) E todavia eu sei que "isto" nasceu para o silêncio sem fim... (Vergílio Ferreira)
sexta-feira, abril 23, 2010
quarta-feira, abril 21, 2010
Estes doentes que nos governam...
... era o título de um livro de Pierre Accoce e Pierre Rentchnick, da década de 70.
(Este post foi-me inspirado por uma crónica de Guilherme Valente saído no Público, de que tomei conhecimento no blog De Rerum Natura, donde tiro parte das citações. E que me fez recordar o título qe escolhi para aqui. A propósio do suicídio do professor Luís e das situações de bullying nas escolas.)
«Temos de nos esforçar para que estas situações possam ser ultrapassadas. Tratam-se de jovens que são na sua generalidade bons alunos e que não podem transportar na sua vida uma situação de culpa que os pode vir a condicionar pela negativa», afirmou José Joaquim Leitão, director regional de educação de Lisboa.
Arno Gruen (A Loucura da Normalidade e a Traição do Eu, ed. Assírio e Alvim) chamava a atenção para esta estranha e malfadada perversão que leva pessoas ditas "normais" e "inteligentes" a porem-se do lado dos agressores, a desculpá-los de tudo e a ter pena deles. E, além disso, a achar que eles é que são vítimas e não os que são torturados por eles.
José Joaquim Leitão disse que «é do conhecimento público» que o docente apresentava uma «fragilidade psicológica já desde há muito tempo».
Portanto, trata-se aqui até de uma completa incapacidade para identificar as verdadeiras vítimas. Mas há mais. De Daniel Sampaio:
«É que há em todas as escolas comportamentos que podem ser considerados violentos, mas que não são bullying. A escola reproduz a sociedade e esta não é serena, por isso são frequentes as piadas, as troças e até um insulto passageiro ou um empurrão, sem que isso seja muito grave.»
Como se vê, estas mesmas pessoas revelam também uma total incapacidade para empatizarem com as vítimas e os desprotegidos, esquecendo-se sempre que estes é que verdadeiramente precisam de defesa, de protecção e de segurança. Ainda Daniel Sampaio:
«Querer uma escola controlada pela polícia em que ninguém possa desobedecer ou contestar as regras, é acabar de vez com esse território de liberdade segura que caracteriza o nosso sistema educativo (…)».
Faltando-lhes a "lata" para defenderem abertamente os agressores, pugnam pela manutenção das condições necessárias para que estes continuem, impunes e à vontade, a maltratar os mais fracos.
É esta gente, profundamente doente, mas que, pelo seu número e pelo seu poder para se fazerem ouvir vezes sem conta, parece normal, é esta gente, repito, que tem ocupado o poder nos últimos anos.
Infelizmente para tantos e tantos miúdos...
(Este post foi-me inspirado por uma crónica de Guilherme Valente saído no Público, de que tomei conhecimento no blog De Rerum Natura, donde tiro parte das citações. E que me fez recordar o título qe escolhi para aqui. A propósio do suicídio do professor Luís e das situações de bullying nas escolas.)
«Temos de nos esforçar para que estas situações possam ser ultrapassadas. Tratam-se de jovens que são na sua generalidade bons alunos e que não podem transportar na sua vida uma situação de culpa que os pode vir a condicionar pela negativa», afirmou José Joaquim Leitão, director regional de educação de Lisboa.
Arno Gruen (A Loucura da Normalidade e a Traição do Eu, ed. Assírio e Alvim) chamava a atenção para esta estranha e malfadada perversão que leva pessoas ditas "normais" e "inteligentes" a porem-se do lado dos agressores, a desculpá-los de tudo e a ter pena deles. E, além disso, a achar que eles é que são vítimas e não os que são torturados por eles.
José Joaquim Leitão disse que «é do conhecimento público» que o docente apresentava uma «fragilidade psicológica já desde há muito tempo».
Portanto, trata-se aqui até de uma completa incapacidade para identificar as verdadeiras vítimas. Mas há mais. De Daniel Sampaio:
«É que há em todas as escolas comportamentos que podem ser considerados violentos, mas que não são bullying. A escola reproduz a sociedade e esta não é serena, por isso são frequentes as piadas, as troças e até um insulto passageiro ou um empurrão, sem que isso seja muito grave.»
Como se vê, estas mesmas pessoas revelam também uma total incapacidade para empatizarem com as vítimas e os desprotegidos, esquecendo-se sempre que estes é que verdadeiramente precisam de defesa, de protecção e de segurança. Ainda Daniel Sampaio:
«Querer uma escola controlada pela polícia em que ninguém possa desobedecer ou contestar as regras, é acabar de vez com esse território de liberdade segura que caracteriza o nosso sistema educativo (…)».
Faltando-lhes a "lata" para defenderem abertamente os agressores, pugnam pela manutenção das condições necessárias para que estes continuem, impunes e à vontade, a maltratar os mais fracos.
É esta gente, profundamente doente, mas que, pelo seu número e pelo seu poder para se fazerem ouvir vezes sem conta, parece normal, é esta gente, repito, que tem ocupado o poder nos últimos anos.
Infelizmente para tantos e tantos miúdos...
domingo, abril 18, 2010
Post rápido: educação, sempre o mesmo tema! Irra, que já chateia!
No meio de imenso trabalho, arranjo aqui um pequeno intervalo só para não deixar isto abandonado e parado.
Mais uma vez, só me ocorre falar de educação (isto quando não penso na situação catastrófica para a qual o actual chefe do governo arrastou o nosso país). Nem sei para quê! As decisões foram tomadas, o comboio posto em movimento e já não acredito que alguém o consiga parar.
Leio sobre professores afastados por exigirem que os alunos aprendam, assisto ao ar de gozo dos alunos a falarem dos professores que facilitam tudo e dão altas notas (não, não estou a falar só da escola, mas também da universidade, pois o vírus já aí chegou; sim, estou a falar da universidade pública, pois também aí isto já acontece), testemunho a qualidade decrescente dos profissonais que o sistema educativo atrai para si, e, com tudo isto, uma tristeza sem fim toma conta de mim.
Pronto, já desabafei. Sem alívio, claro. E volto para o trabalho!
Mais uma vez, só me ocorre falar de educação (isto quando não penso na situação catastrófica para a qual o actual chefe do governo arrastou o nosso país). Nem sei para quê! As decisões foram tomadas, o comboio posto em movimento e já não acredito que alguém o consiga parar.
Leio sobre professores afastados por exigirem que os alunos aprendam, assisto ao ar de gozo dos alunos a falarem dos professores que facilitam tudo e dão altas notas (não, não estou a falar só da escola, mas também da universidade, pois o vírus já aí chegou; sim, estou a falar da universidade pública, pois também aí isto já acontece), testemunho a qualidade decrescente dos profissonais que o sistema educativo atrai para si, e, com tudo isto, uma tristeza sem fim toma conta de mim.
Pronto, já desabafei. Sem alívio, claro. E volto para o trabalho!
segunda-feira, abril 12, 2010
O medo da morte
"Eu não me sinto nada velho(a), sei que tenho ainda muito para fazer e viver", ou "Não sinto a idade que tenho", frases comuns, banais em pessoas a partir de uma certa idade.
Eu também as ouço e apercebo-me que, subjacente, está o medo da morte ou de uma doença incapacitante. Não me identifico com isto, aliás nunca as digo. A morte causa-me realmente pavor, mas é a dos outros, não a minha. Por causa da perda que representa essa morte, sinto na carne o que será a falta dessas pessoas, a sua ausência. Agora, a minha...
Na verdade, acho que sei o que poderei sentir quando a minha morte começar a ficar gritantemente próxima.
Nunca tinha vivido sozinho até me separar. Nos primeiros tempos isso não me trouxe qualquer problema porque trabalhava o dia todo na escola (em Loures) e, ao fim da tarde, levava o meu filho à natação ou à música, chegando a casa (na Costa da Caparica) pelas 8 ou 9 da noite. O fim de semana passava-o com a minha família. Não dava para me sentir só, apenas me sentia liberto de um pesadelo.
Mas, na semana entre o Natal e o Ano Novo, o caso passou a ser outro muito diferente: o isolamento total caiu sobre mim. Sem escola, sem o meu filho, os amigos e familiares a trabalharem ou de férias longe (só começaria a namorar alguns tempos depois)... e, ainda por cima adoeço!
Tratou-se de uma simples gripe, mas foi o bastante para eu ser tomado de uma angústia enorme: cheio de febre, a ter de fazer compras e a comida para me alimentar, ter de ir à farmácia para comprar medicamentos, a pensar como conseguiria ir sozinho ao centro de saúde se as coisas piorassem, sem saber a quem podia recorrer numa emergência, tudo isso deu origem a que, num desses dias em particular, fosse invadido por uma sensação verdadeiramente horrível sobre a qual perdi todo o controlo. Soube mais tarde que tinha sido vítima de um ataque de pânico.
Fosse o que fosse, a verdade é que nunca mais esquecerei esse dia terrível por que passei.
Isto para dizer que, na pior das hipóteses, será assim, penso eu, com um pânico e uma solidão semelhantes, que provavelmente me aproximarei da morte. Portanto, apesar de ser ateu e de não acreditar em vidas para além da morte, encaro esta com distância mas também com aceitação.
Agora a morte dos outros, é que não, de todo: não consigo, nem nunca conseguirei encará-la com naturalidade, seja na vida real, nos livros ou nos filmes. Revolta-me sempre a sua existência e apavora-me, profundamente, a sua cegueira e inevitabilidade.
Eu também as ouço e apercebo-me que, subjacente, está o medo da morte ou de uma doença incapacitante. Não me identifico com isto, aliás nunca as digo. A morte causa-me realmente pavor, mas é a dos outros, não a minha. Por causa da perda que representa essa morte, sinto na carne o que será a falta dessas pessoas, a sua ausência. Agora, a minha...
Na verdade, acho que sei o que poderei sentir quando a minha morte começar a ficar gritantemente próxima.
Nunca tinha vivido sozinho até me separar. Nos primeiros tempos isso não me trouxe qualquer problema porque trabalhava o dia todo na escola (em Loures) e, ao fim da tarde, levava o meu filho à natação ou à música, chegando a casa (na Costa da Caparica) pelas 8 ou 9 da noite. O fim de semana passava-o com a minha família. Não dava para me sentir só, apenas me sentia liberto de um pesadelo.
Mas, na semana entre o Natal e o Ano Novo, o caso passou a ser outro muito diferente: o isolamento total caiu sobre mim. Sem escola, sem o meu filho, os amigos e familiares a trabalharem ou de férias longe (só começaria a namorar alguns tempos depois)... e, ainda por cima adoeço!
Tratou-se de uma simples gripe, mas foi o bastante para eu ser tomado de uma angústia enorme: cheio de febre, a ter de fazer compras e a comida para me alimentar, ter de ir à farmácia para comprar medicamentos, a pensar como conseguiria ir sozinho ao centro de saúde se as coisas piorassem, sem saber a quem podia recorrer numa emergência, tudo isso deu origem a que, num desses dias em particular, fosse invadido por uma sensação verdadeiramente horrível sobre a qual perdi todo o controlo. Soube mais tarde que tinha sido vítima de um ataque de pânico.
Fosse o que fosse, a verdade é que nunca mais esquecerei esse dia terrível por que passei.
Isto para dizer que, na pior das hipóteses, será assim, penso eu, com um pânico e uma solidão semelhantes, que provavelmente me aproximarei da morte. Portanto, apesar de ser ateu e de não acreditar em vidas para além da morte, encaro esta com distância mas também com aceitação.
Agora a morte dos outros, é que não, de todo: não consigo, nem nunca conseguirei encará-la com naturalidade, seja na vida real, nos livros ou nos filmes. Revolta-me sempre a sua existência e apavora-me, profundamente, a sua cegueira e inevitabilidade.
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