sexta-feira, abril 22, 2011

Submissão... ao dinheiro!

«Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes e disse-lhes: 'Quanto me dareis, se eu vo-lo entregar?' Eles garantiram-lhe trinta moedas de prata.» - Mt 26, 14-15

(Bíblia Sagrada, Difusora Bíblica, 2002)


Abril de 2011

Pergunta-se às pessoas: «Para receber dinheiro, é capaz de aplicar choques eléctricos dolorosos a seres humanos?»

64% responde que jamais (o que significa que, apesar de tudo, mais de um terço admite ser capaz de o fazer por dinheiro).

Oferece-se a oportunidade real de aplicar 20 electrochoques a outros seres humanos, para receber até um máximo de 1£ por cada um (dependendo do grau de intensidade com que os aplica).

96% fizeram-no. Por dinheiro.

Eu que sempre ouvi dizer que todos os homens têm um preço.
Eu que li milhares de páginas de História e de Filosofia para entender como o nazismo obteve a adesão maciça de um dos povos mais civilizados e cultos do mundo.
Eu, que fui professor e sou testemunha das mentiras causadoras de sofrimento moral que jornalistas, políticos e opinion-makers são capazes de dizer só para receberem mais um punhado de notas.
Eu que já assisti pessoalmente à mentira e ao roubo perpetrados sobre pessoas mais fracas.
Eu, confesso, fiquei chocado com estes resultados.

Exactamente 50 anos depois das experiências de Stanley Milgram (de que já aqui falei) e tudo continua na mesma?

Ou pior?... É que, na experiência de Milgram, os participantes estavam a obedecer a uma autoridade vista como responsável e legítima (alguém, que se mostrava com um cientista, dava indicações do que deveriam fazer).

Aqui, e em 2011, é por dinheiro, só por dinheiro. Humilhante...


Via

7 comentários:

Xantipa disse...

Horrível...
:(

Gregório Salvaterra disse...

Já tinha lido sobre esta experiência e... dá que pensar.
Mesmo sabendo que na realidade ninguém apanhava choques é um confronto chocante. Muitos dos participantes parece que não hesitaram em aplicar a carga máxima.

Rui disse...

É difícil dizer algo sobre isto. Até porque 96% é muita gente; mais precisamente, é quase toda a gente!

Gi disse...

Leiam os comentários ao artigo. Não é tão horrível como isso: If I know that the subject voluntarily submitted to the experiment and the pain is temporary, tolerable, and does not cause long term damage - then why the hell not? Shock away! diz o valkraider.

Rui Diniz Monteiro disse...

Gi,

São comentários falaciosos.

1º, o objectivo do estudo era determinar as respostas comportamentais, ao nível dos circuitos neuronais do cérebro, face a decisões tomadas hipoteticamente e face a decisões em relação a acções reais e concretas.
Os participantes, por isso, tiveram de ser necessariamente escolhidos entre pessoas que não sabiam do que se tratava ali, senão os resultados obtidos seriam inválidos e inúteis.

2º, a questão principal não está nas percentagens consideradas independentemente uma da outra;
mas sim no facto de 64% das pessoas acharem moralmente errado fazer aquilo por dinheiro e esse número reduzir-se para 4% quando se tratou de ganhar uma quantia que até era ridiculamente irrisória. E isto, sim, é horrível.

Bjs e até logo!

Liliana disse...

Ó Rui, mas que estudo é esse? Onde veio publicado? A fonte é fidedigna? È que custa a crer... :(

Rui Diniz Monteiro disse...

Liliana,

Este é o meu blog mais generalista e pessoal. Mas tenho um mais técnico em
http://ondemudar1.blogspot.com/
onde pus todas as referências necessárias.

Ainda não há um artigo centífico escrito acessível ao público, mas esta notícia aparece em vários sítios. Escolhi o que me pareceu mais sério (link no fim do post), mas em todos se dá a mesma notícia.

Talvez isto explique (mas não justifica!) a generalização da corrupção em Portugal. Aqui há poucas barreiras à tentação do dinheiro fácil.