No Público de 10 de Outubro de 2011
(...) um em cada cinco portugueses já sofreu de uma doença psiquiátrica e quase metade (43%) já teve uma perturbação psicológica durante a vida. "Portugal parece ser o país da Europa com maior prevalência de perturbações mentais na população, (...)
Esta notícia assusta-me, mas não posso dizer que me surpreenda. Porquê?
Primeiro, porque os portugueses não são simpáticos uns para os outros. Não o são nas estradas, não o são nos empregos, não o são em quase lado nenhum. Os portugueses não se tratam bem uns aos outros: a dureza, a arrogância, o desprezo são vistos como qualidades, não como defeitos. E as pessoas que ostentam estas caraterísticas são as que mais sobem na vida, são as que mais conseguem obter coisas dos outros. E, naturalmente, não vêem razão para pararem de ser o que são.
Vê-se bem esta falta de simpatia nas demonstrações de gratidão, por exemplo. Quer dizer, não se vê, pois quase nunca ninguém agradece nada a ninguém. Os portugueses acham que quem lhes faz qualquer coisa em seu benefício, não fez mais do que a sua obrigação. Portanto, não merece agradecimento; nem sequer reconhecimento.
Por outro lado, os portugueses, cada vez mais tão naturalmente que já nem se dão conta, promovem entre si uma cultura de sofrimento, de queixumes, de mal-estar, de negativismo e de desânimo. Com óbvio comprazimento mútuo.
Neste ambiente social, as pessoas cada vez mais recebem dos outros a imagem de uma existência menor, ou mesmo de uma não-existência. As pessoas sentem-se sós e têm razão para isso. E, claro, as perturbações momentâneas que noutras circunstâncias não seriam mais do que isso mesmo, neste ambiente de ausência de suporte mútuo tornam-se permanentes e graves.
Eu espero que esta crise seja a oportunidade para as pessoas perceberem que é absolutamente necessário, no seu dia a dia, apoiarem-se umas às outras. E que os psicólogos e os futuros psicólogos sejam promotores activos dessa maneira nova de estar na vida. Nova e mais feliz.
3 comentários:
Caro Rui, subscrevo na integra, falta ao povo portugues em doses massivas, cultura de cidadania e a gestão dos afectos é completamente negligenciada, aliás, é considerado uma fraqueza quando dela advêm a maior força: a capacidade de nos questionarmos, de nos pormos no lugar do outro e agirmos em conformidade, não acredito contudo que os psicologos portugueses sejam o vector dessa mudança, eles são parte do problema, entretidos em querelas de ordens e entre areas de especialização, e altamente desumanizados no seu conjunto, é mais um fascinio morbido pelo demente que move a grande maioria dos psicologos caro rui, em detrimento da filantropia e solidariedade.
Obrigado pelo seu comentário.
Quanto aos psicólogos, vou esperar que não seja assim que eles se apresentam ao que o país precisar deles.
Tambem o espero Rui, e digo isto sendo igualmente psicologo e tendo estudado na universidade que frequenta, mas é a realidade que se nos apresenta, apesar dos professores colocarem inumeros floreados (pelo menos no tempo que la estudei) sem nunca abordar as questões verdadeiramente importantes, aliás ética e deontologia foram materias dadas à velocidade da luz, sempre defendi que a entrada no curso de psicologia deveria de possuir pré requesitos, acho que facilmente constatará que antes de serem alunos, o curso possui inumeros pacientes à espera de cura concedida pelo mesmo.
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