domingo, novembro 13, 2016

Como Trump aliciou a América

Trump foi muito inteligente. Senão, vejamos.

Começou por dar voz ao medo das pessoas que se sentem cada vez mais desamparadas, solitárias e fechadas nas suas casas esvaziadas pelo desemprego, a ver uma televisão que quase só apresenta conteúdos pouco confortantes. Num mundo globalizado de cujo funcionamento compreendem cada vez menos e sobre o qual, segundo lhes é dito, não têm poder algum.

De seguida, transformou esse medo em raiva dirigida a uma variedade de objetos (sistema, imigrantes, muçulmanos, etc.) suficientemente grande para satisfazer todo o tipo de pessoas. Além disso, ele, Trump, estava ali com a possibilidade de lhes dar a voz e o poder que elas sentem que deixaram de ter. Deu, assim, a ilusão de que o desamparo podia deixar de existir.

E, principalmente, Trump ofereceu um sonho: Make America Great Again. As pessoas têm imensa fome de sonhos. Especialmente, de sonhos pelos quais se possam transcender e ir para além das suas vidas tristes, mesquinhas e assustadas. Além disso, com a palavra Again, as pessoas viram-se transformadas em portadoras de uma tradição antiga, de um valor muito maior do que elas próprias. Numa época em que elas sentem, com amargura, que as tradições e os valores que lhes davam sentido às suas vidas se estilhaçaram, Trump veio trazer-lhes a promessa ilusória de um novo alento.

Por fim, ofereceu-se ele próprio para representar, ser estandarte e liderar esse movimento em direção a este sonho.

Compreendemos que é difícil resistir. Apesar de sabermos (e de ele saber!) que não se pode voltar para trás. Mais: que não queremos voltar para trás!


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