Trump foi muito inteligente. Senão, vejamos.
Começou por dar voz ao medo das pessoas que se sentem cada
vez mais desamparadas, solitárias e fechadas nas suas casas esvaziadas pelo desemprego, a ver uma televisão
que quase só apresenta conteúdos pouco confortantes. Num mundo globalizado de cujo funcionamento
compreendem cada vez menos e sobre o qual, segundo lhes é dito, não têm poder
algum.
De seguida, transformou esse medo em raiva dirigida a uma variedade de objetos (sistema, imigrantes, muçulmanos, etc.) suficientemente grande para satisfazer todo o tipo de pessoas. Além disso, ele, Trump,
estava ali com a possibilidade de lhes dar a voz e o poder que elas sentem que
deixaram de ter. Deu, assim, a ilusão de que o desamparo podia deixar de existir.
E, principalmente, Trump ofereceu um sonho: Make America Great Again. As pessoas têm imensa fome de sonhos.
Especialmente, de sonhos pelos quais se possam transcender e ir para além das
suas vidas tristes, mesquinhas e assustadas. Além disso, com a palavra Again, as pessoas viram-se transformadas em
portadoras de uma tradição antiga, de um valor muito maior do que elas próprias. Numa época em que elas sentem, com amargura, que as tradições e os valores que lhes davam sentido às suas vidas se estilhaçaram, Trump veio trazer-lhes a promessa ilusória de um novo alento.
Por fim, ofereceu-se ele próprio para representar, ser
estandarte e liderar esse movimento em direção a este sonho.
Compreendemos que é difícil resistir. Apesar de sabermos (e de
ele saber!) que não se pode voltar para trás. Mais: que não queremos voltar para
trás!
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