“(…) Também não sou democrata. Acho que a política é
assunto demasiado sério para que o voto de um cretino possa valer o mesmo que o
voto de um cidadão esclarecido. (…)” (comentário de um respeitável comentador do
Facebook).
Três aspetos.
Primeiro, eu sou democrata. Mas não vivo numa democracia real.
Vivo num país da alegada “União Europeia” onde quem manda nos países são uns
todo-poderosos que nunca foram eleitos por ninguém e que não são responsabilizados
pelo que fazem (a nível mais local, a única exceção é a Islândia). E vivo num
país onde se considera normal ser-se eleito com um programa que, após as
eleições, é pura e simplesmente deitado ao lixo.
Quanto a mim, este regime é,
na sua essência, profundamente anti-democrático. Note-se que não penso que se
trate aqui de uma ditadura, apenas de uma não-democracia (o que não é pouco,
por que a interrogação que se segue é: estamos a caminhar para que tipo de regime?).
Em segundo lugar, admitamos que um governo possa ser
escolhido só por “cidadãos esclarecidos”. A “million dollar question” é: quem
os escolhe a eles? Olhando para a história, o que se pode ver é que “cretinos”
escolhem cretinos, corruptos escolhem corruptos, extremistas escolhem
extremistas, etc. Mais uma vez, por favor: quem escolhe os “cidadãos esclarecidos” com
direito a voto? Na minha opinião, ou não há resposta, ou esta, admitamo-lo, será, no mínimo, preocupante.
Em terceiro lugar, acredito num fenómeno estatístico, que é
a regressão à média: numa série de acontecimentos, os resultados tendem a
aproximar-se da média. Por exemplo, se eu lançar uma moeda 5 vezes ao ar, na
melhor das hipóteses pode dar 3 vezes cara e 2 vezes coroa (probabilidades de
60% e 40% respetivamente). Porém, é facílimo sair 4 vezes cara e 1 vez coroa
(80% e 20&, respetivamente). Ou seja, é facílimo o desequilíbrio
pronunciado.
Mas se for lançada 1000 vezes, é bem mais difícil acontecerem
estas percentagens. Digamos que poderão sair, por exemplo, 480 vezes cara e 520
vezes coroa, e aí temos uma aproximação à média: 48% e 52% respetivamente, já
muito próximos dos 50%. Ou seja, é mais difícil o desequilíbrio.
Então, eu prefiro que haja muita gente a votar porque,
apesar dos “cretinos”, os resultados tenderão para uma média, mesmo que de vez
em quando alguns deles sejam extremos.
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