(e em que eu teria gostado muito de ouvir a
opinião dos presentes)
Poder ou falta de poder das elites culturais. O tema foi
sugerido pela moderadora, Anabela Afonso, que convidou os presentes a
estabelecerem ligações com a eleição de Trump nos EUA (feito conseguido com um
discurso também contra as elites). Será que as elites culturais alguma vez
tiveram poder? Duvido. Elas foram acarinhadas, toleradas ou simplesmente
rejeitadas pelo poder. Penso que raramente lhes foi permitido participarem
desse poder. Claro que décadas ou séculos depois, o que fica é o que foi
produzido por essas elites, o que dá a sensação de que elas, na altura, possuíam
muito mais poder do que na realidade tinham. Um tema que ficou por explorar
mais aprofundadamente.
Elites dentro de elites. Dentro das próprias elites surgem
hierarquias, em que as que estão acima olham para as de baixo. Mas tenho dado
conta que raramente olham para cima e, por isso, cada nível vê-se a si mesmo
como árbitro mais ou menos indiscutível do bom gosto e do bem saber. Um tema
auto-reflexivo e, por isso, difícil de analisar e desenvolver, mas útil para
pensar sobre o papel e a responsabilidade na cultura, bem como os seus limites.
Efeito benéfico de haver elites. Isto é uma experiência
pessoal. Não é possível transmitir o prazer que sinto quando, face a um
elemento de uma elite cultural, eu me defronto com a minha ignorância e me é
proporcionada a partilha da sua forma de olhar, de saber e de usufruir. Como estou
a falar do ponto de vista pessoal, atrevo-me a destacar três de muitos exemplos
de contacto que me permitiram e continuam a permitir subir muito acima de mim;
e, sem os quais, eu talvez tivesse ficado muito abaixo de mim. Por ordem
cronológica: Vergílio Ferreira, Eduardo Prado Coelho e Frederico Lourenço. É
assim, sou um fã das elites: tornam-me melhor. Note-se que este tema foi aflorado
por vários dos palestrantes, com destaque para o relato de uma experiência no
Brasil de que foi testemunha o Prof. Dr. António Branco.
Efeito perigoso de não haver elites. Por mais elevado que
seja o nível cultural da população em geral, eu acredito na aspiração humana de
mais e melhor. Por isso, o desaparecimento de elites culturais, mesmo que pelas
melhores razões, parece-me que pode levar à estagnação e à morte. Sabe-se da biologia
que são os meios ambientes mais heterogéneos aqueles que têm melhores
capacidades de sobrevivência e de resistência. Sou a favor da heterogeneidade
cultural. Em consequência, sou também a favor do estabelecimento de valores
culturais (senão vale tudo o mesmo). Onde ambos existem, deverão existir
necessariamente elites culturais. Um tema também possivelmente controverso,
concordo.
2 comentários:
gostei de te ler :)
Obrigado, Luís. Estes encontros por vezes estimulam-me algumas reflexões. :)
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