Qual é a ideia que eu procuro que ilumine a maneira de eu tratar o meu filho?
É a interrogação seguinte:
"Eu procederia assim com um amigo meu?"
(Porque o meu filho não é menos, nem merece menos, que um amigo.)
Se a resposta for não, então estou a educá-lo mal e, além disso, com pouca amizade (já nem digo amor).
A vida. Tão pouco e tão tanto. (...) E todavia eu sei que "isto" nasceu para o silêncio sem fim... (Vergílio Ferreira)
domingo, março 28, 2004
segunda-feira, março 22, 2004
Sophia de Mello Breyner Andresen
"A memória longínqua de uma pátria
Eterna mas perdida e não sabemos
Se é passado ou futuro onde a perdemos"
Escrito em 2004?
Parece, mas não: em 1954, "No Tempo Dividido" (Editorial Caminho, edição definitiva de Novembro de 2003).
Professores em grupo
Em grupo, as pessoas tornam-se estranhas.
É habitual dizermos isso das multidões ou dos alunos (todos conhecemos o aluno que, individualmente, é de bom trato mas que, no grupo ou na turma, se torna absolutamente intratável).
E os professores? Infelizmente isto também se passa com eles.
Pessoas compassivas quando se trata de lidar com um aluno individualmente, são capazes de se tornarem ferozes ao lidarem com uma turma.
Ou que, sendo flexíveis no contacto pessoal com os alunos, junto de outros professores assumem atitudes rígidas chegando, por vezes, até à impiedade.
Sejamos claros: as reuniões de professores são cada vez mais um lugar atravessado por respirações vindas do deserto.
É habitual dizermos isso das multidões ou dos alunos (todos conhecemos o aluno que, individualmente, é de bom trato mas que, no grupo ou na turma, se torna absolutamente intratável).
E os professores? Infelizmente isto também se passa com eles.
Pessoas compassivas quando se trata de lidar com um aluno individualmente, são capazes de se tornarem ferozes ao lidarem com uma turma.
Ou que, sendo flexíveis no contacto pessoal com os alunos, junto de outros professores assumem atitudes rígidas chegando, por vezes, até à impiedade.
Sejamos claros: as reuniões de professores são cada vez mais um lugar atravessado por respirações vindas do deserto.
quinta-feira, março 18, 2004
Professores e mudança
Desde que se consiga não perceber, já não se tem de mudar: eis uma das principais tentações a que está sujeito um professor, essa, a de não perceber.
domingo, março 14, 2004
Silêncio?
Numa época em que todos se esforçam freneticamente por falar e ninguém tem a intenção sequer de ouvir, porque hão-de os alunos ver motivo para serem excepção?
Pensando bem, de facto, porque hão-de eles optar pelo silêncio? Ninguém o suporta realmente, ninguém o quer impor a si próprio, apenas quer impô-lo aos outros!
Pensando bem, de facto, porque hão-de eles optar pelo silêncio? Ninguém o suporta realmente, ninguém o quer impor a si próprio, apenas quer impô-lo aos outros!
A morte
A presença obsessiva da morte em todos os horizontes das crianças e dos jovens:
descaminhos da família, espectacularização permanente da dor e do sofrimento, marketings mórbidos (da sida, da violência, das toxicodependências, até do cigarro) - não há possibilidade de alheamento!
descaminhos da família, espectacularização permanente da dor e do sofrimento, marketings mórbidos (da sida, da violência, das toxicodependências, até do cigarro) - não há possibilidade de alheamento!
sexta-feira, março 12, 2004
Idade
A Derrota Definitiva que a idade nos inflige ocorre quando nos apercebemos da impossibilidade de sermos amados como desejaríamos.
É essa ferida de desesperança que nos faz acreditar em Deus, "Pai Nosso que estais no Céu..."
É essa ferida de desesperança que nos faz acreditar em Deus, "Pai Nosso que estais no Céu..."
terça-feira, março 09, 2004
Ainda a propósito de Exames
Cada vez mais me custa "engolir" os argumentos que justificam os exames.
Olho para os meus alunos a fazerem testes e cada vez mais me convenço que o exame é uma forma de submeter aqueles a quem queremos chantagear com o futuro. É por isso que qualquer ser humano razoável detesta ser obrigado a fazer exames.
Recordo, em particular, o primeiro ano das acções de formação com créditos: a reacção violenta e indignada dos professores quando souberam que iriam ser avaliados por teste escrito!
Um exame é um colete-de-forças, para alunos, para pais e para professores. O que pode ser uma vantagem. Mas para quem?
A existência de exames repousa a consciência daqueles para quem a diversidade é fonte de angústia.
Olho para os meus alunos a fazerem testes e cada vez mais me convenço que o exame é uma forma de submeter aqueles a quem queremos chantagear com o futuro. É por isso que qualquer ser humano razoável detesta ser obrigado a fazer exames.
Recordo, em particular, o primeiro ano das acções de formação com créditos: a reacção violenta e indignada dos professores quando souberam que iriam ser avaliados por teste escrito!
Um exame é um colete-de-forças, para alunos, para pais e para professores. O que pode ser uma vantagem. Mas para quem?
A existência de exames repousa a consciência daqueles para quem a diversidade é fonte de angústia.
domingo, março 07, 2004
quinta-feira, março 04, 2004
Hoje participei involuntariamente num espectáculo político organizado pela Câmara Municipal de Loures e pela esquadra da P.S.P. de Loures. Apareceu o Corpo de Intervenção com os seus cães. Ao observar estes e os agentes, seus "donos", lembrei-me destas palavras de Konrad Lorenz (famoso zoólogo, fundador da moderna etologia e Prémio Nobel em 1973):
"(...) Nietzsche, o qual, ao contrário da maioria das pessoas, usava a brutalidade somente como uma máscara para ocultar a verdadeira generosidade do seu coração, disse estas belas palavras: "Fazei que o vosso objectivo seja amar sempre mais do que o outro, e nunca ficar em segundo." Com os seres humanos, sou por vezes capaz de cumprir este mandamento, mas nas minhas relações com um cão fiel, fico sempre em segundo. (...)
(...) O facto de o meu cão me amar mais do que eu o amo a ele é inegável, e enche-me sempre dum certo sentimento de culpa. O cão está sempre pronto a dar a sua vida pela minha. Se um leão ou um tigre ameaçassem atacar-me, Ali, Bully, Tito, Stasi e todos os outros ter-se-iam, sem um momento de hesitação, lançado numa luta inglória para defender a minha vida, nem que fosse apenas por breves segundos. E eu?"
(LORENZ, Konrad. E o homem encontrou o cão..., Relógio d'Água, Lisboa, 1997 (pp.188-189)
"(...) Nietzsche, o qual, ao contrário da maioria das pessoas, usava a brutalidade somente como uma máscara para ocultar a verdadeira generosidade do seu coração, disse estas belas palavras: "Fazei que o vosso objectivo seja amar sempre mais do que o outro, e nunca ficar em segundo." Com os seres humanos, sou por vezes capaz de cumprir este mandamento, mas nas minhas relações com um cão fiel, fico sempre em segundo. (...)
(...) O facto de o meu cão me amar mais do que eu o amo a ele é inegável, e enche-me sempre dum certo sentimento de culpa. O cão está sempre pronto a dar a sua vida pela minha. Se um leão ou um tigre ameaçassem atacar-me, Ali, Bully, Tito, Stasi e todos os outros ter-se-iam, sem um momento de hesitação, lançado numa luta inglória para defender a minha vida, nem que fosse apenas por breves segundos. E eu?"
(LORENZ, Konrad. E o homem encontrou o cão..., Relógio d'Água, Lisboa, 1997 (pp.188-189)
Exames no 4º, 6º e 9º anos
Se for a única avaliação que conta para a passagem de ano considero estúpida esta medida.
Primeiro, porque os professores estão permanentemente submetidos a uma pressão legal enorme para passarem de ano o maior número possível de alunos. Com os exames, esta situação corresponde a fazer acelerar o camião à força e, só em cima do cruzamento, pôr travões a fundo. É estúpido isto.
Segundo, e usando outra metáfora: pelo facto da meta (o exame vai sê-lo) ser igual para todos considera-se a corrida justa - o pormenor de haver alunos que vão de carro, outros a pé, outros ainda de muletas é irrelevante: a meta é igual para todos, logo o sistema é justo. Isto também é estúpido.
Terceiro, o tipo de competências necessárias na vida real é praticamente impossível de ser avaliado num exame individual. Esperar o contrário também é estúpido.
Coitados dos muitos professores que, desesperados com a pressão imensa que sentem para passarem todos os seus alunos, vão acolher esta medida de braços abertos... É que o ministro e o governo não são estúpidos. Sim, eu sei, isto da ausência de estupidez nos nossos governantes é apenas uma hipótese, claro. Mas se ela for verdadeira, isto é, e se não for por estupidez que eles desejam introduzir os exames?...
Primeiro, porque os professores estão permanentemente submetidos a uma pressão legal enorme para passarem de ano o maior número possível de alunos. Com os exames, esta situação corresponde a fazer acelerar o camião à força e, só em cima do cruzamento, pôr travões a fundo. É estúpido isto.
Segundo, e usando outra metáfora: pelo facto da meta (o exame vai sê-lo) ser igual para todos considera-se a corrida justa - o pormenor de haver alunos que vão de carro, outros a pé, outros ainda de muletas é irrelevante: a meta é igual para todos, logo o sistema é justo. Isto também é estúpido.
Terceiro, o tipo de competências necessárias na vida real é praticamente impossível de ser avaliado num exame individual. Esperar o contrário também é estúpido.
Coitados dos muitos professores que, desesperados com a pressão imensa que sentem para passarem todos os seus alunos, vão acolher esta medida de braços abertos... É que o ministro e o governo não são estúpidos. Sim, eu sei, isto da ausência de estupidez nos nossos governantes é apenas uma hipótese, claro. Mas se ela for verdadeira, isto é, e se não for por estupidez que eles desejam introduzir os exames?...
terça-feira, março 02, 2004
No Dia da Festa da Raça, em Salamanca, no grande anfiteatro da Universidade, o general Milan Astray, mutilado de guerra, injuria a Catalunha e o País Basco, enquanto os seus partidários urram: «Viva a morte!»
Miguel de Unamuno ergue-se lentamente e diz:«Há circunstâncias em que calar-se é mentir. Acabo de ouvir um grito mórbido e destituído de sentido: Viva a morte! Este paradoxo bárbaro é-me repugnante. (...) Vencereis, porque possuis mais força bruta do que precisais. Mas não convencereis. Porque, para convencer, é preciso persuadir e para persuadir falta-vos a Razão e o Direito na luta. (...)» (Rossif, F., Chapsal, M. Morrer em Madrid, Livraria Bertrand, 1975)
Às vezes não se pede que façamos mais do que isto: levantarmo-nos e protestarmos.
Miguel de Unamuno ergue-se lentamente e diz:«Há circunstâncias em que calar-se é mentir. Acabo de ouvir um grito mórbido e destituído de sentido: Viva a morte! Este paradoxo bárbaro é-me repugnante. (...) Vencereis, porque possuis mais força bruta do que precisais. Mas não convencereis. Porque, para convencer, é preciso persuadir e para persuadir falta-vos a Razão e o Direito na luta. (...)» (Rossif, F., Chapsal, M. Morrer em Madrid, Livraria Bertrand, 1975)
Às vezes não se pede que façamos mais do que isto: levantarmo-nos e protestarmos.
Solidariedades
Solidariedade faz pleno sentido se o for com os oprimidos, com os mais fracos. Não faz sentido se o for com os fortes. Aí trata-se mais de sujeição ou confunde-se em demasia com esta para se lhe poder chamar solidariedade de consciência limpa. Isto parece ser relativamente claro.
Onde podem surgir dúvidas e realmente um problema é na seguinte questão: poderei ser solidário, na plena acepção da palavra, com um amigo quando ele é o mais forte? Também me parece claro que, num contexto de ilegalidade, a resposta terá de ser não, visto que, para isso, há outro nome, o de cúmplice (note-se que, num crime, o uso da palavra solidariedade a ser feito é-o exclusivamente pelo criminoso). E dentro da legalidade? A resposta, face ao que atrás foi dito, poderá então ser sim, posso ser solidário com um amigo quando ele é o mais forte, mas não em todas as situações.
(subjacente a este texto está uma reflexão sobre a posição do Governo Português na guerra ilegal do Iraque)
Onde podem surgir dúvidas e realmente um problema é na seguinte questão: poderei ser solidário, na plena acepção da palavra, com um amigo quando ele é o mais forte? Também me parece claro que, num contexto de ilegalidade, a resposta terá de ser não, visto que, para isso, há outro nome, o de cúmplice (note-se que, num crime, o uso da palavra solidariedade a ser feito é-o exclusivamente pelo criminoso). E dentro da legalidade? A resposta, face ao que atrás foi dito, poderá então ser sim, posso ser solidário com um amigo quando ele é o mais forte, mas não em todas as situações.
(subjacente a este texto está uma reflexão sobre a posição do Governo Português na guerra ilegal do Iraque)
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