Domingo à tarde: fui passear com a minha cadelinha, a Pirata. Aqui, a rua que vai dar à via rápida para Lisboa é estreita.
Olho e vejo um carro azul ainda afastado. Começo a atravessar a rua e um cãozito vem atrás da Pirata. Quando vou a meio oiço um motor e olho outra vez. Um carro cinzento vai a ultrapassar o azul em aceleração.
Note-se: ele (porque é que eu digo "ele"? Não vi quem ia a conduzir. Na verdade, porque não consigo imaginar uma mulher a fazer isto) viu-me; tenho 1,80 m e levava vestido roupas com cores claras.
Ele podia ter optado por não ultrapassar. Podia, mas não o fez.
Dou dois saltos para a berma e puxo com um esticão a trela da Pirata.
Eu safei-me; a Pirata, à justa, mas também se salvou. O cãozito que vinha atrás, não: foi apanhado.
Quando olho para trás, o carro cinzento acelera enquanto o azul buzina, buzina.
O cãozito, a ganir e a coxear, foge.
A vida. Tão pouco e tão tanto. (...) E todavia eu sei que "isto" nasceu para o silêncio sem fim... (Vergílio Ferreira)
segunda-feira, outubro 31, 2005
domingo, outubro 30, 2005
Porque sou membro da Amnistia Internacional
A minha ex-mulher chamou-me a atenção para isto:
é a única organização que defende e apoia aqueles que não se limitaram a ser simplesmente vítimas, mas que disseram não e actuaram de acordo com as suas palavras.
(à memória de Ingrid Betancourt, referida no Divas & Contrabaixos)
é a única organização que defende e apoia aqueles que não se limitaram a ser simplesmente vítimas, mas que disseram não e actuaram de acordo com as suas palavras.
(à memória de Ingrid Betancourt, referida no Divas & Contrabaixos)
Retratos de mulheres e de homens na literatura
Estou a ler "A Filha da Floresta", livro escrito por Juliet Marillier, no qual a minha personagem favorita é um homem, Finbar.
E ocorreu-me pensar (não sei se tenho razão, posso estar a ser injusto) que actualmente é muito difícil encontar um escritor que não revele o seu medo das mulheres. O mesmo já não acontece com as escritoras que são muito mais livres na apreciação que fazem dos homens.
Com os escritores vemos uma atitude perante as mulheres que vai desde a veneração (uma forma de medo, de qualquer modo), passando pela distância e pelo mistério, até ao rebaixamento. Alguns não conseguem mesmo esconder algo de próximo à misoginia, no seu sentido mais lato.
Veja-se, por exemplo, o caso de Arturo Pérez-Reverte. Nos livros que eu li (O Mestre de Esgrima, O Clube Dumas e O Cemitério Dos Barcos Sem Nome) há personagens masculinas boas e más; mas, femininas, praticamente, são sempre más!
No caso deste autor tenho pena e causa-me desconforto porque acho-o o escritor que melhor descreve a alma masculina (veja-se n'O Cemitério Dos Barcos...). Além disso, é um excelente escritor de aventuras.
Voltando à Filha da Floresta, há de facto uma grande doçura na descrição de algumas personagens masculinas. Eu, que cresci e me formei num tempo em que os homens eram suspeitos, quando não acusados, de serem todos uns Machos Porcos Chauvinistas, tenho de vos confessar: ler este livro tem-me feito sentir num oásis!
E ocorreu-me pensar (não sei se tenho razão, posso estar a ser injusto) que actualmente é muito difícil encontar um escritor que não revele o seu medo das mulheres. O mesmo já não acontece com as escritoras que são muito mais livres na apreciação que fazem dos homens.
Com os escritores vemos uma atitude perante as mulheres que vai desde a veneração (uma forma de medo, de qualquer modo), passando pela distância e pelo mistério, até ao rebaixamento. Alguns não conseguem mesmo esconder algo de próximo à misoginia, no seu sentido mais lato.
Veja-se, por exemplo, o caso de Arturo Pérez-Reverte. Nos livros que eu li (O Mestre de Esgrima, O Clube Dumas e O Cemitério Dos Barcos Sem Nome) há personagens masculinas boas e más; mas, femininas, praticamente, são sempre más!
No caso deste autor tenho pena e causa-me desconforto porque acho-o o escritor que melhor descreve a alma masculina (veja-se n'O Cemitério Dos Barcos...). Além disso, é um excelente escritor de aventuras.
Voltando à Filha da Floresta, há de facto uma grande doçura na descrição de algumas personagens masculinas. Eu, que cresci e me formei num tempo em que os homens eram suspeitos, quando não acusados, de serem todos uns Machos Porcos Chauvinistas, tenho de vos confessar: ler este livro tem-me feito sentir num oásis!
Estereótipo
Uma mulher pede-nos um conselho ou uma ajuda naquelas áreas que é suposto um homem a sério dominar (carros, computadores, etc).
O embaraço de percebermos tão pouco do assunto que nem dá para fingir.
E, perante a surpresa incrédula que vemos no seu olhar, ter de explicar a nossa total inépcia.
Custa.
O embaraço de percebermos tão pouco do assunto que nem dá para fingir.
E, perante a surpresa incrédula que vemos no seu olhar, ter de explicar a nossa total inépcia.
Custa.
quinta-feira, outubro 20, 2005
Fiz o Saint Exupery's 'The Little Prince' Quiz e saiu-me isto:
You are the drawing.
Não estava nada à espera, nem sequer concordo! Palavra que não compreendo como é que as minhas respostas deram nisto: misunderstood and forgotten? Por favor! (Isso... riam-se!!)
You are the drawing.
Não estava nada à espera, nem sequer concordo! Palavra que não compreendo como é que as minhas respostas deram nisto: misunderstood and forgotten? Por favor! (Isso... riam-se!!)
Tanto trabalho!
Não, não me estou a queixar porque eu gosto dos alunos e o trabalho burocrático deixo-o para o fim, não me metendo medo o não tê-lo feito.
A verdade é que tomei uma decisão no início deste ano lectivo: nunca mais vou trabalhar em minha casa!
Por outras palavras: nunca mais alugo ao Ministério da Educação, a custo zero, o metro quadrado da minha casa, o meu equipamento e os meus consumíveis! Ou seja, todo o meu trabalho será feito na escola.
Claro que tenho menos rendimento, são mais interrupções: pedidos de ajuda ou de opinião, equipamento indisponível, dificuldade em conseguir um espaço sossegado para trabalhar... porque o espaço para o meu material de apoio já o tenho: é a bagageira do meu carro (na escola tenho apenas um pequeno cacifo)!
Começando o dia às 8 da manhã, chego a casa às 6, 7 ou 8 da noite, em regra. Disponibilidade para ir ao computador é algo que a essa hora já me falta.
Ah, mas é tão bom entrar no meu, inteiramente meu, espaço, um espaço completamente protegido de todas as invasões (que se concretizavam por via do meu emprego)!!!
Não, não me estou a queixar porque eu gosto dos alunos e o trabalho burocrático deixo-o para o fim, não me metendo medo o não tê-lo feito.
A verdade é que tomei uma decisão no início deste ano lectivo: nunca mais vou trabalhar em minha casa!
Por outras palavras: nunca mais alugo ao Ministério da Educação, a custo zero, o metro quadrado da minha casa, o meu equipamento e os meus consumíveis! Ou seja, todo o meu trabalho será feito na escola.
Claro que tenho menos rendimento, são mais interrupções: pedidos de ajuda ou de opinião, equipamento indisponível, dificuldade em conseguir um espaço sossegado para trabalhar... porque o espaço para o meu material de apoio já o tenho: é a bagageira do meu carro (na escola tenho apenas um pequeno cacifo)!
Começando o dia às 8 da manhã, chego a casa às 6, 7 ou 8 da noite, em regra. Disponibilidade para ir ao computador é algo que a essa hora já me falta.
Ah, mas é tão bom entrar no meu, inteiramente meu, espaço, um espaço completamente protegido de todas as invasões (que se concretizavam por via do meu emprego)!!!
Quem espera sempre alcança: eis uma daquelas frases ou provérbios que todos sabemos serem quase sempre falsas.
Bom, não o foi para mim desta vez: nem eu sei bem como, mas algo tocou o seu coração e ela voltou para mim.
Eu, que não fugi dela nem a detestei (tirando os primeiros dias), estava pronto a recebê-la e a acolhê-la em mim. E a mostrar-lhe o quanto pode ser feliz comigo.
Mais não consigo dizer porque, sem trair a nossa privacidade, não encontro palavras que dêem uma ideia ainda que aproximada do que estou a viver.
Bom, não o foi para mim desta vez: nem eu sei bem como, mas algo tocou o seu coração e ela voltou para mim.
Eu, que não fugi dela nem a detestei (tirando os primeiros dias), estava pronto a recebê-la e a acolhê-la em mim. E a mostrar-lhe o quanto pode ser feliz comigo.
Mais não consigo dizer porque, sem trair a nossa privacidade, não encontro palavras que dêem uma ideia ainda que aproximada do que estou a viver.
domingo, outubro 09, 2005
Partilha
Amor, poemas e fotos,
tudo de uma beleza tão delicada e sensual que, por vezes, chega a doer.
No Plan(o)Alto de O'Sanji.
tudo de uma beleza tão delicada e sensual que, por vezes, chega a doer.
No Plan(o)Alto de O'Sanji.
Tempo, amigos e John Irving
Ando mesmo com falta de tempo.
Com o acréscimo de trabalho que o Governo proporcionou aos professores, mais aquele que a minha escola achou que eu podia aguentar de cara alegre (para não falar do de "dona de casa"), só me restam duas alternativas para os meus tempos livres: ou estou com os meus amigos em carne e osso ou estou com os meus amigos "virtuais". Sentei-me agora para estar um bocadinho com estes últimos.
E para que não fique deste post só esta choraminguice, aqui vão alguns excertos de um livro começado em Agosto e só agora terminado, The Cider House Rules, de John Irving:
(A propósito de uma foto pornográfica encontrada numa casa para trabalhadores sazonais dormirem, junto à cama de um deles)
"This was what caused Homer the sharpest pain, to imagine the tired man in the bunkroom at St. Cloud's, drawn to this woman and this pony because he knew of no friendlier image - no baby pictures, no mother, no father, no wife, no lover, no brother, no friend."
"What is hardest to accept about the passage of time is that the people who once mattered the most to us are wrapped up in parentheses."
"(...) a nonpractising homosexual; it struck him as a brilliant accusation to make of anyone who was slightly (or hugely) different. It was the best rumour to start about anyone because it could never be proved or disproved."
"And the thing about being in love is that you can't force anyone. It's natural to want someone you love to do what you want, or what you think it would be good for them, but you have to let everything happen to them."
Com o acréscimo de trabalho que o Governo proporcionou aos professores, mais aquele que a minha escola achou que eu podia aguentar de cara alegre (para não falar do de "dona de casa"), só me restam duas alternativas para os meus tempos livres: ou estou com os meus amigos em carne e osso ou estou com os meus amigos "virtuais". Sentei-me agora para estar um bocadinho com estes últimos.
E para que não fique deste post só esta choraminguice, aqui vão alguns excertos de um livro começado em Agosto e só agora terminado, The Cider House Rules, de John Irving:
(A propósito de uma foto pornográfica encontrada numa casa para trabalhadores sazonais dormirem, junto à cama de um deles)
"This was what caused Homer the sharpest pain, to imagine the tired man in the bunkroom at St. Cloud's, drawn to this woman and this pony because he knew of no friendlier image - no baby pictures, no mother, no father, no wife, no lover, no brother, no friend."
"What is hardest to accept about the passage of time is that the people who once mattered the most to us are wrapped up in parentheses."
"(...) a nonpractising homosexual; it struck him as a brilliant accusation to make of anyone who was slightly (or hugely) different. It was the best rumour to start about anyone because it could never be proved or disproved."
"And the thing about being in love is that you can't force anyone. It's natural to want someone you love to do what you want, or what you think it would be good for them, but you have to let everything happen to them."
quarta-feira, outubro 05, 2005
Fazer sorrir
Quando uma mulher sorri, do fundo do coração, o mundo renasce.
(Pelo menos para nós, homens)
Por isso, fazer uma mulher chorar é realmente um crime.
(Pelo menos para nós, homens)
Por isso, fazer uma mulher chorar é realmente um crime.
domingo, outubro 02, 2005
Escrever
Às vezes imagino-me a escrever um post sobre um assunto do qual não percebo nada. Assistir à saída de um conjunto desconexo de ideias e de palavras a partir desse vazio. E ver nelas, de repente, um sentido claro e luminoso!
Que assuntos?
O amor, claro.
Mas também a compaixão.
E a inocência.
Que assuntos?
O amor, claro.
Mas também a compaixão.
E a inocência.
Insistir no mesmo à espera que os resultados venham a ser, por milagre, diferentes do que sempre foram?
Continuar a manter o mesmo objectivo de vida que não só nunca nos trouxe qualquer felicidade duradoura como ainda carregou a nossa vida com prolongados períodos de dor?
Isto não é coerência, nem coragem, nem nada, soa é um bocado a vida estúpida, não soa?
Continuar a manter o mesmo objectivo de vida que não só nunca nos trouxe qualquer felicidade duradoura como ainda carregou a nossa vida com prolongados períodos de dor?
Isto não é coerência, nem coragem, nem nada, soa é um bocado a vida estúpida, não soa?
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