Acabado de reler. O livro de Camus que mais tinha falado à minha sensibilidade na minha juventude. Hoje pergunto-me: foi o livro que me fez, ou fui eu que caminhei sempre a par dele, mesmo que sem consciência disso?
Alguém um dia disse que uma literatura de boas intenções é uma má literatura. Quem leia este livro tentando ser razoável, conclui que é disto que se trata. Quem lê com os olhos do espírito, percebe que há aqui muito mais do que isso. Há a morte, a amizade, a memória, a solidão, ou seja, a vida sempre ameaçada. E há os que lutam porque têm de lutar para que a injustiça não tenha razão, em suma lutam para serem homens.
Gostaria muito de falar deste livro como ele merece, mas não estou de todo à altura dele e, por isso, calo-me. Mas o meu silêncio vem de uma adesão profunda a este homem, Camus, que soube escrever sobre o que é tentar ser verdadeiramente humano.
"Mas, no entanto, sabia que esta crónica não podia ser a da vitória definitiva. Podia apenas ser o testemunho do que tinha sido necessário realizar e que, sem dúvida, deveriam realizar ainda, contra o terror e a sua arma infatigável, a despeito das suas dores pessoais, todos os homens que, não podendo ser santos e recusando-se a admitir os flagelos, se esforçam, no entanto, por ser médicos."
Ou enfermeiros, ou bombeiros, ou voluntários, ou professores...
A vida. Tão pouco e tão tanto. (...) E todavia eu sei que "isto" nasceu para o silêncio sem fim... (Vergílio Ferreira)
domingo, junho 25, 2006
sábado, junho 24, 2006
O dilema
Por um lado querer afastar o sintoma, desfazendo o «nó» que o provoca.
Por outro, sentir-se satisfeito por ter resolvido o problema (ainda que tendo pago o preço de ter um sintoma não desejado) e a relutância ou medo em voltar à situação anterior.
Por outro, sentir-se satisfeito por ter resolvido o problema (ainda que tendo pago o preço de ter um sintoma não desejado) e a relutância ou medo em voltar à situação anterior.
terça-feira, junho 20, 2006
Que direito?...
O contraste entre as minhas imperfeições e as minhas exigências de felicidade!
A imodéstia: convicto de um direito à felicidade! (1)
Apesar de tudo, certos momentos de consciência desse abismo rasgado à minha volta.
E o desejo de dormir, longamente dormir.
Para harmonizar a leveza com a esperança.
(1) Não fosse essa arrogância e saberia que apenas me é permitido conquistar a alegria... e, mesmo assim, sem nunca nela me poder instalar e descansar!
A imodéstia: convicto de um direito à felicidade! (1)
Apesar de tudo, certos momentos de consciência desse abismo rasgado à minha volta.
E o desejo de dormir, longamente dormir.
Para harmonizar a leveza com a esperança.
(1) Não fosse essa arrogância e saberia que apenas me é permitido conquistar a alegria... e, mesmo assim, sem nunca nela me poder instalar e descansar!
domingo, junho 18, 2006
A minha opção
O meu lado é o dos fracos.
Mas sou consequente: há-de ser sempre o lado oposto ao e longe do poder.
Que não ambiciono nem desprezo, apenas receio.
E que, lamentavelmente, não combato: pois que tenho eu para lhe fazer frente?
Mas sou consequente: há-de ser sempre o lado oposto ao e longe do poder.
Que não ambiciono nem desprezo, apenas receio.
E que, lamentavelmente, não combato: pois que tenho eu para lhe fazer frente?
sexta-feira, junho 16, 2006
Cegueira
Um mistério rodeia todos os seres.
Depois, não há mistério nenhum.
São as infinitas faces do sofrimento que não somos capazes de aceitar.
Ou as da alegria que não conseguimos reconhecer.
Mais nada.
Depois, não há mistério nenhum.
São as infinitas faces do sofrimento que não somos capazes de aceitar.
Ou as da alegria que não conseguimos reconhecer.
Mais nada.
Dever
Para ser generoso com o amor que alguns me dedicam, e não ingrato, tenho a obrigação moral de não me desconsiderar seja de que forma for.
Morte
Abomino-a pela devastação para a qual arrasta os vivos.
Por isso, ser-me-á sempre impossível o suicídio, embora condescenda a pensá-lo com brandura. Como se de um alívio se tratasse.
Por isso, ser-me-á sempre impossível o suicídio, embora condescenda a pensá-lo com brandura. Como se de um alívio se tratasse.
quinta-feira, junho 15, 2006
Greve
Antes de passar às reflexões que pretendo fazer, que fique claro:
Fiz greve porque quis mostrar que não estou no lado onde a sra. ministra me quer colocar!
E que não estou, nem estarei nunca, ao lado de alguém que não percebe que vencer o adversário do modo como a sra. minstra o procura fazer, isto é, recorrendo à razão do ódio e da força bruta, acaba por gerar uma humilhação tal que torna a sua equívoca vitória tão esquálida e amarga como se fosse uma derrota.
Porque faço quase sempre greve?
Primeiro, sem dúvida nenhuma, porque me sinto mais irmanado com os que lutam do que com os que não lutam - penso que se trata de uma fidelidade do coração.
Segundo, por causa da minha invencível simpatia pelas causas perdidas. Além de que aceito melhor o sabor da derrota com luta, do que sem ela (lembram-se os mais antigos da Palmira Bastos: "... porque as árvores morrem de pé!"?)
O que sinto em relação aos que não fazem greve?
Um medo quase infantil de fazer algo que é sempre objecto de reprovação social (a greve),
uma certa pobreza humilde,
uma fraqueza feminilmente submissa,
um esforço, heróico por vezes, de manter uma postura digna (sabendo no seu íntimo que estão a trair),
são traços que encontro nos que não fazem greve e que, se não os desculpam completamente, fazem com que, pelo menos, eu não os condene!
(para mais que acabo por partilhar com eles alguns destes traços, só que faço a greve)
Fiz greve porque quis mostrar que não estou no lado onde a sra. ministra me quer colocar!
E que não estou, nem estarei nunca, ao lado de alguém que não percebe que vencer o adversário do modo como a sra. minstra o procura fazer, isto é, recorrendo à razão do ódio e da força bruta, acaba por gerar uma humilhação tal que torna a sua equívoca vitória tão esquálida e amarga como se fosse uma derrota.
Porque faço quase sempre greve?
Primeiro, sem dúvida nenhuma, porque me sinto mais irmanado com os que lutam do que com os que não lutam - penso que se trata de uma fidelidade do coração.
Segundo, por causa da minha invencível simpatia pelas causas perdidas. Além de que aceito melhor o sabor da derrota com luta, do que sem ela (lembram-se os mais antigos da Palmira Bastos: "... porque as árvores morrem de pé!"?)
O que sinto em relação aos que não fazem greve?
Um medo quase infantil de fazer algo que é sempre objecto de reprovação social (a greve),
uma certa pobreza humilde,
uma fraqueza feminilmente submissa,
um esforço, heróico por vezes, de manter uma postura digna (sabendo no seu íntimo que estão a trair),
são traços que encontro nos que não fazem greve e que, se não os desculpam completamente, fazem com que, pelo menos, eu não os condene!
(para mais que acabo por partilhar com eles alguns destes traços, só que faço a greve)
quarta-feira, junho 14, 2006
Da decisão sobre o Bem e o Mal
Na infância, o meu pai (era principalmente o meu pai) dizia-me o que estava bem e o que estava mal. Quando percebi que o que para uns era mal, para outros era bem, e vice-versa, foi um choque!
Há tanta gente que, por exercício de poder, pretende impor-me a sua visão do bem e do mal que, aí, iniciei uma longa luta para conseguir eu discernir por mim próprio alguma coisa sobre o assunto.
Actualmente luto contra:
- a nostalgia fortíssima do conforto infantil que representa ter alguém a dizer-me o que devo decidir; defendo-me, fechando-me (não vejo tv, leio poucos jornais e nos blogs leio opiniões de quadrantes contrários).
- a tendência de decidir sempre e cegamente contra a maioria, da qual desconfio visceralmente.
- a dificuldade em, pessoalmente e face a face, encarar a possível perda de estima dos que me rodeiam.
- a propensão para levar a sério quem não tem nada para dizer mas que, mesmo assim, o diz.
Há tanta gente que, por exercício de poder, pretende impor-me a sua visão do bem e do mal que, aí, iniciei uma longa luta para conseguir eu discernir por mim próprio alguma coisa sobre o assunto.
Actualmente luto contra:
- a nostalgia fortíssima do conforto infantil que representa ter alguém a dizer-me o que devo decidir; defendo-me, fechando-me (não vejo tv, leio poucos jornais e nos blogs leio opiniões de quadrantes contrários).
- a tendência de decidir sempre e cegamente contra a maioria, da qual desconfio visceralmente.
- a dificuldade em, pessoalmente e face a face, encarar a possível perda de estima dos que me rodeiam.
- a propensão para levar a sério quem não tem nada para dizer mas que, mesmo assim, o diz.
sábado, junho 10, 2006
Uma pena na tempestade
“A este país tenho que agradecer todo o lado escuro da minha experiência.”
(Cruzeiro Seixas, JL, 10-23 de Maio de 2006)
A proposta de Estatuto da Carreira Docente apresentada por este Governo assenta em duas ideias-chave:
1ª, Quanto mais se humilhar e se assustar o professor mais cumpridor ele se torna.
2ª, O que motiva verdadeiramente um professor é a ganância e a sede de poder.
Ambas as ideias me passam ao lado.
A 1ª porque não preciso disto para ser cumpridor. Até tenho sido entusiasta das reformas que o Ministério da Eucação tem entendido aplicar ao ensino: porque sempre estive aberto à novidade e à procura de soluções para os problemas.
Quanto à 2ª, se eu fosse sensível a ela, não estaria a dar aulas; com o curso de engenharia civil (média de 14 no IST), teria hipóteses a esse nível muito mais interessantes. Mas mesmo assim analisemo-la:
- Ganância: Ao longo da vida tenho vindo a descobrir que não só o essencial de uma vida, mas também o simplesmente importante, não passa pelos bens materiais (para além de não os poder levar comigo quando morrer). Por isso, apenas preciso do mínimo necessário a uma vida digna. O meu actual ordenado (correspondente ao 7º escalão) é mais do que suficiente para isso. Não vou lutar por mais.
- Sede de poder: Cargos de chefia só os aceitei quando não havia nenhuma outra alternativa. É que sou avesso ao poder, a todas as formas de poder. Apenas uma vez aceitei chefiar o departamento de Matemática, porque a direcção da escola da altura proporcionava um tal clima de abertura, de liberdade e de respeito que eu me senti entusiasmado para avançar. Além de que o departamento tinha professores muito participativos e interessados. Acabou como acabam sempre estas coisas. Fiquei radicalmente alérgico a qualquer cargo de chefia. Não posso deixar de sentir simpatia pela actual proposta que me faz o favor de eu nunca mais ter de me preocupar com a possibilidade de me atribuirem um desses cargos.
Gostaria que as coisas fossem diferentes? Claro que sim, às vezes ainda chego a sonhar. Mas sei que tal não é possível dado o grau de desenvolvimento cívico da maioria dos portugueses... de quem a ministra, aliás, se tem vindo a revelar uma perfeita representante (daí a imensidão de adesões entusiastas que o seu discurso tem suscitado).
Faço minhas as palavras de Cruzeiro Seixas.
(Cruzeiro Seixas, JL, 10-23 de Maio de 2006)
A proposta de Estatuto da Carreira Docente apresentada por este Governo assenta em duas ideias-chave:
1ª, Quanto mais se humilhar e se assustar o professor mais cumpridor ele se torna.
2ª, O que motiva verdadeiramente um professor é a ganância e a sede de poder.
Ambas as ideias me passam ao lado.
A 1ª porque não preciso disto para ser cumpridor. Até tenho sido entusiasta das reformas que o Ministério da Eucação tem entendido aplicar ao ensino: porque sempre estive aberto à novidade e à procura de soluções para os problemas.
Quanto à 2ª, se eu fosse sensível a ela, não estaria a dar aulas; com o curso de engenharia civil (média de 14 no IST), teria hipóteses a esse nível muito mais interessantes. Mas mesmo assim analisemo-la:
- Ganância: Ao longo da vida tenho vindo a descobrir que não só o essencial de uma vida, mas também o simplesmente importante, não passa pelos bens materiais (para além de não os poder levar comigo quando morrer). Por isso, apenas preciso do mínimo necessário a uma vida digna. O meu actual ordenado (correspondente ao 7º escalão) é mais do que suficiente para isso. Não vou lutar por mais.
- Sede de poder: Cargos de chefia só os aceitei quando não havia nenhuma outra alternativa. É que sou avesso ao poder, a todas as formas de poder. Apenas uma vez aceitei chefiar o departamento de Matemática, porque a direcção da escola da altura proporcionava um tal clima de abertura, de liberdade e de respeito que eu me senti entusiasmado para avançar. Além de que o departamento tinha professores muito participativos e interessados. Acabou como acabam sempre estas coisas. Fiquei radicalmente alérgico a qualquer cargo de chefia. Não posso deixar de sentir simpatia pela actual proposta que me faz o favor de eu nunca mais ter de me preocupar com a possibilidade de me atribuirem um desses cargos.
Gostaria que as coisas fossem diferentes? Claro que sim, às vezes ainda chego a sonhar. Mas sei que tal não é possível dado o grau de desenvolvimento cívico da maioria dos portugueses... de quem a ministra, aliás, se tem vindo a revelar uma perfeita representante (daí a imensidão de adesões entusiastas que o seu discurso tem suscitado).
Faço minhas as palavras de Cruzeiro Seixas.
terça-feira, junho 06, 2006
Quando chego à janela...
... de manhã levanto o olhar para o céu, de tarde baixo-o para a rua.
De manhã, espero a ascensão.
De tarde, procuro uma consolação nas pessoas que passam.
De manhã, espero a ascensão.
De tarde, procuro uma consolação nas pessoas que passam.
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