"O que se perdeu? Tudo, ou quase tudo. Perdeu-se a oportunidade de capitalizar a força demonstrada pelos professores, nos idos de Março. Perdeu-se o momento oportuno para reclamar a dignidade profissional longo tempo espezinhada por uma tutela sem escrúpulos. E perdeu-se sobretudo a força necessária para lutar por uma escola mais justa e de melhor qualidade."
(jcsmadureira in sabores do saber)
"(...)
A actuação política deste Governo e desta ministra produziu diplomas (estatuto de carreira, avaliação do desempenho, gestão das escolas e estatuto do aluno) que envergonham aquisições civilizacionais mínimas da nossa sociedade.
A rede propagandística que montaram procurou denegrir os professores por forma antes inimaginável.
Cortar, vergar, fechar foram desígnios que os obcecaram.
Reduziram salários e escravizaram com trabalho inútil.
Burocratizaram criminosamente.
Secaram o interior, fechando escolas aos milhares.
Manipularam estatísticas.
Abandalharam o ensino com a ânsia de diminuir o insucesso.
Chamaram profissional a uma espécie de ensino cuja missão é reter na escola, a qualquer preço, os jovens que a abandonavam precocemente.
Contrataram crianças para promover produtos inúteis.
Aliciaram pais com a mistificação da escola a tempo inteiro (que sociedade é esta em que os pais não têm tempo para estar com os filhos? Em que crianças passam 39 horas por semana encerradas numa escola e se aponta como progresso reproduzir o esquema no secundário, mas elevando a fasquia para as 50 horas?).
Foram desumanos com professores nas vascas da morte e usaram e deitaram fora milhares de professores doentes (depois de garantir no Parlamento que não o fariam).
Promoveram a maior iniquidade de que guardo recordação com o deplorável concurso de titulares.
Enganaram miseravelmente os jovens candidatos a professores e avacalharam as instituições de ensino superior com a prova de acesso à profissão.
Perseguiram.
Chamaram a polícia.
Incitaram e premiaram a bufaria.
Desrespeitaram impunemente a lei que eles próprios produziram.
Driblaram leis fundamentais do país.
Com grande despudor político, passaram sem mossa por sucessivas condenações em tribunais.
Fizeram da imposição norma e desrespeitaram continuadamente a negociação sindical.
Reduziram a metade os gastos com a Educação, por referência ao PIB.
No que era essencial, no que aumentaria a qualidade do ensino, não tocaram, a não ser, uma vez mais, para cortar e diminuir a exigência e castrar o que faz pensar e questionar.
(...)"
(Santana Castilho, Público, 16 de Abril)
(retirado do mesmo sabores do saber)
*Philip Roth
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