domingo, outubro 12, 2008

Admirável Mundo Novo

Imaginemos uma pessoa, QUALQUER PESSOA, que às 8 e pouco da manhã tem de estar sentada numa desconfortável cadeira de pau durante hora e meia, ao frio ou ao calor excessivos, sem poder falar nem se mexer à vontade.
Depois levanta-se durante 20 minutos, para voltar a estar sentada mais hora e meia nas mesmas condições anteriores.
Interrupção de 10 minutos, e volta ao mesmo.
Entretanto é uma e tal da tarde e tem hora e meia para, cheia de fome, estar numa fila a fim de comer o seu almoço (às vezes a correr... e sempre na mesma cadeira de pau).
Às 3 e pouco volta a ter de sentar por mais hora e meia nas mesmas condições da manhã.
Os alunos do turno da tarde têm isto ao contrário, mas até às 6 e meia ou 7 da tarde.

Pergunto: quem aguenta?
Posso responder por mim: eu não aguento.
No entanto, é isto a que obrigamos diariamente miúdos e miúdas de pouco mais de 10 anos, exigindo ao mesmo tempo que estejam sempre calmos, atentos e que trabalhem empenhadamente!
Mas ninguém vê que isto é um monstruoso absurdo!?

Alguém consegue manter-se calmo horas seguidas numa cadeira de pau, dia após dia, durante uma semana inteira? Obviamente que a resposta a esta pergunta é não.

Então qual é a solução que a nossa sociedade está a encontrar para este absurdo?
Não, não é diminuir estas horas intermináveis em condições desumanas.
É drogá-los.
Sim, DROGÁ-LOS!

De ano para ano são cada vez mais alunos (a maioria são rapazes) a serem medicados com Ritalina (alguns efeitos secundários: perda de apetite, irritabilidade, depressão, dificuldade em dormir, dores de cabeça, ou mesmo morte), a fim de poderem estar parados e calmos nas salas de aula!
Porque "sofrem de hiperactividade", expressão aberrante da nossa modernidade! Como se naquelas condições fosse possível ser-se outra coisa saudável que não hiperactivo!

Já se chama a esta geração a Geração Ritalina.
É esta a parte mais vergonhosa da herança que deixamos para o futuro: drogar crianças...

3 comentários:

Xantipa disse...

A descrição que faz é muito verdadeira, mas deixe-me que lhe diga que acho que o problema não estará nas cadeiras de pau, onde todos nos sentámos. Há muito mais por detrás daquilo a que agora chamam hiperactividade. Sempre houve crianças irrequietas, mas agora não se consegue lidar com isso. Penso, na minha ignorância, que terá a ver com a falta de actividade. Isto é, dantes, nos intervalos e depois das aulas, brincava-se, corria-se, subia-se a árvores, jogava-se à apanhada, às escondidas, ao elástico, ao ringue, à bola, andava-se de bicicleta, de carrinhos de rolamentos (que tinham de ser construídos), enfim... a energia ia-se.
Agora, sentados nos sofás a jogar playstation, chegam à escola e não se aguentam ali parados.
Esta minha «análise» não tem fundamento científico, mas é parte do que penso sobre isto.
Depois da perspectiva que apresentou, espero que consiga ter uma boa semana...
Beijinho

Anónimo disse...

Tem certamente razão, Adriana. No entanto, no nosso tempo era no máximo 50 minutos, recorda-se? E o total dos intervalos ascendia a 40 minutos.
Assim acho mesmo que uma grande parte do problema está é nas "doses" de 90 minutos de cada vez.

Xantipa disse...

É verdade. Tem razão: eram períodos de 50 minutos.